Desemprego levou Irdisnei Sebastião dos Santos para a zona rural e esperança dele é ver os filhos completarem os estudos
Desemprego levou Irdisnei Sebastião dos Santos para a zona rural e esperança dele é ver os filhos completarem os estudos | Foto: Fotos: Gina Mardones



Não é preciso estar muito distante dos grandes centros urbanos para conviver com as dificuldades impostas pela falta de acesso a serviços e renda que influenciam negativamente o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM). Em Londrina, moradores do patrimônio de Guairacá (zona sul) enfrentam diariamente essas barreiras. A estrada de terra de oito quilômetros que distancia a localidade do acesso asfaltado ao distrito de Paiquerê se transforma em um verdadeiro abismo nos dias de chuva, quando fica praticamente impossível acessar o local. Diante desta realidade, as crianças deixam de ir à escola e mesmo as emergências médicas não conseguem ser atendidas.

A longo prazo, o resultado é a evasão escolar e a consequente falta de qualificação para o emprego que influencia a renda. A trabalhadora rural Marta Regina de Moraes Silva, de 46 anos, mora em vila rural na região há 16 anos e, neste período, viu os filhos abandonarem a escola ainda adolescentes. "A escola rural vai até o quinto ano, depois precisa ir até Paiquerê para continuar os estudos. Mas eles faltavam tanto por causa da chuva que até desistiram", lamenta.

Atualmente, os dois filhos trabalham na Sanepar em Londrina. Já a filha casou jovem e se acomodou como dona de casa. "Aqui a maioria das famílias tem o marido trabalhando na roça e as mulheres como diarista em Londrina. A vida delas é sofrida", conta.

O medo de Osvaldo Fiuza Epifânio é precisar de atendimento médico de urgência e não ter tempo de chegar ao hospital
O medo de Osvaldo Fiuza Epifânio é precisar de atendimento médico de urgência e não ter tempo de chegar ao hospital



Osvaldo Fiuza Epifânio, 62, morou a maior parte da vida na região e já se acostumou a estar longe de tudo. Apesar de ter trabalhado como diarista nas colheitas das fazendas por 38 anos, tem poucos anos de registro em carteira, o que está dificultando a aposentadoria. "Hoje vivo com os R$ 180 da bolsa-família e a ajuda de parentes. Uma irmã faz uma compra mensal para mim e o resto eu vou conseguindo por aqui mesmo. No sítio não falta fruta e verdura", garante.

Com vários problemas de saúde, ele teme precisar de atendimento médico de urgência e não conseguir chegar a tempo a um hospital. Guairacá tem um posto de saúde que recebe médico, enfermeira e fisioterapeuta apenas uma vez por semana. "Se chove, ninguém vem", lamenta Epifânio, que já esperou quatro anos para ser atendido por um especialista que o encaminhou para uma cirurgia. "Quando eu passo mal, tenho que pedir ao sobrinho para me buscar porque a ambulância não chega aqui", diz.

O motorista Irdisnei Sebastião dos Santos, 43, chegou a Guairacá com a mulher e os cinco filhos há pouco mais de dez anos, movido pelo desemprego. "Eu era cozinheiro, não conseguia arrumar trabalho e vim para cá porque achei que a vida seria mais fácil", relata. Hoje, ele é uma figura fundamental para a dinâmica da região, pois dirige a Kombi que leva e busca os estudantes das fazendas para a estrada por onde passa o ônibus escolar. Os filhos mais velhos fazem parte do grupo que precisa viajar para chegar à escola. Já os menores ainda estudam no patrimônio.

A esposa é diarista em Londrina e viaja pelo menos três vezes por semana para garantir um incremento à renda da família. Como muitos moradores da região, Santos colhe piaçava e fabrica vassouras para comercializar com vendedores que eventualmente aparecem em busca da mercadoria. "Fazemos um pouco de tudo para sobreviver", diz.

Apesar da distância, ele incentiva os filhos a estudarem para terem mais oportunidades na vida. "Eu estudei pouco e não foi bom para mim. Quero que meus filhos continuem na escola", espera o trabalhador, que até tentou voltar a estudar em um curso de Educação de Jovens e Adultos no distrito de Lerroville. "Me matriculei, mas o curso foi suspenso e para concluir eu teria que ir para Londrina, o que seria impossível", analisa. (C.A.)