Sem direito ao 'sono dos justos'
Tive um dia cheio de compromissos e obrigações a cumprir. Liguei a televisão, ciente de que tinha o direito de relaxar um pouco. Afinal, sou cumpridor dos meus deveres e queria, depois do merecido descanso, colocar a cabeça no travesseiro e ter o sono dos justos. E qual não foi a minha decepção, quando me dei conta de que à minha disposição, só tinha os canais básicos! Eu precisei alterar o meu plano de TV a cabo, pois para um aposentado, qualquer economia vale muitos pontos! Que inveja de certo político, que está passando os dias em certa penitenciária! Ele e alguns colegas tinham até sala de cinema privativa e vários títulos de filmes à disposição! Fiquei me perguntando qual a diferença entre nós dois? A resposta me pareceu óbvia! A maioria dos brasileiros comuns têm que ir à caça para sobreviver, trabalhando, ralando, pagando impostos abusivos e contando os centavos da carteira (se é que encontram alguns). Enquanto isso, existem outros brasileiros, que para se manterem no topo, garantindo seus supostos direitos, têm a facilidade de criar uma verdadeira "dança das cadeiras"! Não a conhecida brincadeira inocente, mas aquela em que as cadeiras são ocupadas pelos espertos, e ficam de fora aqueles que, pobres coitados, tentam fazer o certo! Com esses pensamentos em mente, chego à seguinte conclusão: hoje, realmente está difícil se ter o direito ao sono dos justos! Penso que o poder das "entrelinhas" forma o cidadão consciente.
MARCOS DOMINGUES DA SILVA (aposentado) – Londrina

Hinos esquecidos
Vou começar do menos mal para o pior, no que se refere ao hino da Proclamação da República e ao hino à Bandeira, com referência aos autores e compositores. Para surpresa, já esperada, houve um empate técnico entre educadores e educandos. Vamos ao resultado obtido: Hino da Proclamação da República: sabem que existe: 14%; nunca ouviram: 26%, coisas do passado (ignorância): 25%; existe este hino?: 35%. Continuando a pesquisa, agora, sobre o hino à Bandeira: lembram de algumas estrofes: 70%; os outros 30% nada sabem. Para quem não se lembra: hino à Proclamação: composição de Francisco Braga e hino à Bandeira: composição de Olavo Bilac.
LUIZ ALBERICO PUIOTTO (servidor público) - Cambé

Terra pelada
Quem lembra do maior garimpo a céu aberto do mundo, onde um formigueiro de gente procurava ouro? Serra Pelada parecia irreal assim como um dia provavelmente vai parecer irreal a nossa forma de explorar a terra. Durante o dia, as temperaturas queimam a terra. O vento assopra solto. As chuvas torrenciais levam a terra para os rios. A mecanização intensa da terra se justifica pelo aumento da população, mas a realidade mostra muito desperdício e falta de logística na distribuição de comida. As opções agrícolas são poucas. Sobra pouca palha depois das colheitas. O solo literalmente morre de fome. Somente material orgânico consegue devolver ao solo as propriedades físicas e químicas de forma adequada. Há muitos seres vivos na terra que não sobrevivem numa situação quase desértica. Dentro da agricultura, se cultivou um verdadeiro horror à vegetação nativa como mostrou a campanha da mudança do Código Florestal. Florestas nativas não remuneram. Fazer uma RPPN (Reserva Particular do Patrimônio Natural) é um demorado exercício burocrático que apenas beneficia, através do ICMS-Ecológico, um poder público pouco interessado na restauração ambiental. A letargia em prover melhorias ambientais significativas seria até uma forma de fazer muitos negócios com a essencial água que será disputada como o ouro em Serra Pelada. Por que chegamos a este ponto e por que não conseguimos, com tantos sinais claros, reagir? A forma futebolística de torcer cegamente para um ou outro time criou terríveis preconceitos. Questões históricas dividem e enfraquecem a sociedade. Terra ainda parece algo especulativo de se predar até onde dá para depois se iniciar num novo endereço, um novo garimpo. Mas as fronteiras agrícolas estão diminuindo. Ficou caro avançar sempre, caro combater tantas pragas e doenças, caro se manter na corrida tecnológica, caro dividir seus lucros com um gigantesco e invisível mercado de insumos. Os agricultores não têm costume de bater panelas e os tratoraços promovidos escondem muitas vezes algum interesse político ou econômico exclusivo. Assim como em Serra Pelada e tantos outros garimpos do mundo, a febre do ouro só cessa quando tudo tiver detonado e esgotado. Como em Serra Pelada sai gente lucrando, mas a maioria vive na ilusão e num grande sofrimento. Isso nos faz lembrar a história do rei Midas que tinha o dom, pelo toque, de transformar tudo em ouro. Uma hora o rei se arrependeu, pois ia morrer de fome. Cabe a nos fazer as contas, ver o que é essencial e olhar um pouco para os nossos antepassados, que tinham pouco, mas que em mutirões eram felizes.
DANIEL STEIDLE (educador ambiental) – Rolândia

■ As car­tas de­vem ter no má­xi­mo 700 ca­rac­te­res e vir acom­pa­nha­das de no­me com­ple­to, RG, en­de­re­ço, ci­da­de, te­le­fo­ne e pro­fis­são ou ocu­pa­ção. As opi­niões po­de­rão ser re­su­mi­das pe­lo jornal. E-­mail: opi­niao@fo­lha­de­lon­dri­na.com.br