O empresário Ary Sudan, vice-presidente do Sindimetal e da Fiep: é hora de a indústria deve inovar para continuar competitiva
O empresário Ary Sudan, vice-presidente do Sindimetal e da Fiep: é hora de a indústria deve inovar para continuar competitiva | Foto: Roberto Custódio



A indústria paranaense está otimista em uma possível retomada ainda neste ano, mas os gargalos ainda são muitos, e as saídas para que a sensação de permanente sufoco acabe, ainda insuficientes.

O Índice de Confiança da Indústria de Transformação (ICT), da Federação da Indústria do Paraná (Fiep), subiu 0,6 ponto e segue na área de otimismo pelo segundo mês consecutivo, com 51,1 pontos. Comparando o indicador com o que foi registrado em fevereiro de 2016, há uma alta de 16,5. Isso é bom.

No entanto, a queda da taxa de juros (0,75 ponto percentual) divulgada na semana passada pelo Comitê de Política Monetária do Banco Cental (Copom) e o programa de regularização tributária (PRT), que permite o parcelamento das dívidas com o fisco, parecem não estimular a retomada do crescimento da indústria, ao contrário do que pretendia o governo federal.

A crise atingiu em cheio a indústria de transformação do Estado em 2016. Segundo dados da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep), o setor fechou pelo terceiro ano consecutivo com retração. As vendas recuaram 7,4% em comparação ao ano anterior. As exportações caíram 5,92%. A queda nas vendas repercutiu negativamente no nível de emprego industrial, que registrou um recuo de 4,3% no total e de 1,9% no pessoal diretamente ligado à produção.

No acumulado de três anos, a retração foi de 20,56%. Quatorze dos dezoito gêneros pesquisados registraram desempenho negativo em 2016. As maiores quedas foram em móveis (-35,91%), produtos (-21,3%) e vestuário (-19,89%). Registraram desempenho positivo os segmentos têxteis (+17,29%); de edição e impressão (+12,28%) e celulose e papel (+5,38%).

MAIS PRAZO
Não é por acaso que a Fiep abraçou a campanha da Confederação Nacional das Indústrias (CNI) por mudanças nas regras do PRT. Além de prazo curto, um dos pontos de maior crítica dos industriais, o programa de regularização tributária não prevê a redução de multas, juros e encargos.

De acordo com a CNI, condições mais favoráveis para o parcelamento das dívidas são necessárias porque a crise econômica, que já perdura por três anos, debilitou as finanças das empresas brasileiras. Em 2016, o faturamento da indústria de transformação teve uma queda de 12,1% frente a 2015. "O momento é de dar um fôlego aos empresários e não só recuperar o passivo fiscal", afirma o presidente da Fiep, Edson Campagnolo (leia mais nesta página).

Para ele, o desempenho negativo da indústria de móveis, setor cujo polo em Arapongas é um dos mais significativos do País, além de ser impactado pela redução do consumo, também sofreu com a concorrência de outros segmentos como de móveis planejados e marcenarias. A redução da entrega de empreendimentos também segurou as vendas e derrubou o desempenho do setor em 2016.

Além disso, o mercado continua com uma crise de confiança em relação à estabilidade do governo do presidente Michel Temer. "A cada dia nos deparamos com informações no campo político que estão interferindo diretamente no campo econômico", avalia Campagnolo.

Vice-presidente da Fiep e do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Londrina (Sindimetal), o empresário Ary Sudan prefere vislumbrar o futuro próximo com otimismo. Segundo ele, a crise pode servir para que o empresariado seja mais certeiro em seu negócio, eliminando gorduras e apostando na inovação para se manter competitivo.

"Quando você está em uma época de vacas gordas, você fica fragilizado. Incha as empresas, cria uma gestão sofisticada. Hoje, estamos fazendo o contrário, enxugando, olhando para nossas estruturas, promovendo ajustes para reduzir custos e aumentar a produtividade", afirma.

INSEGURANÇA
Mas apesar do Copom sinalizar com a possibilidade de mais quedas nas taxas de juro, os empresários ainda não têm segurança para contratar crédito e fazer novos investimentos. "O crédito ainda está muito caro", reclama o presidente da Fiep, Edson Campagnolo. A valorização do real frente ao dólar também foi um banho de água fria para quem estava apostando em recuperar faturamento com o mercado externo.

"O empresário está caminhando na fé. Ele conta muito com a parceria dos clientes e fornecedores. A inadimplência está em alta, os empresários estão repactuando as dívidas com as instituições financeiras e os fornecedores. Muitas categorias fecharam acordo salarial sem aumento real. Os índices de recuperação judicial estão crescendo", comenta Campagnolo.

O economista Sidnei Pereira do Nascimento, professor do Departamento de Economia da Universidade Estadual de Londrina (UEL), também reforça a influência negativa que o cenário político tem no desempenho econômico. "Para voltar a crescer tem que ter segurança e estabilidade. E o mercado está apreensivo. O governo atual não está tão isento quanto o que caiu", ressalta.

Para Nascimento, o que vai dar um fôlego para 2017 é a liberação do FGTS, que dará poder de comprar ao consumidor, e a agricultura. "Sou um pouco pessimista. Não acredito que 2017 volte a crescer. Em um bom cenário não vai cair mais".