Pelo menos 14 manifestantes e dez policiais saíram feridos do confronto do lado de fora da Ópera do Arame; hoje acontece a votação final
Pelo menos 14 manifestantes e dez policiais saíram feridos do confronto do lado de fora da Ópera do Arame; hoje acontece a votação final | Foto: Franklin de Freitas/Estadão Conteúdo


Curitiba - Em sessão transferida para a Ópera de Arame, vereadores de Curitiba aprovaram nessa segunda-feira (26) os quatro projetos de lei do ajuste fiscal do prefeito Rafael Greca (PMN). No primeiro deles, que altera a previdência dos servidores públicos municipais, aumentando gradativamente a contribuição, foram 25 votos favoráveis, nove contrários e uma abstenção. Membros da oposição, Professora Josete (PT) e Goura (PDT) se retiraram para não participar do que chamaram de "espetáculo de cartas marcadas". Eles voltaram em alguns momentos para discursar. A segunda e derradeira votação está prevista para ocorrer nesta terça-feira (27).

A plenária começou às 9h15, no teatro, localizado no bairro São Lourenço, a aproximadamente sete quilômetros da Câmara Municipal (CMC), e se estendeu para depois das 13 horas. O lugar amanheceu cercado por policiais militares, que só permitiam a entrada de pessoas autorizadas. Todas eram revistadas. A transferência foi definida na sexta-feira (23), em reunião extraordinária, convocada com duas horas de antecedência. O presidente da Casa, Serginho do Posto (PSDB), contou que atendia a uma solicitação do secretário de Segurança Pública do Paraná, Wagner Mesquita. A ideia era evitar "confrontos" como o verificado na última semana, quando quatro trabalhadores ficaram feridos.

REPRESSÃO

Os vereadores se reuniram no palco, enquanto assessores e jornalistas se concentravam em "camarotes" no piso superior. Impedidos de participar, funcionários públicos protestaram em frente à Pedreira Paulo Leminski, que fica ao lado, com faixas, apitos e megafones. Houve embate e, por diversas vezes, o clima ficou tenso. A Secretaria de Segurança Pública e Administração Penitenciária (Sesp) não informou o efetivo, mas parlamentares estimaram em mais de três mil. Já o número de manifestantes, de acordo com a pasta, era 3,5 mil. Um helicóptero da Polícia Militar (PM) sobrevoava o local. Do "plenário" improvisado, era possível observar bombas de efeito moral sendo atiradas.




Conforme a Sesp, 14 pessoas ficaram feridas (um manifestante teve ferimento na perna) e dez policiais com pedradas. Um deles foi encaminhado ao Hospital Evangélico. A assessoria de imprensa da Secretaria também disse que deteve três pessoas: por carregar spray de pimenta, por portar cocaína e por desrespeitar a área disponível para a imprensa e assessores. Esse último teria desacatado os policiais e usado de força.

O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná (Sindijor-PR) repudiou as agressões sofridas por ao menos 13 profissionais de imprensa durante a cobertura da votação.


O Sismuc (Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Curitiba), contudo, relatou que dez trabalhadores precisaram ser hospitalizados e que inúmeros outros tiveram escoriações, ferimentos ou passaram mal, atingidos por balas de borracha, spray de pimenta e bombas de gás lacrimogêneo. Com o encerramento da sessão, os servidores se dirigiram para a sede da prefeitura, no Centro Cívico. Eles aprovaram a continuidade da greve e prometem novas mobilizações.

VOTAÇÃO

Apesar do clima tenso, a maioria dos assentos da Ópera ficou desocupada. Somente um pequeno grupo conseguiu liberação para assistir à sessão. Além da reforma na previdência, que inclui aumento da contribuição pelos servidores, o "pacotaço" aprovado em primeiro turno abrange: a suspensão da data-base e dos planos de carreira (26 votos "sim" e dez "não"); o leilão de dívidas da prefeitura (27 votos a quatro) e a criação de uma lei de responsabilidade fiscal do município (27 a dez). As medidas tramitam em regime de urgência e, por essa razão, trancam a pauta. O Executivo justifica que o ajuste é necessário para colocar as finanças da administração em dia.

"Ninguém queria viver esse momento. Mas estamos tomando um remédio amargo que, lá na frente, vai beneficiar a todos, inclusive os servidores", opinou Pier Petruzziello (PTB), líder do prefeito. "Não podemos pensar só num grupo pequeno. Temos que pensar em toda a cidade. Tanto o servidor é fundamental como o gerador de renda da empresa que está fechando (...) O efetivo assusta, mas todos vão sair vivos e sem machucados", completou.

"A transferência da sessão da Casa do Povo para um centro cultural onde acontece arte é o absurdo do absurdo. Esse contingente policial deveria é estar nos bairros, combatendo a criminalidade", afirmou o vereador Mestre Pop (PSC). "Dizem que é para garantir a segurança do servidor. Não é. É para garantir a segurança dos vereadores. A segurança que os servidores querem é a permanência dos seus direitos, conquistados com muita luta", acrescentou.