O superintendente do Grupo FOLHA, José Nicolás Mejía, na abertura do 10º EncontrosFolha, no Möress Buffet
O superintendente do Grupo FOLHA, José Nicolás Mejía, na abertura do 10º EncontrosFolha, no Möress Buffet | Foto: Ricardo Chicarelli



Conhecer bem o negócio, assumir o comando, ter paciência e perseverar. Após debate entre os participantes do EncontrosFolha com o público presente, foi assim que o mediador do evento, o economista e professor da UTFPR e colunista da FOLHA, Marcos Rambalducci, resumiu as atribuições necessárias aos pequenos empreendedores.
No início do debate, ele questionou o diretor de Operações do Sebrae/PR, Júlio Cezar Agostini, sobre dados recentes do IBGE que indicam o fechamento de 65% das empresas após cinco anos de operação. "Quanto melhor o ambiente econômico, menor a mortalidade", respondeu o diretor, lembrando que a eficiência das MPEs não depende apenas de soluções individuais, mas do ambiente onde estão inseridas. "Quando o governo tem deficit público, aumenta a taxa de juros. Nesse caso não tem nada que consultorias ou o Sebrae possam fazer, haverá mortalidade de empreendimentos. As micros e pequenas empresas precisam de ambiente econômico estável para crescer", defendeu.
Ao ser questionado pelo público sobre o impacto do cenário político no desenvolvimento das MPEs, o professor em gestão empresarial e gestão financeira do ISAE/FGV, Marco Antonio Nascimento Cunha, foi taxativo. "O capital que fomenta a economia vai olhar se o futuro presidente vai manter a política econômica atual ou promoverá mudanças. Se mudar, vai ter fuga de capitais", afirmou.
Agostini, do Sebrae, acrescentou que as reformas precisam ser bem sucedidas para dar confiança ao mercado. "A reforma trabalhista começa a vigorar em novembro, mas é dúbia, não oferta segurança ao empreendedor", criticou, lembrando que apesar do cenário mais positivo, a total recuperação econômica pode demorar alguns anos.
Outra dúvida da plateia foi referente à interferência da inadimplência na oferta de crédito. O gerente Regional Norte de Desenvolvimento do Sicredi, David Vacari Conchon, destacou que a burocracia brasileira é um dos grandes entraves do acesso ao crédito. Analisou, por outro lado, que o empresário precisa ser consciente em relação a esse mercado, o que implica entender as linhas disponíveis e avaliar quando é possível e necessário contratá-las.
Agostini complementou que os pequenos empresários precisam se preparar melhor para sobreviver, pensando a médio e longo prazos e se antecipando às crises, pois "os negócios são cíclicos". Cunha, da FGV/ISAE, comparou que enquanto grandes empresas mantêm um colchão de liquidez para sustentar a operação por alguns meses em tempos de crise, nos pequenos negócios o dono acaba gastando o dinheiro que sobra. "O ideal é aplicar o capital. Sei que falar é fácil, mas é o que devia ser feito", diz.
Apesar do consenso sobre as boas oportunidades para startups e empresas de alto potencial, uma dúvida do público foi referente a oportunidades também nos segmentos mais tradicionais. "Há oportunidades em todas as áreas, o importante é conhecer o mercado", afirmou Agostini. Segundo ele, um dos caminhos para crescer em setores tradicionais é o associativismo. "Há muitos minimercados se unindo em empresas de participação para realizarem operações como compras e distribuição de forma associada", exemplificou.
Cunha lembrou que, independentemente da área, o fundamental é "pensar fora da caixa", buscando qualidade e inovação para melhorar o que já sabe fazer bem feito.
Diante de uma boa ideia para empreender, quais as dificuldades para deixar de ser assalariado e se tornar empresário? A essa pergunta de um dos participantes do EncontrosFolha, Conchon, do Sicredi, afirmou que o mais importante é "mudar o modelo mental" para sair de um estilo de vida padronizado para outros modelos de desenvolvimento profissional e pessoal. "É preciso gerenciar todos os aspectos para minimizar dificuldades pessoais, financeiras e profissionais."
Cunha ressaltou que, antes de montar um negócio, é preciso estudar o mercado, visitar empresas e conhecer a concorrência. Além disso, orienta a ter clareza sobre o tempo que será necessário para o negócio decolar, para não acabar o dinheiro antes da consolidação da empresa.
"Empreendedor não tem hora para trabalhar, ele precisa correr atrás, o grau de sacrifício pessoal é bem maior", lembrou Agostini, para quem uma ideia brilhante não tem muito valor sem o esforço para que se concretize. "Não dá para ficar sentado no escritório esperando acontecer, é preciso dedicação para que dê certo."