Brasília - O presidente Michel Temer adiou viagem que faria nesta quarta-feira (19) a Caruaru (PE) para a entrega de benefícios do programa Cartão Reforma.
A decisão de não ir a Pernambuco, principal reduto eleitoral do PSB, ocorreu no mesmo dia em que foi revelado encontro do peemedebista com a líder do partido, Tereza Cristina (MS), para que dissidentes da legenda ingressem no PMDB.

O gesto irritou o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira. Em entrevista à "Folha de S.Paulo", ele disse que Temer está mais preocupado em "salvar a própria pele" do que com os problemas do país. E que ele "não agiu como presidente da República, mas como chefe de partido".

Segundo o Palácio do Planalto, o peemedebista adiou a viagem para o dia 25 por uma questão logística.

Como a ideia inicial era de que só o ministro Bruno Araújo (Cidades) participasse, não houve tempo para uma preparação do local tanto na questão de deslocamento como de segurança, já que o presidente decidiu ir na segunda-feira (17).

Nos bastidores, no entanto, assessores e auxiliares presidenciais reconhecem que a visita do presidente causou "mal-estar" e que teria dificultado uma viagem do presidente.

Nas palavras de um aliado, se a relação de Temer com o governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), não estava boa, "agora piorou ainda mais".

Segundo a reportagem apurou, o Palácio do Campo das Princesas, sede do governo de Pernambuco, jamais foi informado oficialmente da ida do presidente ao Estado.

Aliados do governador Paulo Câmara (PE), vice-presidente nacional do PSB, relatam que, antes mesmo de Temer abordar integrantes da legenda para levá-los para o PMDB, já havia algum desconforto com o presidente.

Auxiliares de Câmara dizem que promessas do presidente da República ainda não foram cumpridas no Estado.

Sob reserva, citam como exemplo a promessa feita por Temer em maio, quando ele foi a Pernambuco por causa das inundações provocadas pela chuva. À época, Temer apoio federal ao Estado, sinalizando abertura de linha de crédito de R$ 600 milhões do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). O dinheiro, segundo integrantes do governo pernambucano, não foi liberado.

Outra promessa ainda não realizada, de acordo com aliados de Câmara, é a devolução da autonomia do porto de Suape, o que também estava previsto para ter acontecido em maio.

Segundo relatos, o objetivo do presidente, ao ir para Pernambuco, era fazer um afago ao ministro das Cidades, Bruno Araújo, do PSDB.

O partido discute deixar a base aliada por conta da denúncia contra o peemedebista por corrupção passiva.

COSTURA

O presidente Michel Temer passou a se empenhar pessoalmente no avanço do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), sobre deputados do PSB para engordar a bancada do DEM na manhã dessa terça-feira (18). O peemedebista foi à casa da líder do PSB na Câmara, Tereza Cristina (MS) para sondar os movimentos de Maia e para convidar a ala rebelde do partido a ingressar no PMDB.

Desde que a cúpula do PSB decidiu punir os seus parlamentares que votassem a favor das reformas trabalhista e da Previdência, metade dos 36 deputados da legenda se rebelaram e mantêm-se governistas.

É justamente sobre este grupo que Maia tem avançado. O presidente da Câmara articula a migração de deputados para turbinar seu partido. A meta é chegar a 50 deputados e tomar o lugar do PSDB como a terceira maior bancada da Câmara.

De acordo com Tereza Cristina, Temer conversou na segunda-feira (17) com o deputado Danilo Forte (CE) e com o ministro de Minas e Energia, Fernando Filho (PE), dois do grupo de insatisfeitos com o PSB e agendou a visita à casa dela na manhã dessa terça (18).

O encontro, que começou por volta das 9h, durou cerca de uma hora. "Estamos sendo assediados por alguns partidos. Ele [Temer] falou com a gente sobre a possibilidade do PMDB. [Perguntou] se já tínhamos pensando nisso", disse Tereza Cristina à reportagem.

Ela disse que o presidente do PMDB, senador Romero Jucá (RR), já havia procurado os insatisfeitos do PSB.

Segundo a deputada, Temer fez uma visita de cortesia e quis sondar como andavam as conversas para que o grupo deixasse o PSB.