Comprovadamente eficientes para o transporte nas cidades, as bicicletas não são utilizadas por mais pessoas pela falta de estrutura urbana. "O maior medo é se expor ao trânsito", opina José Carlos Assunção Belotto coordenador do projeto de extensão Ciclovida, da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e que responde também pela vice-presidência da Federação Paranaense de Ciclismo e coordena o departamento de educação e cultura da Associação de Ciclismo Ciclo Iguaçu.
Para ele, a instalação de equipamentos como ciclovias, ciclofaixas ou mesmo medidas para acalmar o trânsito, como redução dos limites de velocidade em vias "amigáveis" aos ciclistas, seriam suficientes para incluir as bikes na rotina da população urbana.
Ao contrário do que muitos gestores apregoam, Belotto defende que a implementação destas estruturas demanda poucos investimentos. "Para fazer uma ciclofaixa, por exemplo, basta pintar uma faixa guardando a distância de 1,5 metro em relação ao meio-fio. Um paraciclo, por sua vez, custa em torno de R$ 200,00. É mais uma questão de vontade política", diz, acrescentando que o problema maior é o privilégio dos carros no planejamento urbano. "Alargar ruas para caber mais carros é o mesmo que combater a obesidade alargando o cinto", ironiza. Segundo o ativista, os automóveis ocupam 90% do espaço das ruas e recursos alocados para a estrutura de transporte, mas atendem apenas 30% da população.
Dados do Ipea apontam que, nas cidades com mais de 60 mil habitantes, acumulam-se 20 milhões de veículos, três quartos deles automóveis e veículos comerciais leves, e o outro quarto, ônibus e caminhões. Nesses municípios, são realizados 148 milhões de deslocamentos diários, cumpridos a pé (38%), por transporte coletivo (29%) e individual (33%). No modo coletivo, os ônibus atendem a maior parte (89%). No individual, o automóvel (27%) supera amplamente as motocicletas (3%) e as bicicletas (3%).
Outra crítica é com relação aos técnicos que gerenciam o trânsito urbano. "Muitas vezes não conhecem as necessidades dos ciclistas e constroem estruturas para bicicletas que não são viáveis e acabam subutilizadas." Reconhece, por outro lado, que a viabilidade das saudáveis "magrelas" na rotina é limitada a percursos de até 15 quilômetros que exijam, no máximo, uma hora de pedalada. "A integração com o transporte coletivo é uma grande solução para vencer distâncias maiores", acredita.
Belotto concorda que o trânsito é uma ameaça concreta aos ciclistas e critica o comportamento dos condutores de automóveis, que não recebem formação para conviver com outras modalidades de transporte. "O Código de Trânsito Brasileiro estabelece que pedestres, seguidos por ciclistas, têm prioridade nas ruas, mas os motoristas não respeitam o previsto em lei e agem com intolerância em relação às bicicletas", critica.

Desafio
Belotto lembra que bicicleta foi a grande vencedora das últimas edições do desafio intermodal, realizado anualmente pela UFPR com o objetivo de constatar qual é o meio de transporte mais eficiente para deslocamento em Curitiba, de acordo com as variáveis de tempo, custo e emissões de gases de efeito estufa.
Na edição do ano passado, realizada em agosto, uma equipe de voluntários percorreu um trajeto de oito quilômetros, às 18 horas, utilizando bicicleta, bicicleta elétrica, moto, carro elétrico, carro, ônibus e também o cumprimento do percurso por corrida ou como pedestre.
A bicicleta tradicional conquistou o primeiro lugar: foram 32 minutos gastos para chegar ao destino, com custo zero e sem nenhuma emissão de gases de efeito estufa. Logo após ficou a bicicleta elétrica, seguida em ordem de eficiência por corredor, pedestre, carro elétrico, motocicleta, carro e ônibus. Os automóveis, que dominam os investimentos na estrutura de mobilidade das cidades, apresentaram resultados pouco competitivos. Além de exigirem investimento de R$ 2,44 apenas para cumprir o trecho, foram mais lentos, levando 42 minutos no horário estabelecido. Provocaram, ainda, a emissão de 1,67 quilos de gases de efeito estufa na atmosfera. Piores que eles, apenas os ônibus, que demandaram investimentos de R$ 5,40 para cumprir o trajeto em 63 minutos, com emissão de 0,21 quilo de gases de efeito estufa.

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