A 3ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Paraná decidiu por unanimidade não acatar recurso do Ministério Público do Paraná que pedia a manutenção de delações premiadas sobre um fato revelado em 2015, na esteira das investigações da Operação Voldemort.

A decisão favorece o tenente-coronel Samir Elias Geha, acusado pelo Ministério Público de ter adulterado a quilometragem de um automóvel na oficina Providence, de Cambé (Região Metropolitana de Londrina), para obter maior valor de venda, além do mecânico Ismar Ieger, considerado pelo Ministério Público proprietário "laranja" da oficina e integrante de um esquema criminoso liderado por Luiz Abi Antoun.

A decisão é do início do mês e segue o entendimento do relator no TJPR, o desembargador Gamaliel Seme Scaff, que sustentou a tese na Teoria dos Frutos da Árvore Envenenada, que considera a delação "prova ilícita por derivação".

De acordo com o coordenador do Gaeco (Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado) em Londrina, Jorge Barreto, anteriormente a defesa havia alegado que a denúncia não poderia ter sido aceita com o depoimento de Geha tendo sido colhido com ele na condição de testemunha, mas sim de investigado.

"O que o Tribunal entendeu foi que quando da inquirição do coronel Geha, à época ele teria sido ouvido como testemunha e teria que ter sido ouvido como investigado, portanto teria que ser dado o direito dele permanecer em silêncio, o que não ocorreu, esta foi a alegação", relembra.

De acordo com Barreto, este fato não traz nenhum prejuízo à Operação Voldemort, que resultou em uma ação por improbidade administrativa proposta pelo MP à Justiça no início de 2018.

Relembre

Segundo apurou o Ministério Público durante as investigações sobre a contratação da oficina Providence pelo Governo do Estado, foram identificadas mensagens entre Geha e Ismar Ieger que tratavam da alteração na quilometragem. A mudança no odômetro do veículo Corolla seria de 68 mil para 48 mil km. Em seguida o automóvel ano 2011 foi levado à MK veículos, cujo gerente é o vereador Jamil Janene (PP), e revendido a um policial militar da reserva por R$ 49,8 mil.

Dois dias depois de deixar o veículo na revendedora, Geha foi até a loja "dizendo que havia uma adulteração e que não queria prejudicar a nossa empresa, foi quando ficamos sabendo do problema", disse o vereador à época ao Portal Bonde. "Como o carro não estava mais com a gente o Geha pediu uma declaração dizendo que tinha feito o alerta para a nossa empresa", concluiu.

A reportagem entrou em contato com Samir Elias Geha e, pelo celular, foi informada de que ele não utilizava mais este número. À época da investigação, todos os citados negaram participação em esquema ilícito.