Por mais de duas décadas, Cleusa Furtado carregou um sentimento de culpa pelo aborto. Mesmo acreditando "ter feito a coisa certa", os traumas são grandes. Foi somente no fim do ano passado, quando o papa Francisco autorizou padres a perdoarem o aborto, que ela pôde sentir-se melhor. "Fui na minha paróquia me confessar e o padre me perdoou. Esperei tanto para ouvir isso. Foi a melhor coisa que me disseram na vida", revela. Até então, apenas os bispos tinham o poder de perdoar casos de aborto.

Hoje, aos 47 anos, Cleusa continua vivendo na zona norte da cidade com três filhos: Roberto, de 30 anos, e os dois mais novos que ela teve depois do aborto: Leonardo, de 25, e Matheus, de 18. "Quando eu engravidei do Leonardo, dois anos após ter abortado, a pediatra me chamou de irresponsável. Falei pra ela que a criança iria nascer saudável e que ela iria cuidar dela. Não deu outra. No dia que ele nasceu, ela estava de plantão. A única coisa que ele tinha era a língua presa", conta.

Depois de abraçar o filho caçula, ela faz uma análise da vida. "É claro que eu queria que meu filho que não nasceu fosse saudável, mas se isso tivesse acontecido, provavelmente não teria tido o Matheus, que é uma bênção pra mim. Acho que Deus sabe o que faz." (C.F.)