Imagem ilustrativa da imagem Protestos impedem ‘clima de normalidade’ como queria o governo
| Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil


Brasília - O caos que se instalou na Esplanada dos Ministérios com as manifestações contra o presidente Michel Temer teve consequências diretas do lado de dentro do Congresso, anulando, ao menos até o início da noite desta quarta-feira (24), qualquer possibilidade de se dar o "clima de normalidade" que o governo havia cobrado de aliados para minimizar os efeitos da crise política.
Deputados chegaram a se agredir fisicamente e, até o início da noite, quando partidos de oposição resolveram abandonar o plenário, o governo não havia conseguido votar absolutamente nada na Câmara. Decreto assinado pelo presidente Michel Temer nesta quarta-feira autoriza o emprego das Forças Armadas até a próxima quarta-feira (31) na capital federal.

Sob gritos de "fora, Temer!" e "Diretas Já!", deputados da oposição ocuparam a Mesa Diretora, quando o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), deixou a sessão para conversar com Temer.

Diante da mesa, oposicionistas abriram uma faixa onde se lia "#FORATEMER". O deputado Mauro Pereira (PMDB-RS) arrancou a faixa, dando início a um pequeno tumulto. Deputados chegaram a se empurrar.

Maia reassumiu o comando da sessão e tentou conduzir a votação de uma Medida Provisória mesmo cercado por deputados de oposição com cartazes.

Foi questionado sobre sua participação na edição do decreto do presidente Michel Temer que autoriza a atuação das Forças Armadas nas ruas do Distrito Federal.
O governo atribuiu a medida a uma solicitação de Maia, que negou. "Afirmo e reafirmo que não é verdade", disse o presidente da Câmara, que pediu para o ministro da Defesa, Raul Jungmann, "restabelecer a verdade".

Maia também divulgou à imprensa o ofício em que solicita apenas o uso da Força Nacional, formada por policiais militares e civis e integrantes das Forças Armadas na reserva.

No Senado, também houve bate-boca e o líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), usou a convocação do Exército para criticar o governo.

"Beira a insensatez fazer isso num momento em que o país pega fogo", disse o peemedebista. "Se esse governo não se sustenta, é verdade, não serão as Forças Armadas que vão fazê-lo", afirmou Renan Calheiros.

Manifestantes tentaram invadir ministério: Esplanada vira praça de guerra com vários feridos e muitos prédios públicos depredados
Manifestantes tentaram invadir ministério: Esplanada vira praça de guerra com vários feridos e muitos prédios públicos depredados | Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil



O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), rebateu, afirmando que o governo não está caindo", que "não está vago", e que ninguém pode falar que o PMDB não apoia mais Michel Temer.

Aliados de Michel Temer procuraram minimizar o desgaste de todas as confusões ao longo do dia.

"A manifestação que tem aí fora é uma manifestação até pequena pelas informações da internet. Não tem impacto nenhum [para a imagem do governo]. A população não gosta de ver depredação. Isso denigre a imagem de quem faz manifestação", disse o deputado Beto Mansur (PRB-SP).

A oposição reagiu. "O governo sai mais fragilizado. Isso aprofunda a crise e revela a fragilidade de Temer em permanecer à frente do governo", disse o deputado Paulo Pimenta (PT-RS), antes de deixar o plenário junto com os outros oposicionistas.

'ANOS DE CHUMBO'
Em nota publicada no início da noite desta quarta-feira (24), presidente do PT, Rui Falcão, afirmou que a decisão do Planalto de recorrer às Forças Armadas depois dos protestos em Brasília é "desnecessária e desmedida". "Ela nos remete a retrocessos típicos dos anos de chumbo da ditadura militar", escreve o petista.
Segundo Falcão, "o governo golpista e ilegítimo de Michel Temer descortinou hoje sua face mais autoritária e antidemocrática", ao "patrocinar um ataque violento contra manifestantes que se reuniram pacificamente".
"A demonstração de força foi totalmente injustificada e covarde."
Na nota, o partido reafirma sua posição contrária às reformas e defende a convocação de eleições diretas. "O dia de hoje sacramentou o fim do governo ilegítimo do golpista Michel Temer".
O deputado federal Reginaldo Lopes (PT-MG) pediu ao Congresso que suspenda o decreto que convoca as Forças Armadas para atuar em Brasília. Já o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) protocolou no Supremo Tribunal Federal um mandado de segurança contra o decreto presidencial de Temer que autoriza o uso das Forças Armadas para reprimir manifestações. O senador alega que tal medida só se mostra cabível quando esgotados todos os meios normais para o restabelecimento da lei e da ordem.