Representantes da sociedade civil têm opiniões e expectativas diferentes em relação ao processo que pode levar à cassação do presidente Michel Temer (PMDB). Para o presidente da Associação Comercial e Industrial (Acil), Cláudio Tedeschi, uma possível queda do presidente seria como "jogar mais gasolina na fogueira" em que se transformou o País, justamente num momento em que a economia dá sinais de que está deixando o fundo do poço. "Seria como cortar a corda do balde que pega a água do poço", compara.

Ele diz temer a possibilidade de uma "ruptura institucional", mesmo que a Constituição preveja uma eleição indireta no caso da saída de Temer. "Tem hora que é preciso pensar um pouco mais em diplomacia. Estamos a um ano e quatro meses das eleições", declara.

Teceschi salienta que não se trata de compactuar com a corrupção, mas ressalva que as eleições no Brasil, desde o início da República, são financiadas por empresas que prestam serviço ao governo. "Não estou apoiando a corrupção, mas acho que é preciso ter uma acusação muito grave para afastar o presidente", alega.

Para o empresário, "ruim com Temer, pior sem ele". Tedeschi aponta dois pontos positivos do governo: o fato de o presidente ter vindo do Congresso e saber "como ninguém" lidar com o parlamento e também a equipe econômica nomeada por ele, que "tem credibilidade internacional".

Por meio de nota enviada à Redação, a Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep) afirma que acompanha "com atenção" o julgamento do pedido de cassação da chapa Dilma Rousseff-Michel Temer no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). "É importante que as denúncias levantadas sejam apuradas e o julgamento ocorra dentro de todos os trâmites legais", diz a federação.

No entanto, de acordo com a nota, a entidade está preocupada que "eventuais implicações políticas decorrentes dessa decisão venham a interferir na agenda de medidas e reformas que o Brasil precisa discutir para superar a crise econômica".

Para a Fiep, o País não pode desperdiçar mais tempo para retomar o rumo do crescimento e começar a recuperar os milhões de empregos perdidos nos últimos anos.

A presidente da Central Única dos Trabalhadores do Paraná (CUT-PR), Regina Cruz, diz que a proposta de separar as contas eleitorais de Dilma e Temer é "oportunismo". "Não tem como separar as contas (da campanha). Elas foram pagas de maneira conjunta. Na época, a própria Dilma afirmou que a coligação pagou as contas dela e de Temer. Trata-se de um oportunismo, uma vez que o próprio PSDB pediu a cassação da chapa. Mas como agora o partido tomou conta do governo, ocupa ministérios importantes, quer mudar as regras do jogo. É uma vergonha também que o ministro Gilmar Mendes tenha se tornado um consultor de Temer nessa questão."

Para ela, o Poder Judiciário está conivente. "É uma conveniência para o Poder Judiciário, que está usando todos os recursos para manter Temer na Presidência." A presidente da CUT-PR diz ainda acreditar na possibilidade de um "golpe" por parte do Supremo Tribunal Federal (STF) para manter Temer no poder ao defender que o País precisa de estabilidade para melhorar. "Não duvido de nenhuma possibilidade."

Na eventual cassação do presidente, Regina se mostra pessimista em relação ao cenário político-econômico do País. "Quando Temer entrou na Presidência, ele afirmou que em seis meses resolveria os problemas do País. Mas em seis meses ele piorou o Brasil e está colocando todas as contas nas costas dos servidores públicos, com a PEC 55, a Reforma da Previdência. Quem está pagando por tudo isso é o trabalhador. Se houver a cassação não vai mudar muita coisa. Se assumir o presidente da Câmara ou do Senado, eles irão manter as reformas."

Imagem ilustrativa da imagem 'FRAUDE ELEITORAL' - Entidades divergem sobre julgamento do TSE