A pesquisa nuclear sempre foi considerada uma atividade representativa do progresso de um país, e, por outro lado, uma ameaça à segurança mundial dependendo de quem esteja avançando nessa área.

Houve um tempo em que Brasil e Argentina despontaram com estágio significativo no desenvolvimento da energia nuclear. Tal situação começou a incomodar e esses dois países resolveram assinar um acordo de cooperação pacífica para o uso da tecnologia nuclear, colocando um ponto final nas especulações que tanto incomodavam o sistema internacional na época.

É nesse panorama de desconfiança que se destaca, atualmente, o programa desenvolvido pelo governo da Coreia do Norte. Se não bastasse ser considerado um programa clandestino – desde 2003 a Coreia do Norte deixou de ser signatária do "Tratado de não proliferação de armas nucleares" –, começou a realizar inúmeros testes nucleares, desenvolver mísseis transcontinentais, e, mais recentemente, testar uma bomba de hidrogênio com elevado componente destrutivo.

Com esse poderio de destruição sob domínio, o governo norte-coreano passou a receber avisos, advertências e sanções de vários países que se sentem ameaçados diretamente, e, mais recentemente, o Conselho de Segurança da ONU – com resolução aprovada unanimemente – impôs severas sanções que devem causar redução no valor de suas exportações.

Até aqui, nada há de complexidade no transcurso das situações apresentadas. No entanto, nada parece ameaçar as intenções do governante norte-coreano uma vez que os testes continuam acontecendo em uma ordem crescente de desafios, tanto de impacto militar/bélico como de desrespeito às normas que regem as relações internacionais.

E é exatamente nas relações econômicas entre países que se inicia e se desenvolve a complexidade citada no tema. De um lado, o governo norte-americano expõe a sua temeridade e ameaça a Coreia do Norte com ações militares de impacto, porém, sente-se refreado pois é dependente do comércio com a China, que possui diversas empresas norte-americanas instaladas em seu território e destina essa produção ao próprio mercado das empresas matrizes; a China também ameaça a Coreia do Norte (foi signatária das sanções da ONU), mas também se refreia pois é dependente da produção norte-coreana de carvão e outras matérias primas, sem as quais não pode continuar produzindo com a mesma competitividade; a Coreia do Norte, faz as ameaças sob proteção não aparente da China, que lhe garante a sobrevivência econômica e de onde importa alimentos, armas e combustíveis, mantendo abertas essas relações comerciais sem perspectivas de mudanças.

Face à complexidade aqui relatada, é possível se afirmar, com algum grau de certeza, que as conquistas nucleares norte-coreanas continuarão seguindo, embora obedecendo certo grau de limite e de condições do Conselho de Segurança da ONU, e, os demais países continuarão suas relações econômicas internacionais no mesmo ritmo e nível com que a Guerra Fria se manteve na segunda metade do século XX. A humanidade espera que assim seja!

FRANCISCO AMÉRICO CASSANO é doutor em Ciências Sociais – concentração em Relações Internacionais, Professor Ajunto e Pesquisador do tema Relações e Negócios Internacionais na Universidade Presbiteriana Mackenzie em São Paulo