A fase de discussão dos senadores no julgamento da presidenta afastada Dilma Rousseff deve durar ainda cerca de nove horas. Até pouco antes das 17h30, 17 parlamentares já falaram sobre suas convicções sobre o crime de responsabilidade atribuído à presidenta. Como 66 senadores se inscreveram para discursar, 49 ainda devem subir à tribuna do plenário do Senado.

Cada um fala por dez minutos ininterruptos e improrrogáveis. A expectativa é que o tempo total de fala deles ainda dure pouco mais de oito horas. Como tem ocorrido nos últimos dias de julgamento, o presidente do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski – que conduz os trabalhos – deve conceder intervalo de uma hora entre as 18h e as 19h.

Assim, a previsão, até o momento, é que a sessão prossiga até por volta da 1h de amanhã (30), quando deve ser suspensa para ser retomada na manhã desta quarta-feira. No entanto, o período de discussão pode ser ainda maior, porque a lista de inscrição permanece aberta e a qualquer momento os senadores podem pedir para acrescentar seus nomes.

Discursos

Alguns senadores, como já era esperado, têm posição clara sobre o impeachment e declaram abertamente suas convicções. É o caso de Álvaro Dias (PV-PR), antigo opositor dos governos petistas, que disse ter a certeza de que a presidenta cometeu os crimes de responsabilidade dos quais é acusada.

"Crime de responsabilidade porque as pilastras básicas da Lei de Responsabilidade Fiscal foram violadas; porque houve uma afronta à Constituição do país e um atentado contra o Poder Legislativo", afirmou o parlamentar em seu discurso.

Senadores aliados da presidenta afastada, como Lídice da Mata (PSB-BA), saíram em defesa de Dilma. Para Lídice, o julgamento faz parte de uma "farsa". "O impeachment é apenas um instrumento para a consumação do golpe, para entregar o poder a partidos políticos e programas derrotados nas urnas", afirmou.

Alguns senadores, no entanto, optaram por manter o voto ainda em suspense, como Acir Gurgacz (PDT-RO), que optou por falar sobre as necessidades do país e evitou declarar como votará. "Os empréstimos dos bancos públicos e a edição de créditos suplementares, alternativas contábeis usadas pelo governo para fechar as contas de 2015, que são as questões que fundamentam este processo, são importantes e deveriam ser a base desse julgamento, mas se tornaram secundárias, na medida em que o processo se tornou mais político que jurídico", disse.

DILMA DEFENDE BIOGRAFIA E SE DIZ INOCENTE

Por: Folhapress

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"Cassar em definitivo meu mandato é como me submeter a uma pena de morte política", sustentou Dilma



Brasília - Afastada do poder há mais de cem dias e com poucas chances de mudar o desfecho da crise política, a presidente Dilma Rousseff usou a ida ao Senado nessa segunda-feira (29) para defender sua biografia e dizer ter sido vítima de um golpe parlamentar orquestrado pela oposição ao seu governo e pelo deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

A petista lembrou de sua condenação pelo "tribunal de exceção" da ditadura e de sua recente luta contra um câncer. Afirmou que, primeiro torturada, e depois, doente, teve medo de morrer. Relacionando os episódios ao momento atual, concluiu: "Hoje, eu só temo a morte da democracia". Dilma foi recebida por um plenário silencioso e, sem aplausos ou vaias, fez um discurso de 47 minutos em que afirmou ser inocente, disse que não cometeu crime de responsabilidade e chamou o governo do presidente interino, Michel Temer (PMDB), de "usurpador".

A previsão é a de que Temer tenha nesta terça (30) - ou na quarta (31), caso o julgamento se estenda - no mínimo 59 votos a favor da destituição de Dilma dos 81 possíveis, cinco a mais do que o necessário para ele ultrapassar a interinidade. "Tenho a consciência tranquila. Não pratiquei nenhum crime de responsabilidade. As acusações dirigidas contra mim são injustas e descabidas. Cassar em definitivo meu mandato é como me submeter a uma pena de morte política", sustentou Dilma.

Em linhas gerais, a presidente afastada afirmou aos senadores a tese de que, desde o início do seu segundo mandato, foi alvo de "boicote" político e parlamentar patrocinado por adversários, o que, segundo ela, contribuiu para o agravamento da crise econômica pela qual passa o país.

Dilma fez questão de se dirigir aos senadores com respeito e ponderação e os diferenciou da junta militar que a condenou na ditadura. "Tenho por todos o maior respeito, mas continuo de cabeça erguida, olhando nos olhos dos meus julgadores. Sofro de novo com o sentimento de injustiça e o receio de que, mais uma vez, a democracia seja condenada junto comigo", disse.
Ao concluir seu pronunciamento, foi aplaudida por aliados, entre eles o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o cantor e compositor Chico Buarque, que assistiram Dilma da galeria do Senado.

EMBATE
Após o discurso, replicou a postura respeitosa no embate direto com os parlamentares. Esse era o momento mais temido por aliados da petista, famosa por ser explosiva na adversidade. Nem o confronto com seu adversário nas eleições de 2014, Aécio Neves (PSDB-MG), fugiu ao roteiro da civilidade.

Aécio abriu sua fala dizendo que "não poderia imaginar" que ele e Dilma voltariam a se encontrar "nessa condição". Ele trouxe o tema do estelionato eleitoral e questionou o quanto Dilma se sentia responsável, por exemplo, pelos 12 milhões de desempregados hoje no país.
A presidente usou um elogio a Aécio para alfinetar Temer, dizendo que respeitava o tucano por ele ter disputado "uma eleição direta", mas acusou a oposição de sabotar seu governo e patrocinar as chamadas "pautas-bomba".

Afirmando ter sido alvo de chantagem de Cunha, então presidente da Câmara, que teria exigido do PT apoio para escapar da cassação em troca de barrar o impeachment, Dilma disse que seu governo sofreu um "boicote".

"Tenho a clareza de que se uniram duas forças: a que queria estancar a sangria [da Lava Jato] e a que não queria pôr fim à crise que o país vivia."

Em nota, Cunha afirmou que Dilma mente e que foi o governo dela quem propôs um acordão.
Senadores aliados à petista deram ao discurso um caráter "histórico". Já a oposição disse que a presidente afastada politizou questões técnicas. "Ela sempre fala a mesma coisa, não importa. Se você indagar se ela fez as pedaladas fiscais ou se ela sabe quem matou Odete Roitman [personagem de uma novela dos anos 80], ela vai responder a mesma coisa", ironizou Aécio.
Dilma demonstrou decepção com a fala de José Aníbal (PSDB-SP). "Daqui a algumas horas, sua presidência não existirá", disse o tucano.

A presidente afastada, que militou contra a ditadura ao lado do senador, foi direta: "Estou estarrecida que isso tenha partido do senhor, que me conhece há tantos anos". Até as 20h20 dessa segunda, 34 dos 50 senadores que se inscreveram já haviam questionado Dilma.

PRÓXIMOS PASSOS
A sessão foi retomada às 9h desta terça e pode ir até a madrugada. Os senadores terão, cada um, 10 minutos de fala. O presidente da sessão, Ricardo Lewandowski, apresentará resumo da acusação e defesa e dois senadores contra o impeachment e dois senadores a favor falam por 5 minutos cada um. Após isso, será aberta a votação nominal e eletrônica sobre a seguinte pergunta: "Dilma Rousseff cometeu os crimes de responsabilidade?". Para cassar Dilma, é necessário o apoio de ao menos 54 dos 81 senadores