"Uma cidade que fundou a Pastoral da Criança não pode deixar morrer a memória", diz Eunice Cardoso
"Uma cidade que fundou a Pastoral da Criança não pode deixar morrer a memória", diz Eunice Cardoso | Foto: Fotos: Gustavo Carneiro



Líder da Pastoral da Criança em Florestópolis, Eunice Vicente Cardoso trabalha na idealização do museu da pastoral. Muito religiosa, ela sempre esteve próxima das atividades da Igreja Católica e aceitou de imediato quando, em 1983, foi convidada a participar do projeto que deu origem à Pastoral da Criança.

Cardoso se orgulha de ter acompanhado de perto o trabalho das freiras italianas Ana Maria Posio e Eugenia Pietta, que na casa das Irmãs Servas da Caridade desdobravam-se para salvar as vidas de centenas de crianças que sofriam com a desnutrição. Entre as muitas atribuições reservadas a elas, que coordenavam a pastoral, estava o centro nutricional, onde ficavam internadas as crianças com quadro grave de desnutrição. O local tinha capacidade para abrigar 25 crianças que passavam o dia no centro, se alimentando corretamente, para poderem voltar aos seus lares no final do dia.

"As crianças não aceitavam mais alimento. Se você punha três ou quatro colheres de leite na boca delas, elas não queriam mais. Então a irmã Ana Maria batia o alimento e alimentava as crianças por sonda até o estômago dilatar um pouquinho. Aí tirava a sonda e começava a alimentar pela boquinha. Foi assim que ela salvou muitas crianças", relembra Cardoso.

A dupla inseparável de freiras ficou em Florestópolis por 15 anos, quando retornou à Itália. Ana Maria já morreu e a madre Eugenia Pietta ainda vive em sua terra natal. "Uma cidade que fundou a Pastoral da Criança não pode deixar morrer a memória", diz Cardoso.

A sala onde vai funcionar o museu foi cedida pelo pároco da cidade e fica na antiga casa das Irmãs Servas da Caridade, que hoje abriga o Centro Municipal de Educação Infantil Paula Di Rosa. Era nessa casa também que Zilda Arns se hospedava durante suas visitas a Florestópolis, que foram frequentes nos primeiros anos de atividade da pastoral. "Foi nessa casa que começou a pastoral, onde foi feito o primeiro treinamento, há quase 35 anos", diz a líder. "Tem gente que já não sabe direito o que aconteceu na pastoral há 34 anos. Daqui a uns dez anos ninguém mais nem lembra. Como vão ficar os bisnetos, os tataranetos da comunidade? É uma história. Uma história que começou em uma cidadezinha que tinha 13 mil habitantes e que foi a cidade experimental da Pastoral da Criança e se expandiu para o Brasil inteiro e para o exterior. Como não ter orgulho da nossa comunidade, do nosso povo que arregaçou as mangas e foi à luta?"