Imagem ilustrativa da imagem DESENVOLVIMENTO HUMANO - Falta de acesso a serviços e renda deixa população do campo em desvantagem



As dificuldades para acessar serviços de saúde e educação e a menor renda obtida pela população que mora na zona rural colocam essa parcela dos brasileiros em desvantagem em relação às pessoas que moram na zona urbana. Essa foi uma das conclusões da pesquisa "Desenvolvimento Humano para Além das Médias", realizada por pesquisadores do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) no Brasil, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e Fundação João Pinheiro (FJP). O estudo desagregou dados do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) por cor, sexo e situação de domicílio e comparou indicadores socioeconômicos entre os grupos pesquisados.

De acordo com o estudo, a população do campo ganha menos, estuda por menos tempo e tem uma expectativa de vida reduzida em comparação aos moradores das cidades, o que fica evidente nos dados coletados. Em 2010, enquanto o IDHM rural brasileiro era de 0,586 - o que é considerado índice médio de desenvolvimento -, o indicador para os moradores da zona urbana era 0,750, ou seja, alto desenvolvimento.

A pesquisa levantou que a renda domiciliar per capita média da população urbana é quase três vezes maior do que a da população rural, R$ 882,6 e R$ 312,7, respectivamente. Quanto à escolaridade da população adulta, 60% da população urbana com mais de 18 anos possui o fundamental completo, ante 26,5% da população rural. Na esperança de vida ao nascer, a população urbana vive em média três anos a mais do que a população rural, 74,5 anos e 71,5 anos, respectivamente.

O Paraná é o Estado com o segundo maior IDHM rural do País, 0,691 pontos. Mesmo assim, ainda está na faixa de médio desenvolvimento para essa situação de domicílio, ante o índice de 0,788 para a população urbana, considerado alto desenvolvimento. No Estado, enquanto 59% da população urbana paranaense com mais de 18 anos possui o fundamental completo, na zona rural o índice cai para 31%. A renda domiciliar per capita média urbana é R$ 957,00, ante R$ 498,00 na zona rural. A expectativa de vida é o único indicador onde não há desigualdade, atinge 74 anos nas duas situações de domicílio.

"O que se observa a partir dos resultados alcançados é que tanto no caso do IDHM quanto dos subíndices de longevidade, educação e renda, e para todas as localidades analisadas, os dados desagregados confirmam as disparidades sociais existentes entre os grupos e evidenciam melhores resultados para brancos, homens e população urbana", destaca o estudo.

ESCALA POPULACIONAL
O coordenador da INCT Políticas Públicas e Desenvolvimento Territorial do IPEA, Marco Aurélio Costa, explica que o fato de o Brasil ter uma área muito extensa e de 85% da população viver nas cidades é uma das explicações para as desigualdades. "Não há escala populacional para ofertar serviços de saúde e educação no campo. Além disso, a geração de emprego e renda é menor porque a estrutura produtiva em geral privilegia a economia urbana, tanto na área de serviços como industrial. A renda é um desafio quase intransponível", considera.

Ele também analisa que as várias configurações rurais geram disparidades entre as condições dos diferentes estados. "O Amazonas, por exemplo, tem baixo IDH rural e alto desenvolvimento urbano. Além disso, há o rural do agronegócio e o da subsistência. São realidades muito diferentes", reforça.

A estrutura fundiária menos concentrada e a produção mais ligada à agroindústria explicam o bom IDHM rural do Paraná em relação aos outros estados. "Quando o estado tem uma economia agroindustrial, porém, é difícil separar o que é agrícola e o que é indústria. Além disso, as pessoas ligadas à agroindústria em algum momento acabam se mudando para imóveis urbanos, ainda que a família tenha uma atividade rural", comenta.

Como o estudo tem o objetivo de orientar políticas públicas para redução das desigualdades, Costa comenta que os resultados apontam para a necessidade de um olhar mais cuidadoso para as famílias que estão na roça em pequenas propriedades, praticando agricultura de subsistência. "Essas pessoas precisam ter acesso a qualificação profissional e renda", pede.