Segundo o MPF, Gonçalves abriu contas em nome de offshores para receber os valores obtidos em pagamento de propina como gerente na Petrobras
Segundo o MPF, Gonçalves abriu contas em nome de offshores para receber os valores obtidos em pagamento de propina como gerente na Petrobras | Foto: Roberto Gonçalves/Arquivo Estadão Conteú



Brasília, Curitiba e Rio de Janeiro - A Polícia Federal deflagrou nesta terça (28) a 39ª fase da Operação Lava Jato e prendeu preventivamente um ex-gerente da Petrobras, Roberto Gonçalves, suspeito de receber cerca de US$ 5 milhões de propina em contas no exterior. Gonçalves foi detido pouco antes das 10h em Boa Vista (RR). Ele era procurado no Rio de Janeiro, onde ocorreram as ações de busca e apreensão.

Segundo a PF, ele visitava familiares na capital de Roraima e não há indícios de que estivesse tentando escapar de um pedido de prisão. Em entrevista coletiva, os investigadores afirmaram que havia um "direito adquirido à propina" na Petrobras: Gonçalves teria herdado os acordos de pagamento de propina com Pedro Barusco, a quem sucedeu no cargo de gerente na diretoria de Serviços da estatal, entre março de 2011 e maio de 2012.

"A corrupção é intergeracional; passa de geração em geração. Na sucessão do cargo, também se passou o bastão da propina", disse o procurador da República Roberson Pozzobon.

O ex-gerente abriu contas na Suíça em nome de offshores para receber os valores. Segundo o Ministério Público Federal, depois da deflagração da Lava Jato, em março de 2014, ele passou a transferir parte do dinheiro a países como China e Bahamas. As transferências foram descobertas a partir de documentos enviados pelas autoridades suíças, no início deste ano - que justificaram o pedido de prisão de Gonçalves.

"Ele estava dissipando valores", disse o procurador Júlio Noronha, que disse ainda não ter um balanço de quanto dinheiro foi evadido da Suíça. As autoridades daquele país conseguiram o bloqueio de US$ 4 milhões em contas do ex-gerente, que poderão ser repatriados caso se comprove o pagamento de propina. Gonçalves também chegou a emprestar uma conta do ex-executivo da Odebrecht, Rogério Araújo, para receber parte da propina, segundo os investigadores.

CORRETORA
Batizada de Paralelo, a nova fase também mira o uso do mercado clandestino de valores para pagamento de propinas. Uma corretora de valores sediada no Rio, Advalor, foi alvo de buscas e apreensões e é suspeita de ter viabilizado o pagamento de propina para funcionários da Petrobras, segundo relataram ao menos três delatores da Lava Jato. As autorizações para cumprir os mandados foram expedidas pelo juiz Sergio Moro, responsável pela operação no Paraná. A corretora operava regularmente, mas também atuava no mercado paralelo, segundo a investigação.

OUTRO LADO
O advogado de Roberto Gonçalves, James Walker Júnior, afirmou que seu cliente nunca foi apadrinhado de nenhum político ou partido na Petrobras.

Segundo ele, Gonçalves era funcionário de carreira da estatal e que todos os cargos que ocupou na empresa foi devido ao seu esforço pessoal e à sua condição de "engenheiro com formação no exterior". O advogado embarca na manhã desta quarta (29) para Curitiba. Já Gonçalves, disse, deve ser transferido até esra quarta de Roraima para Curitiba.