Ontem pela manhã, enquanto os ânimos ferviam dentro da Câmara de Vereadores, do lado de fora a situação era tranquila. Logo às 8 horas as pessoas começaram a chegar para acompanhar a sessão de julgamento do prefeito Barbosa Neto (PDT). O movimento foi notadamente maior na entrada autorizada para aqueles favoráveis à cassação. A maior parte dos vereadores também entrou por essa mesma porta. Logo após as 9 horas, horário marcado para início da sessão, algumas pessoas que ficaram sem as senhas, distribuídas na sexta-feira, aguardavam para saber se a entrada seria liberada no caso de sobra de lugares. A funcionária pública Luciane Souza, contrária à cassação, era uma delas. ''Não tive como vir buscar a senha na sexta. Agora estou aguardando para ver se me deixam entrar'', justificou.
Integrantes do movimento ''Por Amor a Londrina'', que não puderam pegar a senha, também esperavam do lado de fora e denunciavam uma suposta manobra das pessoas favoráveis ao prefeito, já que havia cadeiras vagas. ''Todos do movimento que vieram buscar senhas estão lá dentro. Acho difícil tantas pessoas terem tido o trabalho de vir aqui na sexta-feira e agora não virem assistir à sessão'', reclamou o vigilante Marcelo da Silva Pinheiro. Sua noiva, a assistente administrativa Márcia Maria Burstello, tinha esperança de que depois de um tempo fosse liberada a entrada, o que acabou não acontecendo.
Cerca de 20 pessoas do assentamento Aparecida chegaram em um ônibus fretado para acompanhar a sessão. Uma das assentadas, que não quis se identificar, explicou que o grupo veio manifestar apoio ao prefeito e que haviam feito uma ''vaquinha'' para pagar o aluguel do veículo. Entretanto, a pessoa responsável por levar as senhas que permitiam a entrada do grupo das galerias não apareceu e todos acabaram passando a manhã sentados no gramado.
Por questões de segurança não foi instalado nenhum telão do lado de fora da Câmara. Algumas pessoas aproveitaram os monitores das unidades móveis das emissoras de televisão para acompanhar a movimentação no interior da Câmara. Com o passar das horas, entretanto, e após sucessivos recursos da defesa de Barbosa Neto, várias pessoas acabaram desistindo e indo embora.
Filiados e simpatizantes do PDT permaneceram no gramado entre a prefeitura e a Câmara, empunhando faixas e cartazes de apoio e bandeiras do partido. Um dos filiados, o professor de informática Robson Vieira, estacionou seu veículo na Avenida Duque de Caxias e, com a caçamba carregada de aparelhagem de som, executou em alto volume o Hino da Independência. ''Acredito que o hino tem tudo a ver conosco, com os nossos ideais - 'ou deixar a pátria livre ou morrer pelo Brasil'. Pretendo ficar o dia todo e vou executar a música sempre que der vontade'', garantiu.
O tenente coronel Samir Elias Geha, comandante do 5º Batalhão da PM, manteve sigilo sobre o número de policiais que estavam atuando, mas garantiu ser o suficiente para garantir a segurança de todos. ''Não podemos dizer exatamente quantas pessoas estão aqui, mas estamos preparados para o que for necessário, inclusive para permanecer o tempo que durar a sessão. E conforme o resultado já temos também um planejamento.'' A reportagem contou pelo menos 50 policiais do lado de fora, incluindo homens da cavalaria e do canil, mas nenhum incidente foi registrado até o fechamento desta edição.
Prefeitura
Do outro lado do Centro Cívico, na prefeitura, o clima era de aparente tranquilidade. Funcionários que não quiseram se identificar comentavam que os funcionários de carreira estavam tranquilos e que o atendimento ao público transcorria normalmente.
Entre as pessoas que precisaram ir até a sede do Executivo em busca de atendimento, todos sabiam o que estava acontecendo há poucos metros, mas não demonstraram interesse. O assunto na fila, antes do início do atendimento, era as Olimpíadas.
Júlio Barbosa de Carvalho, carpinteiro, depois de pensar um pouco, afirmou ser contrário à cassação do prefeito. ''Acho que tudo isso não vai dar em nada, e o pior é que nós que estamos pagando por tudo isso. Acho que uma cassação não vai servir de exemplo para ninguém, afinal outro prefeito foi cassado há 12 anos e olha no que deu. Os políticos já entram sabendo que não vão ser punidos'', reclamou.