Após ser ouvido por Sérgio Moro, Lula se dirigiu à Praça Generoso Marques onde discursou para cerca de sete mil simpatizantes
Após ser ouvido por Sérgio Moro, Lula se dirigiu à Praça Generoso Marques onde discursou para cerca de sete mil simpatizantes | Foto: Ricardo Stuckert/Fotos Públicas



Curitiba - O segundo depoimento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao juiz federal Sérgio Moro no âmbito da Lava Jato, ontem, em Curitiba, foi marcado por protestos e homenagens. Lideranças do PT, como Gleisi Hoffman, presidente nacional do partido, de centrais sindicais e do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST) aguardaram a chegada de Lula em frente à sede da Justiça Federal do Paraná (JFPR), no bairro Ahú, com bandeiras, cartazes, faixas e vestindo camisetas vermelhas. Já críticos se manifestaram no Museu Oscar Niemeyer (MON), no Centro Cívico.

Lula chegou à JFPR às 13h45, desceu do carro e caminhou rapidamente entre os populares, perto do isolamento imposto pela Polícia Militar (PM), acenou, mas não conseguiu discursar, o que viria a fazer no fim do dia. O interrogatório começou às 14h15 e terminou pouco mais de duas horas depois. "Foi uma chegada de novo nos braços do povo (…) A única dúvida que a gente tem é se o juiz vai cumprir e observar o devido processo legal, o que não aconteceu da outra vez, porque a sentença dele não tem base jurídica. E isso não sou eu que estou dizendo. São 122 juristas brasileiros de renome internacional", disse Gleisi, à FOLHA.

Sem poder acompanhar a oitiva, os militantes seguiram em caminhada até a Praça Generoso Marques, no centro da capital, onde aconteceu um ato. Houve apresentações culturais e uma "aula pública" com Eugênio Aragão, professor da Universidade de Brasília (UnB) e ex-ministro da Justiça durante o governo de Dilma Rousseff (PT). De acordo com os organizadores, mais de sete mil pessoas acompanharam a "Segunda Jornada de Lutas pela Democracia". Entre os principais gritos, era possível ouvir o tradicional "olê olê olê olá, Lula, Lula" e "Lula ladrão roubou meu coração".

O homenageado apareceu às 18h30 e subiu no caminhão de som na sequência. Em discurso, falou que se sentia orgulhoso, e não nervoso, por "incomodar tanto". "A única coisa que eu peço é que quem está me acusando tenha a dignidade de, se não provar um real errado na minha conta, ir à mesma televisão onde me acusa e pedir desculpas (…) Tenho consciência do porquê das mentiras que são contadas todo santo dia contra mim. Investiram tanto acompanhando a minha vida, gravando Marisa e eu, Dilma e eu, me filmando e filmando meus filhos, invadindo a nossa casa, e até agora não encontraram uma única verdade (...) Ao final, vão ter de afirmar: 'Não temos provas contra o Lula e mentimos’."

Com a voz rouca, ele falou que pretende continuar sua peregrinação pelo Brasil. "Cometi graves erros nesse País. Sonhei em fazer da Petrobras a maior petroleira do mundo, em fazer uma indústria naval com coreanos e chineses, com que a energia limpa pudesse ser competitiva. Sonhei que era possível fazer o filho de uma empregada doméstica cursar um doutorado, o filho do pedreiro virar engenheiro, um jovem da periferia virar doutor e a juventude ter esperanças." Ainda segundo o petista, ninguém que tenha defendido os pobres, "nenhum ser humano ou estadista resiste à sangria e ao ódio da elite perversa que domina o mundo". "Mas não vou cansar. Quem quase morreu de fome no Nordeste não tem medo. Vou provar que a gente vai consertar esse País."

Além de Gleisi, os senadores Lindbergh Faria (PT), Humberto Costa (PT), Fátima Bezerra (PT) e Roberto Requião (PMDB) participaram do ato, ao lado de vereadores, prefeitos, deputados estaduais e federais, sindicalistas e ex-ministros, como Alexandre Padilha (Saúde). "No Congresso Nacional não vejo esperanças. A mobilização é o caminho", discursou Requião.

Ouvido em maio na ação do tríplex do Guarujá, em que foi condenado a 9 anos e meio de prisão, desta vez Lula prestou depoimento no processo em que é acusado de ter sido beneficiado pela empreiteira Odebrecht com a compra de um terreno de R$ 12,4 milhões destinado a ser a nova sede do Instituto Lula – mudança que acabou não saindo do papel – e mais um apartamento de R$ 504 mil em São Bernardo do Campo (SP).