Imagem ilustrativa da imagem Superficialidade marca planos de governo
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Além de saúde, educação, meio ambiente, mobilidade urbana e questões de gênero também aparecem em praticamente todos os planos



Anexar o plano de governo no momento em que um candidato faz a inscrição para disputar o cargo de prefeito é uma obrigação, mas o conteúdo desses documentos nem sempre reflete o que o postulante, de fato, planeja caso venha a ser eleito ou, então, deixa a desejar em razão da falta de profundidade. É o que se verifica nesta eleição, em Londrina. Os planos de governo da maior parte dos oito candidatos ainda são constituídos por tópicos e tratam a maior parte dos assuntos de modo superficial.
De maneira geral, todos os candidatos apresentaram propostas nas áreas de saúde, educação, esporte, cultura, lazer, meio ambiente, assistência social, transporte, trabalho, gestão pública, habitação, infraestrutura, segurança pública, turismo e desenvolvimento econômico, social ou industrial. Outros temas, como mobilidade urbana e questões de gênero, também aparecem em praticamente todos os planos, mas apenas citados genericamente. E temas mais espinhosos são negligenciados por quase todos os candidatos, com planejamento tributário.
"Em alguns casos, as propostas são embrionárias, apenas um rascunho, muito genéricas, informam o básico do básico", avalia o professor Elve Miguel Cenci, do Departamento de Filosofia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Os adjetivos, afirma o analista, podem ser aplicados às propostas de Sandra Graça (PRB) e Valter Orsi (PSDB), com dez páginas cada uma.
Com quase nenhuma inovação, Sandra formula as propostas para as diversas áreas em tópicos, se comprometendo a implantar, a ampliar ou a desenvolver programas e serviços públicos. Orsi faz referências às parcerias público-privadas em quatro tópicos do programa. "É o olhar de um empresário", conclui Cenci.
André Trindade (PPS), cujo plano é o mais enxuto, com apenas cinco páginas e também sem novas propostas, se propõe a dar continuidade à atual administração do prefeito Alexandre Kireeff (PSD). "É o único que assume abertamente como alguém que continuaria a atual administração e se coloca claramente como um herdeiro de Kireeff", avalia. Oficialmente, o candidato do prefeito é Orsi, cujo vice, Ricardo Rezende, pertence ao seu partido.
O plano de governo do petista Odarlone Orente, com nove páginas, é o mais pragmático. Médico na área de saúde pública, o candidato enfatiza as ações de saúde e, pontualmente, diz quais são as propostas para o setor. Nas outras áreas oferece ideias mais objetivas com menor discussão teórica.
Luciano Odebrecht (PMN) apresentou um programa com 18 páginas, em que aborda praticamente todos os temas da política local, passando por gestão pública, desenvolvimento, questão dos animais e grupos vulneráveis, como a comunidade LGBT. "É um programa genérico. É mais um protocolo de intenções. Contempla os vários aspectos, mas não aprofunda e não diz a que veio", avalia Cenci.
Quanto ao programa de Flávia Romagnoli, Cenci afirma que tem a "cara da Rede", que trabalha com conceitos com sustentabilidade e democracia participativa. Em dez páginas, a candidata divide as propostas em seis eixos, tratando dos principais temas políticos, inclusive levantando a bandeira da educação integral. "Foi uma bandeira de eleições passadas, assim como a Sercomtel já ocupou este espaço. Nestas eleições, acho que a bandeira é o desenvolvimento. Todos os candidatos estão se debruçando sobre isso", comenta o professor.

PP
Para Elve Cenci, o plano de governo do candidato Marcelo Belinati (PP) se destaca entre as propostas feitas pelos adversários. "É mais avançado, mais elaborado, embora tenha ainda um caráter genérico, um discurso abrangente", avaliou o professor. "E também leva a marca, tem a cara do Marcelo, com traços populistas." Para ele, o plano mais robusto pode ser decorrente do fato de que o pepista é o único que disputará o cargo pela segunda vez, ou seja, algumas propostas podem ter surgido da eleição passada, especialmente do segundo turno, em que acabou derrotado por Kireeff.
Em 29 páginas, Belinati engloba um diagnóstico e propostas, e não dispensa críticas ácidas à atual administração, como expressões como "modelo ultrapassado", "decisões autocráticas" e "gestão meramente reativa". Para Cenci, essas críticas têm razão de existir, mesmo que Kireeff não seja candidato à reeleição, já que pelo menos três candidatos não fazem oposição ao prefeito. "O Marcelo precisa desconstruir o Kireeff para desconstruir esses candidatos que se assumem como sucessores do prefeito, mesmo que de forma genérica", opinou.