Foi Franklin Roosevelt, presidente dos Estados Unidos, quem se referiu ao temor do próprio medo, quando da grande depressão do país nos anos 30. Foi também ele quem declarou que ‘‘a falta de confiança é um veneno para o mercado’’. É isto que ocorre no mundo no momento. Essa fuga da confiança paralisou a circulação do dinheiro, e este é como o sangue que irriga o organismo. A moeda tem seus caprichos e vale não pelo seu volume mas pelo seu giro.
  Em todos os tempos (a não ser quando ocorreram emissões desordenadas), a quantidade de moeda em cada país – e por globalização em todo o mundo – foi sempre a mesma. Mas em certos períodos, por culpa de passos em falso da dinâmica financeira, ela circulou menos e, com a diminuição do fluxo, crises se instalaram. Como as economias sempre foram interdependentes (e o crack da Bolsa de Nova York provou isso no longínquo 1929), tempos de bonança ou de turbulência se propagam como os círculos formados em água mansa por uma simples pedrinha. Se a pedra for maior – como a quebra do banco norte-americano – então não ocorrem apenas pequenas ondulações mas tsunamis.
  Acontece agora que os próprios bancos têm desconfianças entre si, mesmo os poderosos. A bolha começa no mercado especulativo e logo se espraia pelo produtivo, então também os inocentes pagam. Falta de confiança tem origem no medo e converte-se em avassaladora realidade. Roosevelt – que iria tirar os EUA da depressão – conheceu esse fenômeno. É como estouro de boiada: se um boi dispara, pode gerar pânico em toda a manada, e aí leva tempo para segurar, com grandes estragos pelo caminho. Agora é preciso fazer o dinheiro fluir de novo, o que só ocorrerá pelo retorno gradativo da confiança num mercado desconfiado e pouco confiável – o da especulação e do sistema monetário volátil. De repente, ocorreu um freio nos empréstimos e financiamentos, ou seja, um torniquete no fluxo sanguíneo que move a economia. Fala-se do dinheiro, esse instrumento de troca que se converteu também em mercadoria. Um universo pecaminoso por natureza – o da especulação e da ganância, levando a aventuras e imprudências – agora paga pelos seus pecados. Mas leva de roldão também os pacatos e santos.
  Diz-se na linguagem corrente que o dinheiro sumiu, mas não é isto que acontece e sim que ele diminuiu a aceleração de sua corrida. No caso do Brasil, onde muitos já perderam muito e sem culpa, um caminho é os governos cortarem na gastança e no custo abusivo de sua manutenção, manter e mesmo aumentar os financiamentos produtivos, destacadamente para o setor rural e para os exportadores. Governos existem para atitudes heróicas em momentos decisivos e não apenas para gerir o que já anda sozinho. Não há crise que não se cure.