O ofício do historiador
Dia desses, acordei pensando em tudo o que vem ocorrendo no Brasil e no mundo. Como tinha consulta com meu médico depois do almoço, resolvi caminhar até o consultório. Passei diante de uma construção, onde estavam reunidos, ao que me parece, um engenheiro, um arquiteto, um mestre de obras e outros dois pedreiros, discutindo, com uma planta na mão. Parei, ouvi a conversa e me intrometi. Dei alguns palpites, falei que eles estavam errados e que eu achava outras formas de se construir um edifício. Eles ficaram atônitos e, antes que pudessem retrucar, já estava na minha caminhada ao médico. Já no consultório, após alguns exames de rotinas, discordei dos conselhos do médico e me autoavaliei, afinal, eu me conhecia há mais tempo que ele. Acho que ele não ficou muito feliz, mas fazer o quê? Engenheiros, arquitetos, advogados e médicos. Muitos, com certeza, vão reclamar, dizer que um leigo não pode falar tais bobagens, que estudaram, etc. Agora, vocês devem imaginar o que se passa quando falam, com convicção, do ofício do historiador. Estudamos, sim estudamos o passado! Discutimos, escrevemos, pensamos. Fazemos bacharelado, especialização, mestrado, doutorado, pós-doutorado e, de repente, alguém do nada, "acha" que sabe do passado e que se pode discutir com a propriedade de um Facebook! Sim, pode-se achar o que quiser, tem toda a razão, afinal opinião é de cada um e devemos respeitar. Essa semana, o governo sancionou uma lei que deixa a disciplina de História, em particular, e as Ciências Humanas no geral, de escanteio! É triste perceber que os achismos da internet e os "especialistas" de coisa nenhuma vão escrever a nossa História daqui para frente.
REINALDO B. NISHIKAWA (historiador) – Londrina

‘Bolsa quadrilha’
Ninguém gosta de encosto. Muito menos os presidiários. Por isto, um preso do Mato Grosso do Sul decidiu pedir indenização por danos morais, devido à superlotação e demais condições precárias do seu presídio, que ferem a dignidade humana. Neste caminho, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que o referido estado deve ser responsabilizado por condições degradantes e efetuar o pagamento de indenização ao preso. Espero que realmente a justiça seja feita, mas que a mesma tenha sempre bom senso e respeite a sequência de prioridades e valores. Vamos conceder primeiro indenização às vítimas de assaltos (hoje com síndrome de pânico, etc.), bem como aos pais que tiveram filhos assassinados (hoje com depressão profunda, etc.), aos cidadãos que não podem circular nas ruas devido à greve da polícia, aos estudantes que frequentam escolas superlotadas e com falta de estrutura mínima de higiene, aos cidadãos que não têm acesso a planos de saúde e são vítimas das péssimas condições dos hospitais públicos, aos cidadãos que foram demitidos sem justa causa, devido à situação caótica do país. Sugiro que no lugar da "bolsa encosto" ou "bolsa quadrilha", concedida aos presos, o STF obrigue os Estados a construírem, com urgência urgentíssima, prisões onde os meliantes tenham que trabalhar, com bastante espaço, numa condição aeróbica mais digna.
AMARILDO PASINI (professor) – Londrina

Os gritos de Hitler
Quem assiste à minissérie sobre as experiências com seres humanos (judeus) que os nazistas promoveram na Segunda Guerra Mundial fica estarrecido e pensando: A que ponto pode chegar o ser humano?. Tão grande foi a barbárie perpetrada nos campos de concentração que, ao chegar em Auschwitz, o Papa Bento XVI, exclamou: "Aonde estava Deus?". Pois aqui no Brasil, cordial, faceiro, carnavalesco e do futebol, também se passou e continua um arremedo de Auschwitz e dos mais terríveis campos de concentração nazistas. Os mais jovens não viram nem, talvez, assistiram filmes ou a televisão mostrando os horrores dos privilegiados do Terceiro "Reich" no holocausto. Agora, assistem um interminável desfile de pessoas em filas procurando emprego; um formidável agrupamento de pessoas em hospitais, corredores repletos de doentes. Sem falar na fila da sopa noturna; nos "casebres" sem luz, sem água, sem nenhum conforto. E as favelas que existem em diversas cidades. Ah, exclamam, os sempre defensores dos malvados, mas não foi tudo obra do PT e seus aliados. Foi sim. Eles triplicaram, quadruplicaram, multiplicaram a pobreza e a miséria deste pobre País. Eles violaram as nossas consciências; tiraram a nossa dignidade; o nosso sono; a nossa esperança; violentaram nosso futuro. Perguntam ainda: por que, lembrar tudo isso? por que só falar de corrupção, de desgraças? Ora, quem dá o tapa esquece, mas quem leva, quem apanha, quem é humilhado, fica remoendo a dor. E como dói. Tudo lembra dos discursos de Hitler; dos seus gritos histéricos que não querem parar. Porém, a vida continua, tem que continuar. Pra frente Brasil! Vamos pro carnaval.
SERVIO BORGES DA SILVA (advogado) – Londrina

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