Já dizia o escritor Mário Quintana que ''viajar é trocar a roupa da alma''. Há pessoas que levam esse conselho a sério e saem da cidade sempre que podem, seja para recarregar as energias ou vivenciar novas experiências. E isso não significa realizar grandes projetos como atravessar o oceano ou gastar muito dinheiro em resorts paradisíacos. Pode ser um simples final de semana na zona rural ou um passeio a uma cidade vizinha. A ideia principal é não ficar em casa e ''desligar'' a cabeça da rotina e dos compromissos diários.
Segundo a presidente da Associação Brasileira de Blogs de Viagem (ABBV), Silvia Oliveira, autora do blog Matraqueando (www.matraqueando.com.br), com o aumento do poder aquisitivo do brasileiro nos últimos dez anos, algumas famílias descobriram o prazer de viajar. ''Presenciamos, agora, pessoas que veem a viagem como uma necessidade fisiológica mesmo, incorporando-a ao seu estilo de vida. Se antes uma viagem se resumia a visitas tradicionais de família, agora, antes de tudo, é prazer e prioridade'', resume.
Para tanto, conforme ela, em vez de pacotes fechados, cada vez mais pessoas recorrem aos sites especializados e blogs de viagens, reponsáveis por popularizar destinos considerados inatingíveis. ''Diferentemente dos livros e guias de turismo, que apenas listam os lugares a serem visitados, os blogs se tornaram uma espécie de prestação de serviço, trazendo dicas e impressões reais dos lugares.'' Pesquisa recente realizada pela entidade mostrou que 70% dos leitores utilizam os blogs de viagem como fonte de consulta para a escolha do destino, ficando em primeiro lugar no ranking.
Mais do que conhecer outro lugar, Silvia diz que as pessoas que viajam se tornam mais tolerantes. ''Ir para um local diferente permite que vejamos que há diversos estilos de vida além do nosso, outra gastronomia. É perceber que não existe certo ou errado, apenas diferente. Viajar é algo intangível, mas, certamente, uma experiência de vida. Porém, pode ser um deslocamento, um momento de extravagância, como atravessar a cidade para comer num restaurante'', completa a blogueira.
Reações sensoriais
O psicólogo Julio Cezar Arrebola enfatiza que viajar, antes de tudo, deve ser evitar a ''fadiga''. ''Em geral, as pessoas vinculam período de viagem às férias escolares, quando todos os lugares turísticos estão cheios, com filas. Acabam esquecendo, portanto, do microlazer durante o ano, com viagens mais curtas, mas que podem trazer muito mais prazer. Certamente, a viagem será melhor aproveitada. Talvez não em tempo, contudo, em qualidade'', defende.
Segundo ele, viajar traz vários benefícios ao organismo, devido a grande variação de informações recebidas. ''São estímulos diferentes, outra percepção de tempo e distância, campo visual, que resultam numa reorganização química do sistema nervoso com a liberação de várias substâncias. Fala-se muito da endorfina, que dá a sensação de prazer, mas há outras inúmeras reações sensoriais na mente e no corpo.''
Além disso, Arrebola lembra que viajar estimula a capacidade de lidar com as diversas situações. ''Nem tudo sai como o planejado. Os atos contornar as adversidades, como mudança de clima, por exemplo, e aproveitar o momento trazem maturidade e equilíbrio'', pontua, ressaltando que viagem deve ser um prazer para quem quer viajar. ''Vai ser importante se for suprir alguma necessidade individual ou conquista dos objetivos planejados'', acrescenta o psicólogo.

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