Depois de morar um ano na Nova Zelândia, na adolescência, a estudante de arquitetura Danaê Fernandes, 24 anos, adotou a bicicleta como principal veículo de locomoção. Mesmo tendo um carro à sua disposição, é com o veículo de duas rodas que ela vai à universidade e à maioria de seus compromissos. "Uso o carro só em algumas situações, como por exemplo quando o lugar que tenho que ir é muito distante ou muito isolado. À noite, por segurança, também acabo optando mais pelo carro. Mas acho isso um contrassenso, porque se mais gente usasse bicicletas à noite, o perigo seria menor", defende a jovem, que tem na ponta da língua as vantagens do seu meio de locomoção preferido: economia de tempo, menos estresse e uma percepção mais apurada do ambiente urbano.
"A bicicleta dá mais vida para as pessoas e permite um outro tipo de convívio com a cidade. Pedalando, é possível apreciar momentos do dia a dia que não são perceptíveis de dentro de um carro", afirma. A estudante observa que no Brasil ainda impera a cultura individualista do carro, que geralmente é atrelado à condição social e ao status. "Isso é algo ultrapassado. Os países desenvolvidos já passaram por isso, lá na década de 50. Aqui ainda estamos estimulando o consumo sem ter condições a curto prazo de ampliar a estrutura urbana para abrigar tantos carros. Quer dizer: salvamos a economia do País mas comprometemos nossas cidades."
A futura arquiteta lembra que a ideia reinante, por aqui, é que a única solução para os problemas do trânsito está em aumentar a largura das vias, quando se deveria pensar também em diminuir a quantidade de carros. "É claro que precisamos de planejamento, não podemos abrir mão de vias rápidas para o tráfego, mas é preciso que continuem a existir ruas mais tranquilas onde as pessoas possam transitar", argumenta.
A responsabilidade de cada um com a ocupação do espaço urbano é uma preocupação de Danaê. Tanto que, ao revelar que sua família é composta de quatro pessoas e que há quatro carros em sua casa, ela trata logo de avisar: "Não tenho o menor orgulho disso". A jovem ressalta, porém, que muitos projetos não priorizam transportes alternativos e são mal servidos de linhas de ônibus. É o caso do condomínio fechado em que mora, na Zona Sul. "Aqui é um lugar feito para as pessoas chegarem de carro. Para quem depende de ônibus é terrível."
Em suas andanças sobre duas rodas, Danaê aprendeu a prever os perigos e a se defender deles. Segundo ela, via de regra os motoristas não têm paciência para andar atrás de bicicletas. "Eles querem passar na frente a todo custo, mesmo que dali a alguns metros os dois tenham que parar no semáforo." Mas há também aqueles que, de acordo com a ciclista, simplesmente ignoram a presença da bicicleta, colocando em risco a vida de quem a dirige.