O confronto entre representantes dos governos estadual e federal contra líderes de facções criminosas em todo o País impacta diretamente na rotina do sistema carcerário. Em comum, familiares de agentes penitenciários e de detentos convivem com o medo e a incerteza de sobreviver ao barril de pólvora em que se tornou cada uma das unidades prisionais.
Na contramão dos investimentos em serviços de inteligência e tecnologia de ponta para auxiliar as investigações e mapeamento das facções existentes no Brasil, na prática, agentes penitenciários aguardam apenas viaturas e equipamentos para trabalhar com a estrutura mínima adequada.
A pesquisa "Operários do cárcere", concluída no ano passado pelo Sindicato dos Agentes Penitenciários do Paraná (Sindarspen), apontou que grande parte dos profissionais (73%) sofre ameaças, se sente estressada, insegura e não consegue se desligar do trabalho. Conforme o vice-presidente do sindicato, José Roberto Neves, pouco mais de 3,4 mil agentes atuam nas unidades do Paraná. A defasagem de profissionais chega a 1,6 mil servidores. Segundo o relatório, em 2014, a maior parte dos afastamentos dos servidores da categoria ocorreu em razão de tratamentos médicos de doenças ligadas a transtornos mentais e comportamentais.
"Há um índice absurdo de jovens com transtorno mental, com quadro de depressão e que tomam medicamentos há muito tempo, há muitos suicídios de agentes... As condições precárias prejudicam também a vida pessoal. Estão acabando com a vida do agente penitenciário", ressalta.
O chefe do Depen, Luiz Alberto Cartaxo de Moura, informou que a Sesp tem repassado armamento e coletes para os agentes penitenciários. Recentemente, o secretário de Segurança Pública, Wagner Mesquita, declarou que, no final de 2014, os agentes ganharam o direito ao porte de arma.
Entre dezembro de 2013 e dezembro de 2015, o sindicato contabilizou 28 rebeliões nos presídios do Paraná. Ao todo, 57 agentes foram feitos reféns. Entre 2007 e 2016, 17 profissionais foram assassinados, sete deles trabalhavam em Londrina. A última vítima foi o agente penitenciário Thiago Borges de Carvalho, de 33 anos, morto na tarde de 20 de dezembro após deixar a unidade 2 da Penitenciária Estadual de Londrina (PEL) 2. O crime ocorreu a menos de um quilômetro de distância da unidade prisional. Carvalho era um dos integrantes do Serviço de Operações Especiais (SOE). "Ele trabalhava com o uniforme que ele comprou, com a arma que ele comprou e com um carro todo fragilizado que o Estado cedeu. […] Não consigo enxergar um cidadão que se sente seguro quando as forças de segurança estão sendo assassinadas", afirma Neves. O caso é investigado pela Polícia Civil.
Há dez anos na profissão, um dos agentes penitenciários conta que já perdeu três amigos assassinados. "Eu também sofri ameaças, já fui perseguido, já pegaram grampo telefônico com ameaças de morte. A gente vai trabalhar e se sente mais seguro dentro da cadeia do que na rua", relata.
"Nós estamos em contato direto com os presos todos os dias. Ele vai lembrar da nossa cara na hora em que ele dorme, na hora em que ele acorda e em todos os momentos. A imagem que ele tem do Estado opressor é a nossa", lembra. Apesar das condições precárias, a situação financeira pesa na hora de analisar uma possível mudança de carreira.