Brasília - Visto como a última ponte entre o PMDB e o PT no Senado, o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), protagonizou nessa sexta-feira (26) o mais duro embate com a bancada petista desde o início do julgamento do impeachment de Dilma Rousseff no plenário. O gesto, primeiro tratado como "destempero", foi interpretado como um cálculo do peemedebista para selar sua aproximação com o presidente interino Michel Temer e romper qualquer elo que ainda havia entre ele e o partido de Dilma.

Segundo aliados, Renan agora está livre para votar a favor do impeachment da petista. Inicialmente, o presidente do Senado dizia que, por sua posição institucional, não se posicionaria sobre o caso. Depois, disse que estava "refletindo".

O embate ocorreu no fim da manhã, quando Renan foi escalado para conter os ânimos no plenário e acabar com uma discussão entre dois senadores, Lindbergh Farias (PT-RJ) e Ronaldo Caiado (DEM-GO), que frequentemente entram em choque.
Num primeiro momento, adotou tom pacificador. Cercado pelos petistas, mudou o rumo da oratória.

"O Senado está perdendo uma oportunidade de se afirmar como uma instituição representativa da sociedade. Não podemos apresentar esse espetáculo", disse. Em seguida, comparou a atuação dos congressistas na Casa a um "hospício".
Renan encerrou sua fala, mas voltou. Justificou dizendo ter sido "provocado". Direcionou suas críticas a Gleisi Hoffmann (PT-PR).

"Ontem [quinta], a senadora Gleisi chegou ao cúmulo de dizer que o Senado não tinha moral para julgar a presidente. Como a senadora pode fazer uma declaração dessa? Exatamente uma senadora que, há 30 dias, o presidente do Senado conseguiu, no Supremo Tribunal Federal, desfazer o seu indiciamento e do seu esposo", afirmou, numa referência ao ex-ministro Paulo Bernardo, marido de Gleisi, que chegou a ser preso pela PF.
A fala gerou reação entre senadores do PT, que a classificaram como "covardia". O presidente do Supremo, Ricardo Lewandowski, que comanda a sessão do impeachment, suspendeu os trabalhos por quase duas horas.

INGRATIDÃO
Depois do embate, Renan justificou sua reação e tratou os petistas como "ingratos". Ele passou parte da tarde conversando com jornalistas e mostrando cópias de reclamações que o Senado, sob sua ordem, levou ao Supremo para anular o indiciamento de Gleisi pela Polícia Federal e evitar que provas colhidas em uma busca no apartamento da senadora fossem usadas em um processo contra o marido dela. "Vou propor um agravamento da pena por ingratidão no Código Penal", ironizou.

Após a discussão, os trabalhos seguiram com tranquilidade durante o resto do dia. Até as 20h dessa sexta três testemunhas arroladas pela defesa de Dilma haviam prestado depoimento aos senadores. A previsão é de que a fase de oitivas termine neste sábado (27), quando haverá o depoimento do ex-ministro da Fazenda Nelson Barbosa. A presidente afastada Dilma Rousseff presta depoimento na segunda-feira (29). A votação final do impeachment deve ocorrer até a próxima quarta (31).