Depois de passar 17 dias observando a situação dos brasileiros no Japão, no início deste ano, o presidente do Instituto Tomodati, Cláudio Suzuki, está certo que atualmente o país tem boas oportunidades para os brasileiros. "Pelas circunstâncias financeiras, tenho recomendado que as pessoas pensem em retornar ao Japão ou mesmo que viajem pela primeira vez", disse.

Conforme levantamento da ONG que ele preside – e que busca apoiar dekasseguis -, hoje há 140 vagas para cada cem candidatos a empregos nas indústrias e empresas de serviço japonesas. "Quem sabe falar e escrever em japonês encontra oportunidades fora das fábricas", garante ele, que vê aumentar também a atuação de empreendedores. "Hoje há mais de mil empresários brasileiros estabelecidos no Japão", contabiliza.

Diante da experiência de décadas acompanhando esse movimento migratório, ele recomenda aos empresários que não foquem só no mercado formado por brasileiros, mas que olhem para os estrangeiros em geral, como chineses, filipinos e vietnamitas. "O mercado japonês é mais difícil de entrar, porém muito compensador."

Outra dica importante, seja para empreendedores ou trabalhadores, é fazer planejamento. "A maioria das pessoas quer voltar para o Brasil, mas não se planeja financeiramente e acaba sem guardar dinheiro. É preciso ter foco", recomenda.

Suzuki destaca ainda a importância de envolver a família nos planos. "A recomendação é que os dekasseguis levem a família inteira, porque a separação é muito sofrida. As cidades maiores inclusive têm creches brasileiras para as crianças, mas é possível conseguir vagas nas escolas japonesas", considera.

A dekassegui Débora Sugay confirma que o empreendedorismo brasileiro está crescendo no Japão e algumas pessoas inclusive atuam como coaching para incentivar o desenvolvimento pessoal dos brasileiros em terra estrangeira. "Aumentou inclusive a vinda de palestrantes direto do Brasil, para motivar e auxiliar a comunidade. Participei de algumas e foi ótimo", afirma.

AGÊNCIA ESPECIALIZADA
Há 33 anos no ramo das agências especializadas em fazerem a ponte entre dekasseguis e empresários japoneses, Helena Qazuma, proprietária da agência Versailles, também assiste há dois anos a retomada do movimento de brasileiros rumo ao Japão. Com agências em Assaí e Curitiba, ela afirma que a diferença, em relação aos primeiros anos da década passada, é que hoje as famílias estão indo juntas, inclusive com crianças. "As fábricas já não fazem muita diferença entre o salário dos homens e o das mulheres", afirma ela, lembrando que a alta do dólar é um grande incentivo.

Ela observa inclusive que a população da zona rural tem aderido ao fenômeno. "Muita gente vai trabalhar e deixa alguém cuidando da propriedade", conta, destacando que procura oferecer segurança aos viajantes. "Faço parcerias diretas com empresários e acompanho a adaptação dos trabalhadores", completa.

Entre as oportunidades de trabalho, além das tradicionais vagas nas empresas, ela tem encontrado ofertas no ramo hoteleiro, que inclusive contrata pessoas mais velhas que falam a língua japonesa. "Essas vagas atendem pessoas que já estiveram no Japão em outras épocas, já estão idosos, mas querem voltar", diz.

A migração em família é facilitada pela ampla oferta de serviços exclusivos para brasileiros, como escolas e até transporte. "O Brasil está passando por dificuldades econômicas, quem é descendente prefere viajar ao invés de ficar aqui passando dificuldade", acredita.(C.A.)