O ensino fundamental de nove anos começou a ser implantado em Londrina em 2009, quando o município apresentava nota de 5,7 no Índice de Desenvolvimento de Educação Básica (Ideb) aplicado aos alunos do último ano do primeiro ciclo fundamental, na época chamado de 4ª série. No ano passado, a nota do município passou para 6,5, indicando ganhos atrelados à mudança. Outro indicativo é a taxa de reprovação no 2º ano, que caiu de 8,15% em 2005 para 3,49% em 2015.
Apesar dos ganhos nos resultados, dez anos após a aprovação da lei o tema ainda gera confusão nas famílias das crianças em idade de ingressar no 1º ano. Isso porque, conforme a secretária municipal de Educação Janet Thomas, o objetivo da mudança foi incluir um ano a mais no início do fundamental e não no final. "O 1º ano atual é o antigo pré", explica.
A medida, segundo ela, visa garantir a todas as crianças o direito de desenvolver a chamada "prontidão" para a alfabetização. Há dez anos, as crianças que não cursavam a pré-escola – não obrigatória até então – entravam na 1ª série sem contato com as letras e outros estímulos para aprenderem a ler e escrever. E mesmo entre os que faziam o pré, havia uma ruptura no processo e o trabalho se perdia. "O fundamental de nove anos visa manter as crianças na mesma escola durante todo o processo de alfabetização, previsto para durar três anos", esclarece.
Com o acréscimo de um ano, foi possível uniformizar a alfabetização em três fases: a prontidão, o entendimento do processo por parte dos alunos e a consolidação, que ocorre até o 3º ano. "Nesta fase, mais ou menos aos 8 anos, 90% a 95% das crianças já devem saber ler e escrever", diz, destacando que o conceito de "estar alfabetizado" também passou por mudanças. "Não se trata mais de apenas decodificar as letras, mas escrever e compreender um texto", diz.
Com a oferta de igualdade de condições aos alunos da rede pública, caiu a taxa de reprovação, que há 20 anos era de até 70% no município. "A criança entrava na 1ª série sem jamais ter visto uma letra, não se alfabetizava, reprovava e iniciava a vida escolar estigmatizada", lembra.
Janet destaca que o chamado "corte etário" também provoca dúvidas nas famílias. No Paraná, devem ser matriculados no 1º ano os alunos com 6 anos completos até 31 de março. Nas escolas particulares, uma liminar garante o direito de matricular crianças que completarão 6 anos até o final do ano. A secretária esclarece, porém, que uma decisão judicial em segunda instância determinou que a decisão final sobre o tema seja de responsabilidade dos educadores, ou seja, cabe à escola decidir se realiza ou não a matrícula.
Entre os especialistas, há consenso que antecipar o ingresso no ensino fundamental pode ser prejudicial aos estudantes. "É preciso estar maduro para a alfabetização", analisa, ponderando que as maiores dificuldades aparecem quando a criança precisa do pensamento abstrato para os conteúdos de matemática, tanto no 4º como no 8º ano. "Em educação, velocidade não é qualidade", pondera. Os efeitos da antecipação da entrada na escola são observados também na organização do aluno, que muitas vezes chega ao fundamental 2 sem maturidade sequer para organizar a mochila, cumprir compromissos e estabelecer prioridades.
Os pais, normalmente, agem com ansiedade em relação ao assunto por acreditarem que a criança que se alfabetiza cedo é "mais inteligente". "É preciso que as famílias entendam que a pressa pode prejudicar seus filhos", avisa. (C.A.)