Curitiba – Deputados estaduais ouvidos pela FOLHA criticaram a decisão do presidente Michel Temer (PMDB-SP) de restringir a reforma da Previdência aos servidores federais e trabalhadores do setor privado. O chefe do Executivo já havia deixado de fora da proposta as Forças Armadas, os policiais militares e os bombeiros. Agora, ficará a cargo das unidades da federação alterar ou não os fundos dos funcionários públicos estaduais e dos municipais que possuem regimes próprios.

Para o líder do governo Beto Richa (PSDB) na Assembleia Legislativa (AL) do Paraná, Luiz Cláudio Romanelli (PSB), o que Temer faz é "uma crueldade e uma vergonha". "Com medo de enfrentar as corporações organizadas, os sindicatos, ele vai de fato só punir os mais frágeis, que são os trabalhadores privados. Acho que essa reforma tem de ser rejeitada e, no lugar dela, ser amplamente discutida uma reforma que possa adequar prazos de contribuição e idade de aposentadoria", opinou.

Por outro lado, Romanelli chamou os governos estaduais a assumir suas responsabilidades. "Não se pode fazer discurso leviano, bonito apenas na retórica. O mundo real é diferente e precisamos equipar os direitos dos trabalhadores privados com os públicos. Não dá para criar privilégios. Teremos de votar aqui a criação de um fundo previdenciário complementar, de forma que possam os futuros servidores ter uma parte depositada pelo Estado e outra fruto da contribuição do valor acima do teto. E, sem retirar direitos, vamos encontrar soluções para que algumas categorias fiquem mais empo na ativa", adiantou.

Vice-líder da oposição, Requião Filho (PMDB) também considerou a reforma de Temer "muito ruim". "Ele tem o claro intuito de prejudicar o lado mais fraco, que é o trabalhador. Retira da reforma os funcionários públicos porque eles têm mais capacidade de mobilização. Então, pressionam diretamente os deputados e senadores. [O presidente] busca retirar essa capacidade de indignação e organização, deixando mais uma vez a conta para o trabalhador autônomo e o rural", comentou. "No Paraná, que tem o Mauro Ricardo [secretário da Fazenda] governando, isso sempre pode respingar, porque ideias de prejudicar o povo aqui são sempre muito bem aproveitadas", alfinetou.

O primeiro vice-presidente da AL, Guto Silva (PSD), que ontem conduziu a sessão, em substituição a Ademar Traiano (PSDB), foi mais cauteloso. "É uma medida salomônica, porque é um tema que tem de ser discutido. Felizmente, no Paraná temos uma situação diferente, porque a duras penas foi feito um trabalho [a reforma votada em 29 de abril de 2015]. Mas outros entes da federação terão enormes problemas ao discutir a questão previdenciária, que infelizmente no Brasil é um tema muito fragilizado, à margem. Essa decisão tira o ônus do presidente, mas é isso que a sociedade não quer. Temos de discutir de frente a questão dos militares, do fundo, dos Estados...".