A preocupação do brasileiro com relação aos efeitos da crise americana é evidente. É hora de poupar, onde é possível investir e o que vai subir são perguntas frequentes.

O professor de Economia do ISAE/FGV Robson Gonçalves mostra, em entrevista excluisva à FOLHA, como podemos ser atingidos no dia-a-dia e faz um alerta sobre os pontos que devemos prestar mais atenção: ''se de fato houver um repique inflacionário, talvez o Banco Central seja obrigado a manter os juros mais altos por mais tempo e aí podemos ter uma desacelaração do mercado interno entre 2008 e 2009''.

A pergunta que todo mundo se faz hoje: até que ponto a crise norte-americana vai pesar no bolso do brasileiro?
Comprar carros, eletro-eletrônicos, com um número muito grande de parcelas como aconteceu até agora, deve ser evitado durante um bom tempo. Outro ponto um pouco incerto mas que deve acontecer, é na inflação. Se o dólar permanecer muito elevado do jeito que está, pode haver o encarecimento de vários itens na gôndola do supermercado, desde vinhos e azeites até trigo, arroz, café e açúcar.

Quem estava querendo comprar a casa própria, deve esperar?
O mercado imobiliário vai ser o menos atingido. Deve haver uma redução no número de lançamentos nos próximos meses, mas os que já foram feitos, as obras que já estão em andamento, não vão parar, nem acusar um golpe expressivo. Quem já entrou em um financiamento pode ficar tranquilo.

E o carro, segue a mesma tendência?
Quem consegue pagar um valor mais alto de prestação ou vai comprar à vista, não tem porque deixar de fazê-lo. Vai ser atingida aquela pessoa que só conseguia comprar o carro com um número grande de parcelas.

Quanto é considerado um número alto de prestações?
Não existe um número mágico. É escolha de cada um saber se a prestação cabe no salário. É lógico que o comprometimento excessivo de renda com endividamento é sempre ruim.

Qual a porcentagem máxima que uma família pode comprometer sua renda?
De novo, não existe um número mágico. Quem tem um bom nível de poupança pode encarar um comprometimento de renda mais alto. Quem tem renda mais alta também. Existe o bom senso de cada um dependendo do que já tem poupado, do patrimônio que já reuniu, dependendo da expectativa de permanecer empregado.

Existe algum tipo de investimento mais adequado para o momento?
Toda vez que se está numa época de incerteza muito grande, o que se recomenda é a renda fixa e não a renda variável. Quem acreditar que a Bolsa já caiu o suficiente e portanto é hora de comprar pode se enganar. Da mesma forma, quem tentar comprar dólar hoje em dia pode ser pego por uma redução nas próximas semanas.

Quem já possui algum tipo de contrato, como leasing, pode se assustar com o valor do reajuste das parcelas?
Todos os contratos que são atrelados ao IGP-M, por exemplo, tendem a ter um fator de correção muito forte quando o dólar sobe. Se essa alta não se reverter, todo aquele que tem dívida com correção por IGP-M deve se preparar para uma correção de parcela muito expressiva. Se por acaso o dólar voltar para próximo de R$ 2,00, esse efeito desaparece.

Qual é o panorama do dólar agora?
Em momentos muito críticos, o dólar sobe excessivamente e depois reflui. Quando o dólar chegou a R$ 4,00, em 2002, muita gente acreditava que iria continuar naquele nível e acabou caindo para R$ 1,60. Me parece que esse nível de R$ 2,40 não é sustentável. Deve ter um retorno para baixo nos próximos meses.

E com relação à balança comercial, podemos ficar mais otimistas?
Na região Norte do Paraná, por exemplo, os produtores estavam um pouco preocupados por conta da queda do preço da soja. A alta do dólar compensa isso. O produtor recebe menos dólares por saca de soja que exporta só que quando ele vai converter isso em reais, ele está recebendo mais reais. Essa combinação de preços menores em dólar e com a moeda norte-americana um pouco mais alta daqui há alguns meses, deve ser uma situação de maior conforto.

O clima de tranquilidade sobre o controle da inflação deve permanecer?
No momento que a inflação começar a subir, se começar a subir, o contágio pode ser mais expressivo em contenção de consumo em 2009. Como um alerta daqui para frente, olho na inflação brasileira.