Joesley Batista foi ouvido por mais de 8 horas pela PF, em Brasília, sobre os aportes de R$ 8,1 bilhões concedidos pelo BNDES ao grupo JBS
Joesley Batista foi ouvido por mais de 8 horas pela PF, em Brasília, sobre os aportes de R$ 8,1 bilhões concedidos pelo BNDES ao grupo JBS | Foto: Dida Sampaio/Estadão Conteúdo


São Paulo - O empresário Joesley Batista, da JBS, relatou à Polícia Federal (PF), em depoimento na Operação Patmos, desdobramento da Lava Jato, que o presidente Michel Temer (PMDB) tentou incluir o advogado José Yunes "para intermediar um acordo com uma empresa em disputa judicial em andamento contra o Grupo J&F". Segundo o executivo, o negócio renderia cerca de R$ 50 milhões a Yunes. Joesley depôs no dia 16 de junho. Nessa quarta-feira (21), o dono da JBS falou por mais de 8 horas na sede da PF em Brasília sobre aportes do BNDES.

"O acordo não foi para a frente, mas quem ficou designado para tratar foi Francisco de Assis, do jurídico da J&F, no entanto, este não sabia que se tratava de um pedido do presidente Michel Temer", relatou na semana passada o empresário, que não informou qual negócio teria sido este.

Ele citou o advogado Yunes, após elencar à Polícia Federal "vantagens" que teria prestado ao presidente. O empresário apontou, além da intermediação de Yunes, o empréstimo de seu avião para Temer "levar a família em uma viagem de férias para a ilha de Comandatuba, na Bahia".

Yunes foi assessor especial de Temer na Presidência. Caiu do cargo quando foi citado na delação do ex-diretor de Relações Institucionais da Odebrecht, Cláudio Melo Filho, em dezembro do ano passado. Segundo o executivo da empreiteira, Yunes teria recebido dinheiro vivo supostamente destinados a Temer pela Odebrecht, em 2014.

O advogado nega ter operado dinheiro de campanha para o PMDB. José Yunes afirma que recebeu um pacote do doleiro Lúcio Funaro, a pedido do hoje ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, um mês antes da eleição presidencial de 2014 que reelegeu a chapa Dilma Rousseff e Michel Temer, mas alegou que não viu o conteúdo.

DEFESA

O criminalista Antônio Cláudio Mariz de Oliveira, advogado de Michel Temer, afirmou: "Não vamos responder, pois na verdade um relatório sobre investigações deveria ser apenas um relato das mesmas investigações e não uma peça acusatória. Autoridade policial não acusa, investiga."
A reportagem contatou o advogado José Yunes, mas não obteve retorno.

DEPOIMENTO

Joesley Batista deixou no fim da tarde dessa quarta-feira (21) a sede da Polícia Federal, em Brasília, após um depoimento que durou quase oito horas. Ele depôs aos delegados da Operação Bullish, que investiga irregularidades em aportes ao grupo concedidos pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Investigadores da Operação Greenfiel também participaram do depoimento, caso o empresário comentasse também as fraudes envolvendo grupos de pensão.

O depoimento começou às 9h30 e terminou pouco depois das 17h. De acordo com as investigações da Operação Bullish, o BNDES teria favorecido o grupo JBS, que atua no ramo de processamento de proteínas, em um esquema que envolveu - considerando todas as operações realizadas - cerca de R$ 8,1 bilhões. Os aportes ocorreram entre 2007 e 2011. Joesley não prestou depoimento quando a operação foi deflagrada, em 12 de maio, porque estava fora do país.

Nessa quarta (21), a Advocacia-Geral da União (AGU) solicitou ao Tribunal de Contas da União (TCU) o bloqueio imediato dos bens da JBS e de seus responsáveis. Segundo a petição, o objetivo é garantir um possível ressarcimento aos cofres público de práticas ilícitas efetuadas pela empresa da ordem de R$ 850 milhões. A razão do pedido foi a manifestação na terça-feira (20) do secretário de Controle Externo do TCU no estado Rio do Janeiro, Carlos Borges Teixeira, durante uma audiência pública na Câmara dos Deputados, em que ele falou sobre indícios de prejuízo em operações do BNDES com a empresa. "Há notícias que dão conta de que a referida empresa estaria em avançado processo de desfazimento de bens no país", escreveu a AGU.

A assessoria de imprensa da JBS disse que não irá se manifestar sobre o pedido da AGU, mas voltou a defender a delação premiada de Joesley e de outros seis executivos do grupo, cuja validade está sendo discutida pelo Supremo Tribunal Federal (STF). "A despeito do grande número de informações e provas já entregues, os colaboradores continuam disponíveis para cooperar com a Justiça e, conforme acordo firmado com a Justiça, estão sendo identificadas informações e documentos adicionais como complementos às investigações e que serão entregues no prazo de até 120 dias", afirmou a JBS, por meio de nota.Julia Affonso,
Valmar Hupsel Filho e Fábio Serapião /
Agência Estado - Com Agência Brasil