Promessas de campanha ano a ano esquecidas em gavetas e "ressuscitadas" durante o período que antecede as eleições são reflexo do desconhecimento da realidade financeira da cidade e da falta de preparo para elaborar projetos capazes de atrair recursos. Esta é a opinião do presidente do Observatório de Gestão Pública de Londrina, Fábio Cavazotti.

Segundo ele, os candidatos entram empolgados na campanha, garantem ações que são necessárias e que respondem aos anseios da população, mas não sabem se de fato poderão realizar. "No primeiro ano de governo o prefeito vai ter que cumprir um orçamento realizado pela gestão anterior. Além disso, quando entram em contato com o orçamento real do município e os gastos obrigatórios, percebem que sobra muito pouco para investir."

Cavazotti destaca que, nas campanhas, as propostas dos candidatos costumam ser parecidas. "Neste ano muito se falou sobre desburocratização do atendimento aos empresários e informatização da saúde. Mas eles sabem se isso é possível? Se a Saúde, por exemplo, tem estrutura para informatizar?", questiona, destacando que buscar informação sobre o funcionamento do orçamento é fundamental para pautar propostas sensatas e concretas.

Outro problema apontado por ele é que o município é pouco preparado na área de elaboração de projetos. "Não há infraestrutura para fazer projetos relativos a obras que envolvem milhões de reais. É preciso ter projeto, orçamento e cronograma", aponta. O trabalho é técnico e exige envolvimento de profissionais especializados. "Sem um bom projeto, as chances de liberação de recursos diminuem", avisa. Uma solução para este impasse, conforme o presidente do Observatório, seria licitar o serviço para empresas especializadas.

A proposta da entidade para o prefeito Marcelo Belinati, que assume a administração de Londrina no dia 1º de janeiro, é a criação de um Conselho de Desenvolvimento que reúna forças políticas e instituições para discutir a cidade e também distribuir responsabilidades sobre a finalização de propostas e projetos.

AMNÉSIA
A presidente do Conselho de Transparência de Londrina,Vera Suguihiro, também avalia que os candidatos elaboram a pauta de propostas sem conhecer realmente a realidade do local. A crítica vale tanto para os que almejam o cargo de prefeito como vereadores. "Antes de propor, é preciso analisar se existe orçamento, se ele é possível e se a proposta foi planejada", comenta. "Por modismo, repetição ou falta de conhecimento, acabam defendendo propostas que vão encantar os eleitores, mas não conhecem a real necessidade e nem sabem se há recursos para efetivar", reforça.

Após as eleições, entretanto, Vera comenta que os eleitos passam a sofrer de "amnésia": esquecem as propostas e realizam apenas obras que os interessam, com vistas às próximas eleições.

"Não conhecem a realidade, não conhecem o orçamento público capaz de financiar a proposta e não fazem planejamento para a consequente efetivação", critica, lembrando que o contexto de promessas não cumpridas é também cultural. "Os candidatos sabem que a população não tem memória, organização, controle sobre os gastos e fiscalização. A sociedade tem que aprender a fiscalizar e exigir transparência nos gastos públicos", pede.

A própria estrutura da prestação de contas dos administradores é motivo de crítica. "Isso deveria ser feito com linguagem acessível e estar disponível para todos. Caso contrário, ninguém se interessa. A prestação de contas tem que ser efetiva", pede.