Protesto feminista ocorrido no Rio em 2014: mulheres de todo o País vão às ruas no dia 8 de março contra a desigualdade de gênero e a violência
Protesto feminista ocorrido no Rio em 2014: mulheres de todo o País vão às ruas no dia 8 de março contra a desigualdade de gênero e a violência | Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil



Curitiba - Membros de diferentes movimentos feministas estão se organizando para aderir a uma greve mundial e militante no 8 de março, Dia Internacional de Luta das Mulheres. A ideia tomou corpo após ativistas norte-americanas como Angela Davis e Nancy Fraser publicarem um manifesto no jornal "The Guardian" que denuncia a violência masculina e pede respeito aos direitos reprodutivos. Com dizeres como "Se nosso trabalho não vale, produzam sem nós", o texto defende que a marcha contra o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, realizada em 21 de janeiro, em Washington, reunindo mais de 500 mil pessoas, seja apenas o início de uma nova onda pela igualdade de gênero.

No Paraná, há por enquanto duas mobilizações oficiais agendadas, que constam no site: uma em Paranaguá (litoral), às 18 horas, na Praça dos Leões, e outra em Curitiba, na Praça Santos Andrade, a partir das 17 horas. Por meio da rede social e da página, contudo, outros grupos ao redor do País vão se articulando para fazer seus eventos. Em Londrina, a Rede Feminista pretende promover uma ação no Calçadão, também às 17 horas, em frente à loja Pernambucanas. Mais detalhes serão divulgados nos próximos dias.

Também devem ocorrer atividades no Rio de Janeiro, em Porto Alegre, Recife, Salvador, Brasília, Goiânia, Petrópolis (RJ) e Quixadá (CE). Se não for possível parar e sair às ruas, as mulheres sugerem o uso de peças de roupa da cor lilás no dia, que se pendurem bandeiras nas casas e ainda a interrupção de tarefas domésticas e laborais em um intervalo pré-definido. "Durante a ‘Hora M’, reúna-se com suas colegas de trabalho para conversar sobre as desigualdades que afetam a todas as mulheres", diz trecho de um dos convites.

TOM POLÍTICO
Diante da conjuntura nacional, pós-impeachment de Dilma Rousseff (PT) e de crise econômica, os atos brasileiros ganharam ares políticos. Segundo uma das organizadoras da marcha na capital paranaense, Marcielly Moresco, que faz parte da Marcha das Vadias (MV), o horário já no fim da tarde foi escolhido porque muitas mulheres não conseguiriam deixar seus postos de trabalho antes. Ainda assim, elas pretendem fazer debates públicos e levantar demandas locais. "A gente tem dois motes: ‘Nem uma a Menos’ e ‘Nenhum Direito a Menos’. Entra essa discussão sobre a extinção da Secretaria Extraordinária da Mulher, as reformas trabalhistas e previdenciária e o feminicídio (homicídio cometido com viés de gênero), porque os índices são superaltos", contou.

A partir das 18 horas, as participantes caminharão até a Boca Maldita, no centro. Estão previstas sete paradas. Em cada uma, acontecerão aulas temáticas, sobre questões como o racismo, a violência e a LGBTfobia (ódio ou aversão a pessoas lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais). "Nós somos mais da metade da população brasileira, não temos representatividade nos espaços de poder, recebemos em média 30% a menos de salário que os homens na mesma função e movimentamos também a economia, além de colocarmos novas pessoas no mundo. Precisamos de políticas para as mulheres; que não sejamos invisibilizadas", defendeu Deborah Castro, da União Brasileira de Mulheres (UBM).

Mãe da menina Rachel Genofre, encontrada morta dentro de uma mala na Rodoferroviária de Curitiba, em 2008, aos nove anos de idade, a servidora pública Maria Cristina Lobo Oliveira disse que estará presente no protesto. "Temos de estar todas juntas, lutando contra o machismo. Eu acredito muito na prevenção, em trabalhar nos centros da educação infantil, no ensino fundamental, para combater essa cultura de violência." A investigação do crime de Rachel segue há anos sem solução. "A polícia continua trabalhando. A gente aguarda essa resposta, grita e clama por justiça, mas por enquanto tem que aguardar porque não tem."

PARIDADE
"É um pouco surpreendente que, em pleno século XXI, precisemos fazer esse tipo de manifestação. Mas a forma como têm se dirigido as políticas públicas, o esvaziamento do estado social e todo esse retrocesso em relação a direitos reprodutivos, somada à questão da liberdade de expressão... Está na hora de parar", afirmou a professora de Direito Constitucional e Eleitoral da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Eneida Desiree Salgado.

Na página no Facebook do projeto que coordena, o "Política por/de/para Mulheres", ela tem publicado uma série de vídeos de militantes, estudantes e integrantes de coletivos, que afirmam por que devem cruzar os braços na data. "A tentativa é reunir mulheres de vários matizes ideológicos, de vários partidos, mostrando que estamos todas juntas", resumiu. Uma das bandeiras de Desiree Salgado é justamente a igualdade e paridade de gênero nos Legislativos. Atualmente, apenas 10,72% das cadeiras na Câmara dos Deputados e 14,81% das vagas no Senado são ocupadas por pessoas do sexo feminino.

Além da MV, da UBM e do "Política por/de/para Mulheres", os atos são encabeçados por coletivos como o #partidA Curitiba, o Alzira, a Marcha Mundial das Mulheres (MMM), a Rede de Mulheres Negras (RMN), a Pastoral Trans, o Gulabi Antifa, o Tuíra, o Alicerce, o Reinventando Gêneros, o Zumbi e Dandara, a Rede Feminista de Saúde, a Ação da Mulher Trabalhista e o CWB Resiste. De acordo com Marcielly Moresco, porém, muitas estudantes secundaristas, sindicalistas, militantes de partidos e até mesmo mulheres sem envolvimento com qualquer entidade estão participando.