Os jornalistas Patrícia Zanin e Heron Heloy:  "Sabemos que a responsabilidade é do Estado, mas como funcionários que gostamos da rádio, não queríamos ficar de braços cruzados"
Os jornalistas Patrícia Zanin e Heron Heloy: "Sabemos que a responsabilidade é do Estado, mas como funcionários que gostamos da rádio, não queríamos ficar de braços cruzados" | Foto: Saulo Ohara


As fortes chuvas que atingiram Londrina em maio deste ano foram o golpe final na sucateada Rádio UEL FM, da Universidade Estadual de Londrina, que já funcionava em condições precárias. Quando um raio destruiu o transmissor e tirou a programação do ar, a equipe foi obrigada a sentar e discutir sobre o futuro de um patrimônio de Londrina que, até então, não se sabia tão amado pela comunidade. A UEL investiu o recurso necessário para comprar um novo transmissor e retornar a programação com capacidade de 10 kw. Mas os jornalistas Patrícia Zanin e Heron Heloy, funcionários da rádio, ousaram sonhar com uma rádio melhor. Eles idealizaram uma emissora mais moderna, com aplicativo para ouvir no celular, central de internet e um link para ligar estúdio e transmissor.
A nova rádio poderia levar a programação com mais qualidade para muito mais pessoas. O orçamento para conseguir tamanho avanço é modesto: R$ 20,5 mil. "Sabemos que a responsabilidade é do Estado, mas como funcionários que gostamos da rádio, não queríamos ficar de braços cruzados esperando fechar. Já entrevistamos diversos artistas que fizeram financiamento coletivo para viabilizar produções. Foi assim que tivemos a ideia de fazer um financiamento coletivo para modernizar a rádio", contam.
A campanha ainda está aberta para quem quiser e puder colaborar. Com arrecadação do valor mínimo necessário, os dois consideram que a campanha foi um sucesso e extrapolou o atendimento de uma necessidade financeira. "O financiamento coletivo é uma força capaz de promover o engajamento da comunidade, provoca a sensação de pertencimento. Ao colaborarem, as pessoas aprendem que podem fazer a diferença", analisa Heron.
O perfil das pessoas que estão doando é variado. Há desde pessoas que estudaram na UEL e querem oferecer uma contrapartida à instituição até ouvintes "órfãos" da rádio e funcionários da UEL que contribuem pela convivência diária com o veículo. "Teve gente que enfrentou a própria ideologia e doou", comemora Patrícia, remetendo às pessoas que defendem que manter a rádio é obrigação do Estado.
Até o dia 26 de julho, 214 pessoas já tinham contribuído para a campanha. Além disso, há pelo menos 40 pessoas que doaram as chamadas "recompensas" para presentear os doadores. "Estamos pensando em um jeito de retribuir todo esse afeto. A maior surpresa foi receber acolhimento, gentileza e solidariedade. São valores que não têm preço", comenta Patrícia.
Os dois jornalistas revelam que fazer uma campanha para mobilizar a comunidade exige energia e dedicação integral. "A maior dificuldade é levar à ação de doar", conta Heron, que fez os vídeos divulgados nas redes sociais para chamar atenção para a campanha. "O desafio é afetar o outro e se deixar afetar através de novas redes de solidariedade", analisam eles, lembrando que a campanha busca, acima de tudo, "vencer o desafio do efêmero". "A ideia é ser mais que uma atualização do Facebook. Ficaríamos muito tristes se não tivéssemos conseguido", dizem.
Para Heron, participar de um financiamento coletivo em prol da cultura e da educação é um "mecenato". "O doador investe para melhorar a sociedade", opina ele, que defende também o início de grandes mudanças a partir de pequenas ações para transformar o que está perto. "Não à toa, 30% das pessoas que doam em financiamentos coletivos são da própria rede de contatos do beneficiado", informa.
O lado negativo da campanha, segundo eles, foi perceber que, por outro lado, há pessoas que não se importam com as causas coletivas. "Isso é frustrante, mas o acolhimento oferecido por tanta gente supera essa frustração", dizem.
Hoje à noite, a rádio ganha mais uma demonstração de apoio dos músicos londrinenses. Será às 20 horas, no bar Valentino, um show dos artistas Regional Maria Boa, Indayana, Gisele Almeida, Tonho Costa, Cluster Sisters e Mama Quilla em benefício da Rádio UEL FM. O couvert de R$ 10 será integralmente doado à causa. O Valentino doou o espaço e também o equipamento de som.