Otimista, apegado à família e dependente da internet. Este é o perfil do universitário do século XXI, de acordo com uma pesquisa realizada pela Federação Internacional das Universidades Católicas (Fiuc) nos cinco continentes sobre diversos aspectos da vida de mais de 17 mil universitários.
O trabalho faz um levantamento global dos estudantes, permitindo obter diferentes análises comparativas por região ou modelo econômico, por exemplo. Conforme a pesquisa, na América Latina, o Brasil se difere bastante das nações vizinhas e apresenta mais semelhanças com outros países emergentes, como a Índia.
Com relação a suas atitudes no mundo e na sociedade, os pesquisados consideram a globalização como uma oportunidade, mas são críticos em relação a muitos de seus efeitos. Assim mesmo, tendem a ver a democracia como a melhor forma de governo, apesar de serem críticos sobre as formas que ela é exercida atualmente. Apesar disso, suas tendências em relação às formas de governo, à sociedade e à economia, são bastante liberais.
A socióloga e professora do Instituto Universitário Ortega y Gasset, da Espanha, Rosa Aparicio Gómez, responsável pela pesquisa, diz que a maioria dos pesquisados se mostra muito otimista com o futuro e vê na universidade um caminho seguro para o ingresso no mercado de trabalho.
Os entrevistados se declaram ainda muito próximos à família e também dispostos a formar as suas próprias famílias. Quanto à religião, há uma tendência à secularização até mesmo em países tradicionalmente católicos, como Portugal, Espanha e Itália. Outro ponto comum entre os pesquisados é a total desconfiança com relação à prática e às instituições políticas.
Rosa adianta que, embora algumas tendências já chamem a atenção, os dados ainda são preliminares e deverão ser avaliados com mais profundidade. A previsão é de que o estudo seja finalizado em meados de 2013.

FOLHA - Quais são os principais resultados e tendências levantados pela pesquisa?

ROSA APARICIO GÓMEZ - Observamos importantes diferenças entre continentes e subcontinentes, em parte, devido às diferentes tradições culturais e trajetórias históricas. É difícil, contudo, na situação atual da análise, dizer quais traços definiriam cada um. Como aspectos gerais, podemos citar que a família, os amigos e o parceiro aparecem como as referências mais importantes na vida dos universitários atuais.
Por outro lado, a maioria dos jovens mostra ter uma alta ideia de si mesmo e eles se sentem muito satisfeitos com suas vidas. Igualmente, manifestam um alto nível de confiança em suas possibilidades para alcançar suas metas no futuro, sendo que as principais consistem em conseguir um emprego bem remunerado e também montar uma família. O compromisso social, por sua vez, só aparece em uma minoria. De maneira geral, nota-se que eles mostram um alto nível de satisfação com os estudos que escolheram e com a vida que têm.
Na América Latina, o Brasil difere bastante dos demais países e apresenta mais semelhanças com países emergentes como a Índia. Quais são esses pontos?
Realmente há diferenças entre os universitários do Brasil e os dos outros países da América Latina. Aparentemente, os brasileiros se assemelham mais aos países como a Índia ou aos europeus ocidentais. Contudo, não foi feita uma análise detalhada ainda para poder pontuar quais são essas diferenças.

A corrupção é um fator importante no que diz respeito à desconfiança dos universitários em relação ao Estado?

Sim, a maioria dos universitários concorda que um dos principais problemas atuais dos políticos e dos governos é a corrupção. Neste aspecto, os brasileiros coincidem com o restante dos latino-americanos.
Os universitários do século XXI tendem a mostrar pouca confiança nos outros, com exceção de seu círculo mais próximo. A desconfiança se estende à maioria das instituições, sendo que a instituição política é a que mais causa esse sentimento. A política é a atividade que desperta menos interesse entre a maioria desses jovens.
Por que a confiança nos outros também é baixa? A pesquisa mostra que os africanos são menos individualistas. A que é creditada essa diferença?
Com relação à desconfiança nos outros, a pesquisa não nos proporciona dados para poder explicar o motivo. Contudo, não é estranho que os africanos sejam menos individualistas que os demais. O que explica essa diferença são as tradições culturais deles que parecem se manter nos jovens universitários.

O que leva os pesquisados a serem otimistas em relação ao mercado de trabalho? Qual é a realidade brasileira nesse aspecto?

Provavelmente, não se trata de uma confiança no mercado de trabalho, mas sim em suas capacidades pessoais. Eles acreditam que, independentemente da situação do mercado de trabalho, pode-se conseguir o que se quer se se confiar em suas próprias capacidades, se tiverem a formação adequada e se esforçarem por isso. Sobre a desconfiança na Ásia e na Europa com relação ao mercado de trabalho, não há dados analisados, somente podemos supor que os europeus estão envolvidos pelos conhecimento que têm dos efeitos que estão surtindo da crise daquele continente.

Qual é o papel da tecnologia na vida dos universitários?

A internet ocupa um lugar chave na vida dos universitários atuais. Certamente, eles dedicam o dobro de tempo dos estudos em navegação na internet. Praticamente todos têm perfil no Facebook ou outras redes sociais e se comunicam com amigos e com outras pessoas sobre tudo através desse meio, em detrimento das relações cara a cara.
Em alguns países da Ásia, por exemplo, se dedica muito tempo para entrar em programas como ''Second Life'' (ambiente virtual e tridimensional que simula em alguns aspectos a vida real) com a finalidade de experimentar distintas identidades ou de viver virtualmente experiências ou assumir identidades não alcançáveis na vida real.