O Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) abriu novos inquéritos para apurar supostas irregularidades em três contratos firmados pela Prefeitura de Londrina nos últimos três anos. Os indícios de crimes surgiram durante as investigações sobre a compra dos uniformes escolares. As suspeitas iniciais são de formação de quadrilha, peculato, fraude em licitação e corrupção envolvendo a contratação da Proguarda, a terceirização da merenda e a compra dos livros didáticos ''Vivenciando a Cultura Afrobrasileira e Indígena'', considerados racistas e adquiridos junto à editora Ética, da Bahia.
Foi aberto ainda um quarto inquérito que apura suposta ''cooptação de agentes públicos, porém, em circunstâncias diferentes daquela apurada anteriormente'', quando houve pagamento de propina para integrantes da administração. O delegado do Gaeco, Alan Flore, preferiu não revelar mais detalhes, mas confirmou que estes agentes públicos não são de Londrina. Segundo a reportagem levantou, o gerente financeiro do grupo Kriswill, de Apucarana, José Lemes dos Santos, disse em depoimento que ''ordens de intimação foram efetivamente proteladas em razão da entrega de vantangem indevida aos oficiais de Justiça''. As intimações eram referentes a ações judiciais movidas por bancos.
Segundo Alan Flore, parte dos elementos que embasam estes novos procedimentos foi trazida pela ex-secretária de Educação Karin Sabec, em seus depoimentos ao Ministério Público (MP) do Paraná. ''Através dos depoimentos da Karin, nós tivemos alguns elementos que apontavam para supostas outras irregularidades, e esses casos são emblemáticos, como a merenda e também os livros didáticos.''
Flore acrescentou que ''durante o curso daquela investigação que já foi concluída (dos uniformes), nós obtivemos outras provas e outros indícios'', das supostas irregularidades. Karin, candidata a vereadora pelo PR, além de ter acusado o ex-prefeito Barbosa Neto (PDT) de ter recebido propina das empresas que forneceram uniformes escolares ao município em 2011 e 2012, que resultaram na prisão de três empresários ligados a essas empresas, abriu uma suposta ''caixa preta'' da administração.
Implicando Marco Cito (que ficou preso mais de dois meses por suposta tentativa de compra de votos de vereadores), que era responsável pelas compras quando ocupava a pasta de Gestão Pública, Karin disse que havia fraudes ou direcionamento em praticamente todas as licitações, mas citou pontualmente as compras de uniformes, a aquisição dos livros didáticos, no fornecimento de merenda escolar cujos serviços eram prestados pela empresa J.Coan, e na escolha da empresa Proguarda, que teria sido beneficiada com aditivo de reequilíbrio financeiro irregularmente.
Ela também mencionou a tentativa de fraude na compra de lousas eletrônicas. Neste caso, porém, como a compra não foi concluída, o Gaeco não instaurou nenhum procedimento investigatório. Karin, também indiciada pelo Gaeco na investigação dos uniformes, prestou pelo menos quatro depoimentos ao MP a partir de 3 de julho, sempre acompanhada do advogado Maicon Castilho, na condição de colaboradora e solicitando os benefícios da ''delação premiada'', que prevê redução de pena para quem delata os demais participantes de crimes.
Alan Flore afirmou que os primeiros depoimentos dos novos inquéritos começam a ser tomados na semana que vem. O prazo para a conclusão dos trabalhos é de 30 dias, desde que não ocorram prisões, quando o prazo cai para 10 dias.
Lemes no Gaeco
Ontem pela manhã, o gerente financeiro da Kriswill, José Lemes dos Santos, que também está indiciado por suposto envolvimento nas irregularidades investigadas na compra dos uniformes escolares, esteve no Gaeco para ''dar informações complementares'' aos promotores de Justiça que devem apresentar denúncia criminal na segunda-feira, ao Tribunal de Justiça (TJ) do Paraná. O advogado Edson Massei preferiu não dar mais detalhes sobre o teor da conversa que Lemes teve no Gaeco.
Lemes, que chegou a ficar preso por uma semana, foi indiciado, com mais 13 pessoas, incluindo o prefeito de Londrina licenciado José Joaquim Ribeiro (sem partido) e o ex-prefeito Barbosa Neto (PDT), por formação de quadrilha, corrupção, lavagem de dinheiro e peculato.
Dando sequência ao inquérito civil público que pode embasar eventual ação por improbidade administrativa contra empresas e pessoas envolvidas nas irregularidades dos uniformes, a Promotoria de Defesa do Patrimônio Público ouviu ontem o servidor municipal Denisson Utiamada. Ele falou com o promotor Renato de Lima Castro por uma hora e, ao sair do MP, disse ter esclarecido ''questões técnicas''.