De acordo com a Lava Jato, mesmo afastado da Câmara Eduardo Cunha emplacou o aliado Maurício Quintella (PR-AL) como ministro de Michel Temer
De acordo com a Lava Jato, mesmo afastado da Câmara Eduardo Cunha emplacou o aliado Maurício Quintella (PR-AL) como ministro de Michel Temer | Foto: Andressa Anholete/APF



São Paulo, Curitiba e Brasília - O ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) foi preso pela Lava Jato em Brasília nessa quarta (19), 37 dias depois de ter o mandato cassado pela Câmara. A prisão foi ordenada pelo juiz federal Sérgio Moro na segunda-feira (17) a pedido do Ministério Público Federal na ação em que Cunha é réu sob acusação de corrupção, lavagem de dinheiro e evasão de divisas.
Ao justificar a medida, o juiz afirmou, entre outras coisas, que "a dimensão e o caráter serial dos crimes estendendo-se por vários anos, é característico do risco à ordem pública".
Segundo as investigações, o ex-deputado recebeu R$ 5 milhões de propina em contas na Suíça, abastecidas com dinheiro de contratos de exploração de petróleo da Petrobras na África.
Moro assumiu o caso na semana passada depois que Cunha perdeu o foro privilegiado no Supremo Tribunal Federal (STF).
A prisão preventiva, por tempo indeterminado, foi efetuada pela Polícia Federal pouco depois das 13h no prédio funcional em Brasília onde Cunha ainda ocupava, irregularmente, um apartamento. À tarde, ele foi transferido em avião da PF para a carceragem em Curitiba, onde passou a primeira noite sozinho numa cela.
Segundo a reportagem apurou, Cunha afirmou a agentes que sua prisão era um "engano".

APREENSÃO NO GOVERNO
Apesar de cogitada nos últimos meses nos bastidores, a prisão causou imediata surpresa e apreensão no Planalto e no Congresso. O presidente Michel Temer estava em viagem do Japão ao Brasil no momento em que o ex-presidente da Câmara foi detido.
Seu governo teme que uma eventual delação premiada de Cunha possa atingir não só o presidente, seu colega de partido, mas auxiliares de confiança, como Moreira Franco, declaradamente considerado um desafeto por Cunha. A assessoria da Presidência não comentou.
No pedido à Justiça, 13 procuradores argumentam que a detenção era necessária para impedir que o ex-deputado continuasse a operar.
Citaram a nomeação de um aliado dele no governo Temer, Maurício Quintella (PR-AL), como ministro dos Transportes, Portos e Aviação Civil. "Quintella havia votado em favor de Eduardo Cunha no Conselho de Ética", afirmam.
Cláudia Cruz, mulher do ex-deputado e também ré na Lava Jato, estava em Brasília quando o marido foi preso, mas não foi alvo de medida cautelar por parte de Moro.
Em seu despacho, o juiz destacou que havia risco de fuga por parte do ex-deputado federal, que tem dupla nacionalidade (brasileira e italiana), o que "poderia inviabilizar eventual extradição".
"O apelo à ordem pública, seja para prevenir novos crimes, seja em decorrência de gravidade em concreta dos crimes praticados, é causa suficiente para justificar a decretação da preventiva", disse o juiz no despacho.
Moro determinou ainda o bloqueio de documentos dos veículos localizados em poder do ex-deputado e de sua família. "A habilidade do acusado em ocultar e dissimular propinas, com contas secretas no exterior, parte não totalmente identificada nem sequestrada, permanece incólume", disse o juiz.
Segundo o pedido de prisão, "permanece oculto um patrimônio de aproximadamente US$ 13 milhões", o equivalente a R$ 41,3 milhões. Esse montante estava em contas fora do Brasil que foram fechadas por Cunha, segundo os procuradores.
A força-tarefa também apontou uso de dinheiro proveniente de crimes para pagar o casamento de uma das filhas do ex-deputado.
Uma ação de improbidade já havia decretado o bloqueio de bens de Cunha até o valor de R$ 220,7 milhões, o que não significa que ele tenha esse montante. É uma estimativa dos prejuízos causados pelo ex-deputado aos cofres públicos.