Curitiba - A morte de um adolescente de 16 anos no Colégio Estadual Santa Felicidade, em Curitiba, na última segunda-feira (24), repercutiu ontem na Assembleia Legislativa (AL) do Paraná. O presidente da Casa, Ademar Traiano (PSDB), que chefia ainda o PSDB estadual, concedeu espaço para representantes do recém-criado movimento "Desocupa Paraná", contrário à "Primavera Secundarista", discursarem na tribuna por 15 minutos. Durante mais de duas horas, parlamentares da base aliada também se pronunciaram, culpando os estudantes, membros de sindicatos e ainda partidos de esquerda pelo episódio.
"Comentava-se muito sobre os riscos dessas ocupações. [Havia] falta de controle dentro dos estabelecimentos de ensino e pouco se sabia do que vinha ocorrendo internamente nas escolas. Lamentavelmente tivemos uma tragédia. Que isso sirva de lição tanto para os invasores como para os pais, que permitiram que os alunos lá ficassem", opinou Traiano. Segundo ele, é chegado o momento de dar um basta. "Tenho convicção absoluta de que esse fato enfraquece o movimento. Imagino que aqueles que ainda insistem em manter esse tipo de ação a partir de agora possam ser responsabilizados."
Conforme dados da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), já são 1.072 as escolas ocupadas no Brasil, sendo 90% delas no Paraná. Os jovens protestam contra a proposta de reforma do ensino médio, com flexibilização de currículo, apresentada pela gestão do presidente Michel Temer via medida provisória. De acordo com a Secretaria da Segurança Pública, o garoto foi esfaqueado por um colega após ambos terem usado drogas sintéticas e se desentendido. O crime aconteceu nas dependências do colégio, que estava na lista dos mais de 800 tomados pelo movimento no Estado.
Questionado sobre a possibilidade de realizar uma audiência pública na AL, como sugerido no dia anterior por Tadeu Veneri (PT) e ouvindo também estudantes das ocupações, Traiano disse ser contrário. Entretanto, reiterou que a Casa é "democrática e aberta a todos que quiserem expor suas opiniões". "Veja bem, para que serve uma audiência pública sobre esse tema? Esse tema vem sendo comentado ao longo de todos os dias. É de conhecimento público. Ninguém mais se dá por satisfeito com o que está acontecendo aí. Uma audiência não vai promover nada. Vai ouvir? O que precisamos é tomar decisão; é parar de incentivar as invasões", argumentou.
A expressão tragédia anunciada foi repetida à exaustão ao longo da plenária. O universitário Patrick Egnaszevski, de 18 anos, porta-voz do "Desocupa", criticou a posição das entidades estudantis e sindicais. "Todos aqueles que trabalharam em prol dessa ocupação, como a APP-Sindicato, a UNE [União Nacional dos Estudantes], a Upes [União Paranaense dos Estudantes Secundaristas] ou, por omissão, no caso de quem viu e nada fez, como o Conselho Tutelar e o Ministério Público, tiveram algum grau de culpa na morte de um estudante", acusou.
Hussein Bakri (PSD), Elio Rusch (DEM), Pedro Lupion (DEM), Stephanes Junior (PSB) e Missionário Ricardo Arruda (DEM) fizeram discursos inflamados, apartados ainda por Nelson Justus (DEM), Schiavinato (PP) e pelo professor Gilmar Tsalinks. Do outro lado, Veneri falou que não se intimida e que apoia sim a "Primavera". "Nenhum deles [deputados] sabia sequer dizer o nome do menino. Não sabiam nada sobre o menino. Isso é hipocrisia", disparou. O também petista Professor Lemos contou que vai requerer o mesmo espaço na tribuna para que a APP e o "Ocupa Paraná" se defendam. "Não se pode usar um assassinato para culpabilizar o movimento estudantil, professores ou sindicatos."