Imagem ilustrativa da imagem LOGÍSTICA - Rotina complicada para quem precisa voar
| Foto: Gina Mardones/30-05-2016
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| Foto: Gustavo Carneiro
Alexandre Campinha, dono de agência de turismo: "Com a retirada de voos para o aeroporto de Guarulhos, será mais difícil montar conexões"
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| Foto: Celso Pacheco
"Muitas vezes tive que alugar um carro e pegar a estrada até São Paulo para garantir pelo menos meio dia de trabalho", diz o consultor empresarial Luís Carlos Mozzato




No meio do jogo de empurra entre companhias aéreas, entidades e governo do Estado, quem precisa de mobilidade aérea para ganhar a vida já enfrenta muitos problemas para conseguir cumprir compromissos. É o caso do consultor empresarial Luís Carlos Mozzato, que mora em Londrina mas atende clientes em São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Campinas, Curitiba e Belo Horizonte. Sem opções de voos e com histórico de atrasos e cancelamentos constantes causados pela falta do ILS no aeroporto local, ele contabiliza prejuízos na vida profissional e pessoal.
O consultor conta que mantinha um esquema de trabalhar fora de Londrina de terça a sexta-feira, todas as semanas, reservando o fim de semana e a segunda-feira para atender clientes da cidade e, claro, passar mais tempo com a esposa e a filha de 10 anos. "Tenho clientes empresariais e também atendo particulares como coaching", detalha, destacando que tem agenda preenchida até dezembro, mas está encontrando dificuldades para adequar os compromissos à estrutura logística da cidade, agravada pelos constantes cancelamentos de voos em função do clima. "Não à toa me tornei cliente fidelidade de uma locadora de veículos, pois muitas vezes tive que alugar um carro e pegar a estrada até São Paulo para garantir pelo menos meio dia de trabalho", lamenta.
Mozzato costumava chegar em Londrina na sexta-feira à noite e viajar novamente nos primeiros voos da manhã de terça. Com a redução de rotas, está tendo que readequar os planos, com chegadas no sábado e partidas na segunda. Além de onerar os custos com um dia a mais de hospedagem, ele perde também a possibilidade de atender clientes em Londrina no sábado de manhã, o que dificulta o planejamento. "Eu conseguia ir para São Paulo e Rio de Janeiro no mesmo dia do compromisso, agora não dá mais. Também ficou complicado ir e voltar para Curitiba no mesmo dia", lamenta.
Duas noites a menos com a família também entram no rol dos grandes prejuízos causados pela falta de mobilidade. "Minha filha tem dez anos, a ausência é complicada", diz.
Por tudo isso, ele revela que, apesar de nunca ter pensado em sair de Londrina, passou a cogitar a possibilidade diante das dificuldades de transporte. "Já recebi convites para São Paulo e Campinas, mas não queria abrir mão da qualidade de vida. Torço para a situação melhorar e que não seja preciso tomar essa decisão. Infelizmente Londrina perdeu a credibilidade diante das companhias aéreas", critica.
Em Maringá, Jefferson Nogaroli, presidente do Conselho de Administração do Sicoob Central Unicoob, explica que a falta de voos impõe uma necessidade de planejar melhor o deslocamento de pessoas da Central do Sicoob para as cooperativas afiliadas e vice-versa. Para contornar as dificuldades de mobilidade, ele revela que a empresa tem recorrido aos meios digitais para realizar reuniões que não necessitem da presença física.
Pondera, porém, que a falta de voos traz prejuízo para Maringá como um todo. "A conquista do aeroporto e das rotas colocou Maringá como um dos principais destinos de negócios no Estado, junto de Londrina, Curitiba e Foz do Iguaçu. Isso impulsionou a economia local, com a ampliação da rede hoteleira, transporte, comércio e serviços. A diminuição de rotas em Maringá deve ameaçar essa posição da cidade, que não será considerada para a realização de eventos de negócios ou sociais, o que diretamente diminuirá o fluxo de pessoas e a circulação de moeda na economia local", opina.
Atualmente, o Sicoob Unicoob opera uma joint venture com o Grupo Sancor Seguros, na Argentina. A Sancor Seguros do Brasil, segundo ele, tem sede em Maringá e filiais no Sul do Brasil. Como o conselho é composto por ambas instituições, as reuniões ocorrem no Brasil ou na Argentina. "Com menos rotas disponíveis é necessário um maior planejamento e com mais antecedência", lamenta.

Turismo

O setor de turismo das cidades do interior já não conta com grandes atrativos para fomentar negócios. Sem voos, os problemas aumentam, como relata o empresário Alexandre Campinha, proprietário da Atrativa Turismo, em Londrina, que tem encontrado dificuldades para atender a necessidade dos clientes diante da limitada grade de voos disponíveis na cidade.
"Quem está com viagem comprada reclama por ter que trocar de aeroporto, fazer conexões. Com a retirada de voos para o aeroporto de Guarulhos (de onde saem voos internacionais em São Paulo), haverá ainda mais dificuldades para montar conexões", prevê.
Ele reconhece que houve diminuição na demanda por voos no início do ano, mas garante que o movimento está sendo retomado. "Não justifica terem cancelado tantas rotas e horários", opina ele, que tem percebido muitos clientes preferirem ir para São Paulo de carro ou ônibus para embarques internacionais. "As pessoas não querem correr o risco de perder voos ou enfrentar a mão de obra de trocar de aeroporto", relata.
A consequência da redução da oferta, segundo o empresário, é o aumento das tarifas. "Para Curitiba, por exemplo, só conseguimos bons preços com antecedência. Os clientes reclamam", diz, destacando que o setor cria demandas a partir da oferta de voos. "Se não tem oferta, não motiva a demanda", resume.
Para Campinha, a situação demonstra qual é o olhar das companhias aéreas para o interior do Paraná. "Apesar de sermos um grande polo de negócios, as empresas estão com os olhos voltados aos mercados corporativos, que são mais lucrativos. O interior acaba ficando sem oferta", diz.