Imagem ilustrativa da imagem ENCONTROSFOLHA - Qualidade de vida é atração para investimentos


O consultor austríaco Peter Drucker, considerado o "pai da administração moderna", disse certa vez que "a melhor forma de prever o futuro é criá-lo". E quando se trata do desenvolvimento econômico nacional, este futuro está intimamente ligado ao desenvolvimento das cidades de médio porte e com alta qualidade de vida. Londrina, portanto, se encaixa nesta rota de atração e precisa criar ferramentas eficientes para atrair atividades produtivas, independentemente do segmento.

Este foi o principal assunto colocado - de forma muito clara e objetiva - pelo economista e professor do do Instituto Superior de Administração e Economia (ISAE) e Fundação Getúlio Vargas (FGV), Robson Gonçalves, durante a 7ª edição do EncontrosFolha. Para ele, Londrina tem diversas vantagens econômicas, sociais e até de localização que podem colocar a cidade em outro patamar nos próximos anos. Segundo ele, tudo isso precisa estar pautado num pensamento: "Quem inova, não pode ter medo de críticas."

Em meio à crise econômica e política que o País vive, que para o economista já "precisa ser olhada pelo retrovisor", ele pontuou diversas características que colocam Londrina numa posição de vantagem entre as demais cidades de médio porte que também brigam pela captação de investimentos. A primeira delas é locacional. "Londrina está localizada no meio do caminho entre as metrópoles e as grandes áreas de desenvolvimento do agronegócio. Veja só: quando a crise estava se implantando, o dólar subiu progressivamente e os grandes produtores rurais começaram a respirar. Isso é algo que se viu por aqui."

O economista também citou outros pontos econômicos e sociais bem relevantes, mas pouco conhecidos pelas lideranças locais. O primeiro deles é que Londrina é uma das cidades menos desiguais do País. O índice Gini mede a concentração de renda de 0 a 1, ou seja, quanto menor o índice, menor a desigualdade. Aqui, o valor é de 0,41, sendo que a média estadual é 0,46, e do Brasil, 0,52. Comparados a outras cidades de porte semelhante, como Dourados (0,46), Ribeirão Preto (0,46) e Campinas (0,42), Londrina está na frente. "O município também está localizado na 'maior mancha' de alto Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Paraná e está num entrocamento logístico multimodal e inter-regional bem interessante", elenca.

A grande pergunta é: será que os investidores sabem de todo o potencial da cidade, incluindo a qualidade de vida que ela oferece? Na opinião do economista, é preciso muito evoluir neste sentido. "As oportunidades de negócio estão em São Paulo ou Rio de Janeiro, mas a qualidade de vida nessas metrópoles impõe um custo muito grande. Indiscutivelmente eu mudaria para Londrina amanhã, se tivesse oportunidades para conduzir minha carreira. As empresas (investidoras) estão observando isso. Boa parte da produtividade delas e da qualidade de vida do trabalho está associada a essa questão locacional, onde as pessoas trabalham e vivem. As empresas sabem que colaboradores estressados e doentes se tornam improdutivos."

E para atrair e manter tais atividades, as cidades não podem apenas focar em sua vocação, muitas vezes determinada no passado. Para o economista, a vocação precisa ser construída de acordo com as oportunidades que surgem. "Vocação é algo de longo prazo e dinâmico. Quantos de nós fizemos faculdade no susto, e nos reinventamos ao longo da vida? Vocação se constrói em nível pessoal e não é diferente para uma região."

Por fim, o professor bateu muito na tecla da importância do capital social das cidades de médio porte, ligado ao planejamento urbano, mobilidade, disponibilização de serviços, turismo de eventos e atuação da sociedade civil organizada, que hoje ele considera mais importante que o próprio governo. "É preciso manter a qualidade de vida da cidade a qualquer custo. Discutir, por exemplo, o que vai ser da mobilidade urbana em 10 anos, garantir a área verde, a verticalização moderada, entre outros pontos que envolvem conceitos de 'smart cities'. De tudo isso, a organização da sociedade civil é o mais importante. Governos passam, mas a sociedade fica. Se ela não se organiza, não constrói uma perspectiva de longo prazo".