Curitiba – Um total de 30,6 milhões de votos, sendo 1,69 milhão no Paraná, não teria sido contabilizado se o "distritão" estivesse em vigor nas eleições para a Câmara Federal de 2014. A conclusão é do cientista político Jairo Nicolau, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que publicou em 19 de julho um artigo sobre o tema. No levantamento, ele considerou a soma de votos recebidos pelos candidatos de todo o País que não foram eleitos, mas que foi levada em conta no cálculo do quociente eleitoral para eleger os deputados na disputa.

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Nicolau analisou os votos dos parlamentares vitoriosos e não vitoriosos dos 28 partidos com representação na Casa. De acordo com ele, o Amapá seria o campeão do "desperdício", com 61,9%, ou seja, 368.332 votos descartados. Na sequência, viriam Rondônia, com 52,7%, e Espírito Santo, com 50,2% de escolhas "inúteis". Já as menores perdas seriam registradas em Pernambuco, com 24,4%, e Ceará, com 25,4%. Em São Paulo, por sua vez, 6,7 milhões de votos, isto é, 34,9%, seriam jogados no lixo, enquanto no Paraná o percentual seria 31,8 (veja infográfico).

O professor lembra que o sistema proporcional em vigor no Brasil tem uma diferença fundamental em relação ao distritão: os votos dos candidatos de um mesmo partido ou coligação são somados antes que as cadeiras sejam distribuídas. No Rio, caso o "distritão" fosse aplicado, nem mesmo o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), teria sido eleito. Ele recebeu apenas 53.167 votos e, portanto, só assumiu uma cadeira graças à "ajuda" dos colegas de chapa. O quociente eleitoral é resultado da divisão do número de votos pelo número de assentos a preencher.

Imagem ilustrativa da imagem No Paraná, 31,8% dos eleitores teriam seus votos desperdiçados em 2014



Outro aspecto destacado no estudo é a suplência dos deputados. Atualmente, quando um parlamentar deixa o mandato, ele é substituído por alguém do mesmo partido/ou coligação. Por isso, é comum que que presidentes, governadores e prefeitos nomeiem deputados e vereadores para cargos no Executivo. Com o distritão, essa prática não deverá ser utilizada com tanta frequência, já que a posição política do suplente será totalmente aleatória em relação ao titular. "Um deputado federal conservador poderá, por exemplo, ser nomeado ministro, e ser substituído por um suplente de esquerda", comentou o autor.

"Por que estão tão entusiasmados com essa proposta? O que ganharíamos com ela, em termos de melhoria na representação política, na aproximação do representado com o representante ou no fortalecimento dos partidos políticos?", questionou Nicolau, em entrevista por telefone à FOLHA. "Não vejo justificativas persuasivas para adaptar, na correria, um sistema que tem muitos defeitos, mas que está há mais de 70 anos em vigor. Razões existem, mas não acho que sejam nobres. Ademais, nenhuma democracia hoje o utiliza, ou seja, não temos informações a respeito do funcionamento ", prosseguiu.

Segundo o cientista político, caso a proposta seja mesmo aprovada, os efeitos sobre a política brasileira podem ser devastadores. "A gente vai colocar a pá de cal nos partidos. Eles só terão um papel: selecionar os candidatos, que depois vão tentar a sorte e competir contra todos. É radicalizar o individualismo nas campanhas", destacou. (M.F.R.)