Joesley Batista coloca Temer como "o chefe da quadrilha mais perigosa do Brasil", e afirma que sua relação com o presidente nunca foi de amizade
Joesley Batista coloca Temer como "o chefe da quadrilha mais perigosa do Brasil", e afirma que sua relação com o presidente nunca foi de amizade | Foto: Ayrton Vignola/Estadão Conteúdo



O presidente Michel Temer afirmou que vai protocolar, na segunda-feira (19), ações civil e penal na Justiça contra o empresário Joesley Batista, um dos donos do grupo J&F. O PT, o PSDB e outros citados também se defenderam das acusações do delator, que em março deste ano gravou conversa particular com o presidente na qual era citado o ex-deputado Eduardo Cunha.

Em entrevista à revista Época, publicada no último sábado (17), Joesley disse que Temer é "o chefe da quadrilha mais perigosa do Brasil". Joesley fala que a relação com o presidente nunca foi de amizade. "Sempre foi uma relação institucional, de um empresário que precisava resolver problemas e via nele a condição de resolver problemas". Apesar disso, afirma que Temer foi ao seu casamento.

O dono do grupo J&F afirma que o presidente Temer "não é um cara cerimonioso com dinheiro" e que sempre tinha um assunto específico para tratar quando se encontravam. "Nunca me chamou lá para bater papo. Sempre que me chamava, eu sabia que ele ia me pedir alguma coisa ou ele queria alguma informação".

Na nota presidencial, divulgada sábado, Temer diz que Joesley "desfia mentiras em série" e que o empresário é o "bandido notório de maior sucesso na história brasileira". Afirma, ainda, que era Joesley quem fazia pedidos e que eles nunca foram atendidos: "Em entrevista, ele diz que o presidente sempre pede algo a ele nas conversas que tiveram. Não é do feitio do presidente tal comportamento mendicante. Quando se encontraram, não se ouve ou se registra nenhum pedido do presidente a ele. E, sim, o contrário. Era Joesley quem queria resolver seus problemas no governo, e pede seguidamente. Não foi atendido antes, muito menos depois", diz o comunicado do Planalto.

A nota acrescenta que, em 2005, o Grupo JBS obteve seu primeiro financiamento no BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social). Dois anos depois, alcançou um faturamento de R$ 4 bilhões. Em 2016, o faturamento das empresas da família Batista chegou a R$ 183 bilhões. "Relação construída com governos do passado, muito antes que o presidente Michel Temer chegasse ao Palácio do Planalto", destaca o texto.

A nota nega que o empresário tenha influência na administração federal. "Suas mentiras serão comprovadas e será buscada a devida reparação financeira pelos danos que causou, não somente à instituição Presidência da República, mas ao Brasil. O governo não será impedido de apurar e responsabilizar o senhor Joesley Batista por todos os crimes que praticou, antes e após a delação", diz a nota da Presidência.

OUTROS ACUSADOS

Na entrevista, Joesley também cita o envolvimento, nas denúncias, do ex-deputado Eduardo Cunha, dos ex-ministros Geddel Vieira Lima e Henrique Eduardo Alves e dos ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência). "O Temer é o chefe da Orcrim da Câmara. Temer, Eduardo, Geddel, Henrique, Padilha e Moreira. É o grupo deles. Quem não está preso está hoje no Planalto. Essa turma é muita perigosa. Não pode brigar com eles."

Segundo o ministro Moreira Franco, "é surpreendente a ousadia e a desenvoltura em mentir do contraventor Joesley Batista. Estive com ele uma única vez, em um grupo de brasileiros, numa viagem de trabalho a Pequim, ocasião em que me foi apresentado. E nunca mais nos encontramos. Seu juízo a meu respeito é o de quem quer prestar serviço e, para tal, aparenta um relacionamento que nunca existiu."

Em nota, o PSDB diz que "conforme dito pelos próprios delatores, a JBS doou cerca de R$ 60 milhões para as campanhas do partido em 2014, sendo parte para a campanha presidencial e parte para campanhas estaduais, como está devidamente registrado no TSE. Jamais houve qualquer contrapartida para essas doações feitas a um partido de oposição à época, o que torna absurdo caracterizá-las como propina. Quanto às doações feitas a outros partidos, o PSDB as desconhece, não tendo, portanto, qualquer informação a oferecer", acrescenta o texto.

PT "INSTITUCIONALIZOU" A CORRUPÇÃO
Joesley Batista também diz na entrevista que o PT "institucionalizou" a corrupção no Brasil. Apesar de citar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Joesley disse que nunca teve "conversa não republicana com Lula". "Zero, eu tinha com o Guido [Mantega]", afirmou. "Não estou protegendo ninguém, mas só posso falar do que fiz e do que posso provar. Não estou entregando pessoas. Entreguei provas aos procuradores. E o PT tenha o maior saldo de propina. O que posso fazer se a interlocução era com o Guido?"

Na entrevista, o empresário citou repasses ilícitos envolvendo um esquema de corrupção no BNDES e disse que o "crédito" que "o PT gastou para comprar a eleição de 2014" chegou a R$ 300 milhões. Joesley disse ainda que quando eram liberadas parcelas de financiamentos captados no banco de fomento, ele "creditava o valor da propina na conta do Guido na Suíça".

Ainda sobre propinas pagas ao PT, o dono da J&F reiterou o que relatou em sua delação e disse que a ex-presidente Dilma Rousseff pediu R$ 30 milhões para o atual governador de Minas Fernando Pimentel na eleição de 2014.

Em nota, a defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirma que as declarações de Joesley têm que ser entendidas no contexto de um empresário que "negocia o mais generoso acordo de delação premiada da história". Segundo a nota, Batista foi "incapaz de apontar qualquer ilegalidade cometida, conversada ou de conhecimento do ex-presidente Lula."

Após a divulgação da entrevista de Joesley Batista, a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) voltou a defender o impeachment do presidente Michel Temer. "A OAB fez uma análise técnico-jurídica e já concluiu pela necessidade de impeachment do presidente Michel Temer. Assim como no ano passado, quando a OAB pediu o impeachment de Dilma Rousseff, estão presentes, mais uma vez, os elementos que configuram crime de responsabilidade", diz nota assinada pelo presidente da entidade, Claudio Lamachia.