A ampliação da banda larga no Brasil tem impacto sobre o PIB (Produto Interno Bruto) dos municípios, além de outros indicadores econômicos, como a taxa de crescimento da massa salarial, do imposto sobre a produção, os valores adicionados dos setores de serviços e a administração pública. A informação faz parte de um estudo entregue pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) à Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) como resultado de uma cooperação técnica. O estudo, realizado entre 2016 e 2017, foi publicado neste mês e tem o objetivo de subsidiar a implementação de políticas públicas relacionadas à expansão da infraestrutura de telecomunicações.

O avanço na disponibilidade dos serviços de banda larga amplia o acesso à TIC (Tecnologia da Informação e Comunicação), o que tem efeitos na economia na forma de aumento da produtividade, criação de empresas, aumento no emprego e crescimento econômico, diz o estudo. O maior impacto ocorreria em municípios de maior renda per capita e alta concentração urbana; em municípios cuja economia se concentra nos setores de serviço, comércio e construção; e em municípios com alta participação da população rural (45%), do setor agrícola na economia e alta renda per capita.

"A literatura mostra que existe um impacto positivo (da ampliação da rede de banda larga) sobre o PIB", ressaltou Mario Jorge Cardoso de Mendonça, técnico de planejamento e pesquisa do Ipea. Outros estudos realizados em 2010 mostram que para cada um ponto percentual de aumento da densidade de acessos de banda larga por mil habitantes, haveria um aumento entre 0,037 p.p. (pontos percentuais) e 0,178 p.p. no PIB e entre 0,196 p.p. e 0,359 p.p. do PIB per capita, afirmam as publicações do Ipea.

"Alguns setores são mais beneficiados que os outros", ressalva Mendonça. Aqueles que fazem uso mais intensivo de TI, que possuem alto custo de transação, como o setor financeiro, ou que são intensivos em trabalho, como o turismo, são alguns deles.

Segundo o Ipea, com base em dados da Anatel, a infraestrutura de banda larga no Brasil ainda é precária: 2.325 municípios ainda não possuem backhaul de fibra (trecho que se conecta ao núcleo da rede de internet), fazendo com que 14% da população brasileira estejam desassistidam. Quase 60% dos municípios sem backhaul ficam nas regiões Norte e Nordeste.

Demanda reprimida
O Instituto também chegou à conclusão de que priorizar municípios com maiores mercado potencial e população na expansão da banda larga é a alternativa que gera maior retorno econômico. Conforme o estudo, a demanda reprimida por acesso à Internet no País pode chegar a 11,6 milhões de domicílios. Há 39,1 milhões de domicílios com acesso à banda larga fixa ou 3G e 4G no Brasil, e se o acesso a esses serviços de telecomunicações fosse universalizado, haveria a inclusão de mais 6 milhões de domicílios. O número poderia ser ainda maior, com a entrada de 11,6 milhões de residências, se houvesse redução nos preços cobrados aos usuários.

Alta velocidade permite uso 'mais completo' da internet

"Na minha opinião, Londrina é uma cidade que está coberta quase 100% dos domicílios. Se considerar Sercomtel, Net, Vivo e mais provedores, todo mundo tem uma banda larga fixa na sua casa", aponta Flávio Borsato, diretor de Operações da Sercomtel. Por outro lado, Mario Mendonça, do Ipea, explica que um município ter muitos acessos à banda larga não significa, necessariamente, que todos permitem um uso "mais completo" da internet. Mesmo nos municípios com backhaul de fibra, a qualidade do serviço fica aquém do desejado, mostra o estudo do Ipea: a média de velocidade de banda larga nos 2.221 municípios com backhaul de fibra é 5 Mbps (Megabits por segundo). Norte e Nordeste também têm as velocidades mais baixas.

Para Borsato, a velocidade da internet está atrelada ao investimento de melhoria da rede de acesso, mais necessariamente na "última milha", ou seja, no trecho em que a rede chega à casa ou empresa do cliente. Já os preços, que de acordo com o Ipea aumentariam a inclusão de domicílios com acesso à banda larga, dependem da redução da carga tributária, que conforme o diretor de Operações da Sercomtel, chega a quase 40%. "O problema da redução de preço está relacionada à questão tributária."

A Sercomtel possui uma rede legada de acesso baseada em rede metálica, que carece de investimento, afirma o diretor. "Chegamos em um ponto que as velocidades estão extrapolando tanto que a gente não consegue mais atender com essa rede metálica. Então, precisamos de uma rede ótica." Em alguns pontos limítrofes da cidade, distantes de armários da operadora, a oferta de velocidade fica restrita a 2 a 5 Mbps, diz Borsato. Nos últimos anos, a média de investimento da Sercomtel na sua rede foi, em média, de R$ 25 milhões.

Desafio é usufruir todo o potencial

Acompanhar a evolução da tecnologia para que todo o potencial da banda larga seja usufruído é um grande desafio, opina Paulo Sendin, membro do Fórum Desenvolve Londrina e consultor da Adetec (Associação do Desenvolvimento Tecnológico de Londrina). "Em Londrina, ou em qualquer outra cidade, é muito difícil usufruir de todo o potencial da banda larga, pois a cada dia novas tecnologias são ofertadas." Porém, ele destaca que o desenvolvimento de qualquer região depende da qualidade de sua infraestrutura. "Como a banda larga é uma infraestrutura importante, sua disponibilidade e qualidade têm impactos na economia local."

Na visão de Pedro Sella, diretor de Ciência e Tecnologia da Codel (Instituto de Desenvolvimento de Londrina), o investimento na infraestrutura de banda larga é importante mesmo em cidades bem supridas como Londrina. "A população tem acesso à internet, mas nem todos têm acesso à internet banda larga. A alta velocidade não chega para todo mundo, e muito menos a um preço acessível. Com um maior investimento, com uma maior demanda por banda larga, com certeza os custos vão cair e as pessoas podem entrar."

Para o diretor da Codel, a banda larga é essencial para o desenvolvimento de setores chaves da cidade, como a prestação de serviços e o agronegócio. "Você tem uma cidade que na sua composição é muito forte em prestação de serviços, e para a prestação de serviços com valor agregado se faz necessário esse investimento em infraestrutura de banda larga. Isso também com relação ao agro. A parte de desenvolvimento de tecnologias para o agronegócio precisa também da expansão da banda larga, principalmente na zona rural." (M.F.C.)