Promotor Renato de Lima Castro chegou a expedir recomendação contra nomeação do secretário alegando "transnepotismo"
Promotor Renato de Lima Castro chegou a expedir recomendação contra nomeação do secretário alegando "transnepotismo" | Foto: Fabio Alcover/3-2-2017



Após o Ministério Público ter expedido uma recomendação administrativa sobre duas nomeações realizadas na terça-feira (19) pelo prefeito de Rolândia, Luiz Francisconi Neto (PSDB), o secretário municipal de Infraestrutura, Odivaldo Moreno Alves, pivô de uma delas, decidiu pedir exoneração.

Conforme publicou a FOLHA nessa quinta-feira (21), a nomeação de Alves gerou bastante polêmica entre moradores de Rolândia, já que ele é tio do vereador Irineu Moreno de Paula (PSDB), um dos quatro parlamentares que se abstiveram de votar pela cassação do mandato de Francisconi no início deste mês. Francisconi reassumiu a prefeitura nessa segunda-feira (18) após cinco meses afastado por conta da Operação Patrocínio, deflagrada pelo MP em setembro do ano passado.

De acordo com o promotor Renato de Lima Castro, autor da recomendação, a nomeação é considerada transnepotismo. "Materializa as trocas de favores entre poderes", afirmou. A reportagem não conseguiu confirmar a exoneração por meio de publicação no Diário Oficial do município de Londrina, mas, em entrevista à FOLHA, Alves confirmou a decisão.

"A intenção é justamente levar a experiência toda que nós temos para lá, mas quando você vê que eles estão pegando em coisas pequenas, é melhor não, deixa pra lá", lamentou o ex-secretário. Segundo ele havia dito à reportagem na quarta-feira (20), a nomeação para o cargo na prefeitura foi fruto de uma indicação do prefeito de Londrina Marcelo Belinati (PP), amigo de Luiz Francisconi desde a faculdade de medicina.

O vereador Irineu de Paula (PSDB) afirmou à FOLHA que não teve qualquer influência na nomeação do tio para o cargo de chefia. O tucano também lembrou que faz parte de uma família grande e muito conhecida em Rolândia, e que situações como esta são muito comuns em cidades pequenas.

Irineu de Paula presidiu a Comissão Processante que julgou a denúncia de infração político-administrativa contra Francisconi, acusado de ter direcionado uma licitação para favorecer a empresa Somopar no contrato de aluguel de um barracão do antigo Instituto Brasileiro do Café. Segundo o MP, Francisconi recebeu cheques que somam R$ 150 mil como doações de campanha, em 2016, mas que seriam o pagamento do "acordo".

Na Câmara, foram favoráveis à cassação do mandato seis vereadores, enquanto cinco se abstiveram, incluindo Irineu de Paula. A reportagem não conseguiu ouvir o prefeito Luiz Francisconi.

Filha de juiz

O outro alvo da recomendação administrativa é Caroline Naldi Ludovico, filha do juiz criminal Alberto José Ludovico, e que foi nomeada para um cargo na Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico. Ludovico foi o responsável por julgar as medidas cautelares contra Luiz Francisconi e todo o processo criminal, em primeira instância, no âmbito da Operação Patrocínio, deflagrada em setembro do ano passado e que revelou um suposto esquema criminoso entre secretários municipais que exigiam propina de empresários terceirizados da Prefeitura. Segundo apurou a reportagem, Caroline também deve ser exonerada.

A norma mais recente que disciplina a expedição de recomendações administrativas pelo MP é de 2017, e foi apresentada pelo então Presidente do Conselho do Ministério Público, Rodrigo Janot. A FOLHA deixou recado para ouvir o juiz, mas não obteve retorno.