Desde março de 2011, o Observatório Nacional de Segurança Viária coleta informações nos principais órgãos públicos para embasar projetos e pesquisas relacionadas ao setor. A intenção da ONG é debater estratégias e buscar melhorias para reduzir o número de vítimas fatais em acidentes. Segundo o gerente técnico do Observatório, Renato Campestrini, os integrantes defendem mudanças na legislação, veículos mais seguros, mais respeito aos pedestres e a criação de varas especializadas em crimes de trânsito e delegacias específicas.

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O observatório constatou que 38,6 mil pessoas morreram vítimas de acidentes de trânsito no Brasil em 2015. Desse total, 12 mil óbitos estavam relacionados a ocorrências com motocicletas e outros 9 mil a colisões envolvendo automóveis. Em 2012, a quantidade de mortes chegou a 44,8 mil, número mais elevado considerando o período entre 2000 e 2015.

A grande deficiência, segundo ele, está na formação do condutor. "O foco da formação é evitar autuações quando na verdade deveria focar a preservação da vida. A questão principal é que nós, como população, precisamos mudar os nossos hábitos. Infelizmente, o que se observa hoje em matéria de legislação de trânsito é que o respeito só ocorre quando há um equipamento redutor de velocidade, um radar implantado em uma rodovia. Quando passa esse ponto, a pessoa já está falando ao celular, o veículo excede a velocidade e volta o comportamento de risco", comenta.

"O nosso código de trânsito é um dos mais completos do mundo e já serviu de inspiração para vários outros códigos pelo mundo. Em novembro do ano passado, houve aumento nos valores das multas, o que acabou recuperando um pouco o fator inibidor das autuações, mas, para alguns, isso ainda é um valor irrisório. Temos um código bom. O que falta mesmo é conscientização e fiscalização. Há estatísticas que apontam que, para cada multa aplicada, outras 10 mil passam sem qualquer tipo de punição", afirma Campestrini.

O promotor Cássio Honorato, de Colombo, especialista em trânsito, critica a falta de prioridade para debates relacionados ao sistema viário. "Ainda não entendi exatamente por que as pessoas não dão tanta importância para o trânsito. Na faculdade de Direito, por exemplo, você não tem a matéria de trânsito. No poder judiciário você não tem varas especializadas de trânsito. Há poucas exceções. As pessoas não costumam falar de trânsito como ciência e o trânsito impacta a nossa vida diariamente", finaliza Honorato. (V. C.)