Imagem ilustrativa da imagem Mudanças nas 'Dez Medidas' devolvem londrinenses às ruas
| Foto: Roberto Custódio
Manifestação, realizada na Gleba Palhano, foi também para pedir a saída do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL)


Milhares de londrinenses participaram na tarde deste domingo (4) de protesto contra as alterações no pacote conhecido como "Dez Medidas Contra a Corrupção". A manifestação, que reuniu cerca de três mil pessoas, segundo a organização, ocorreu na rotatória da avenida Ayrton Senna da Silva e rua Ernâni Lacerda de Atayde (zona sul), com a presença do boneco inflável Pixuleco.

Além da contestar a aprovação de emendas às "Dez Medidas", a manifestação também foi em apoio ao juiz federal Sérgio Moro e à Operação Lava Jato e pedindo a saída do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). O protesto foi marcado pelo movimento Nas Ruas Londrina, com ajuda dos representantes do Movimento Brasil Livre (MBL). A manifestação ocorreu em sintonia com outras em diversas cidades brasileiras.

Para Cíntia Carvalho, do MBL em Londrina, a convocação da população ocorreu porque as alterações aprovadas na Câmara Federal é uma tentativa de calar juízes e promotores. "(A emenda) Tira poderes de juízes e promotores e beneficia o corrupto", argumenta.

Ricardo Corrêa, do Nas Ruas Londrina, considera o movimento atual o segundo ato da luta contra a corrupção – o primeiro terminou com o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT). Ele diz que, ao ter voz nas ruas e acesso a informações na internet, a consciência política do brasileiro amadureceu. Para ele, a votação das "Dez Medidas" com as alterações propostas, feitas na madrugada em que o acidente aéreo com o time da Chapecoense comoveu o Brasil (30 de novembro), foi uma "atitude nefasta" e que precisa ser combatida.

Presente à manifestação, o procurador de Justiça do Paraná Cláudio Esteves disse as alterações no projeto de iniciativa popular o torna incompatível com a ordem jurídica. "Se nós tivéssemos esse projeto, proposto neste momento, em vigor nas últimas duas décadas, aqui em Londrina, casos como da AMA/Comurb e as operações Antissepsia, Publicano e Voldemort não teriam acontecido como aconteceram, justamente em virtude da pretensão de se estabelecer uma lei que impeça o Judiciário de atuar adequadamente", argumenta.

Vestida de verde e amarelo, a fotógrafa Ivanete Zara Melo disse que foi às ruas na esperança de que a população se una para mudar o país e dar um basta na corrupção, além de dar um recado aos deputados federais. "O povo é soberano, e não a Câmara Federal. Os deputados estão lá para nos representar, não para aprovar medidas somente favoráveis a eles", afirma.

O representante Jânio Carlos de Souza avalia que, apesar ver melhoras no País desde o período de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), a corrupção ficou mais evidente desde então. "Está na hora de tomarmos um posicionamento e, se não acabar com a roubalheira, ao menos, amenizar isso."

O presidente da Associação Comercial e Industria de Londrina (Acil), Cláudio Tedeschi, disse que é importante a pressão popular contra a corrupção, mas ele considera importante fazer com que projetos econômicos que estão na pauta do Legislativo federal andem mais rápido. "O projeto das 'Dez Medidas' foi votado muito mais rápido que a reforma da Previdência, por exemplo. Mas essas medidas não vão mudar nosso cenário. Precisamos pensar nos 12 milhões de desempregados, em fomentar a economia", defende.

MUDANÇA
Diferente de protestos passados contra a corrupção, que tiveram concentração, na maioria das vezes, na rotatória das avenidas Higienópolis e JK, essa manifestação ocorreu na principal via da Gleba Palhano. Segundo Corrêa, o ato ocorreria, inicialmente, no local "tradicional", mas foi trocado na última hora devido à aplicação de provas do vestibular da Universidade Estadual de Londrina (UEL) no Colégio Estadual Vicente Rijo. A mudança prejudicou a notificação das autoridades. Assim, a Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização (CMTU) não esteve no local para orientar pedestres e desviar o trânsito.

A Polícia Militar também não esteve presente no início da manifestação, às 15h – chegaram por volta das 16h30. Corrêa disse que avisou as autoridades por meio do aplicativo de comunicação Whatsapp. A assessoria da CMTU informou que não houve reunião para estabelecer regras para o protesto.