Curitiba - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nessa quarta-feira (13), para uma multidão que o aguardava, que se sente orgulhoso, e não nervoso, por "incomodar tanto". As declarações foram em referência às acusações que pesam contra ele na Lava Jato. O petista prestou hoje seu segundo depoimento presencial ao juiz federal Sergio Moro no âmbito da Operação, em Curitiba.

Depois da oitiva na Justiça Federal do Paraná (JFPR), no bairro Ahú, ele se dirigiu à Praça Generoso Marques, no centro da capital paranaense, onde militantes e correligionários o aguardavam desde o início da tarde. Chegou por volta das 18h30 e falou já perto das 19 horas. De acordo com os organizadores, mais de sete mil pessoas acompanharam a "Segunda Jornada de Lutas pela Democracia". Entre os principais gritos, era possível ouvir o tradicional "olê olê olê olá, Lula, Lula", "Lula guerreiro do povo brasileiro e "Lula ladrão roubou meu coração".

"A única coisa que eu peço é que quem está me acusando tenha a dignidade de, se não provar um real errado na minha conta, vá à mesma televisão onde me acusa pedir desculpas", discursou. "Tenho consciência do porquê das mentiras que são contadas todo santo dia contra mim. Investiram tanto acompanhando a minha vida, gravando Marisa e eu, Dilma e eu, me filmando e filmando meus filhos, invadindo a nossa casa, e até agora não encontraram uma única verdade (...) Ao final, vão ter de afirmar: 'não temos provas contra o Lula e mentimos'", prosseguiu o petista.

Com a voz rouca, o ex-presidente contou, do alto do caminhão de som, que pretende continuar sua peregrinação, em caravanas pelo Brasil. "Cometi graves erros nesse País. Sonhei em fazer da Petrobras a maior petroleira do mundo, em fazer uma indústria naval com coreanos e chineses, com que a energia limpa pudesse ser competitiva. Sonhei que era possível fazer o filho de uma empregada doméstica cursar um doutorado, um filho do pedreiro virar engenheiro, um jovem da periferia virar doutor e a juventude ter esperanças".

Lula agradeceu o apoio de colegas de partido e também citou o cantor Chico Buarque, ao relembrar da criação e atuação do Mercosul (Mercado Comum do Sul). "Como dizia o Chico: 'gosto do PT porque não fala grosso com a polícia nem fino com os Estados Unidos'". Ainda segundo o petista, ninguém que tenha defendido os pobres, "nenhum ser humano ou estadista resiste à sangria e ao ódio da elite perversa que domina o mundo". "Mas não vou cansar. Quem quase morreu de fome no Nordeste aos quatro anos não tem medo. Vou provar que a gente vai consertar esse País".

Os senadores Lindbergh Faria (PT), Humberto Costa (PT), Fátima Bezerra (PT), Gleisi Hoffmann (PT) e Roberto Requião (PMDB) participaram do ato, além de vereadores, prefeitos, deputados estaduais e federais, sindicalistas e ex-ministros, como Alexandre Padilha (Saúde). "No Congresso Nacional não vejo esperanças. A mobilização é o caminho", discursou Requião. Enquanto ele falava, alguns presentes pediram que deixasse o PMDB, mesmo partido do presidente "golpista" Michel Temer.

Presidente nacional do PT, Gleisi se referiu ao público como "companheiros e companheiras da República da Resistência", em uma referência ao termo "República de Curitiba", usado por apoiadores da Lava Jato. "[Trata-se da] resistência a esse ataque à democracia e ao Estado Democrático de Direito. Quando atacam o presidente Lula, não atacam o homem, e sim o que ele representou e representa para o povo brasileiro e para o estado brasileiro", disse.

Para a petista, a condenação do ex-presidente por Moro é sim perseguição. "O que vemos aqui é gente que não tem compromisso com o povo mais pobre do nosso País. Os mesmos que ofendem o presidente são aqueles que ganham muito do Estado brasileiro, salário alto, acima do teto, e fazem discurso moralista (..) Se não querem Lula presidindo esse País, que o enfrentem nas ruas e nas urnas; não no tapetão", completou.

O interrogatório do ex-presidente começou às 14h15, com 15 minutos de atraso, e terminou duas horas depois. Ouvido pela primeira vez em maio na ação do triplex do Guarujá, em que foi condenado a 9 anos e meio de prisão, ele agora respondeu a perguntas sobre o processo em que é acusado de ter sido beneficiado pela empreiteira Odebrecht com a compra de um terreno de R$ 12,4 milhões destinado a ser a nova sede do Instituto Lula – mudança que acabou não saindo do papel – e mais um apartamento de R$ 504 mil em São Bernardo do Campo (SP).

Sem poder acompanhar a oitiva, os militantes foram para a praça. O ato foi encabeçado pelas frentes Brasil Popular (FBP) e Resistência Democrática (FRD) e pelo Fórum de Lutas 29 de abril. Vestidos de camisetas vermelhas, carregavam bandeiras, cartazes e faixas. Houve apresentações culturais e uma "aula pública" com o jurista Eugênio Aragão, professor da Universidade de Brasília (UnB), ex-procurador do Ministério Público Federal (MPF) e ex-ministro da Justiça durante o governo de Dilma Rousseff (PT).