O HRNP ainda é o único hospital administrado por um Consórcio Intermunicipal de Saúde em todo o Estado; a unidade possui 73 leitos, sendo 10 de UTI neonatal
O HRNP ainda é o único hospital administrado por um Consórcio Intermunicipal de Saúde em todo o Estado; a unidade possui 73 leitos, sendo 10 de UTI neonatal | Foto: Luiz Guilherme Bannwart/Divulgação



Santo Antônio da Platina - A estadualização do Hospital Regional do Norte Pioneiro, confirmada pelo secretário estadual de Saúde Michele Caputo Neto no dia 30 de maio, reascendeu a discussão pela tão sonhada faculdade de Medicina na região. Autor da proposta que defendeu a instalação do Campus da Universidade Federal do Paraná (UFPR) em Santo Antônio da Platina ao longo dos últimos três anos, o professor e ex-vereador Aguinaldo Roberto do Carmo disse que sempre acreditou no projeto e, como avalia, agora está mais próximo de se tornar realidade.

Tudo começou em 2013 com uma grande mobilização que envolveu políticos, empresários, associações e lideranças comunitárias no objetivo de fazer com que Santo Antônio da Platina se tornasse sede para a faculdade de Medicina anunciada pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). O movimento ganhou repercussão regional, e fez com que mais duas cidades da região, Bandeirantes e Cornélio Procópio entrassem no páreo. No entanto, em 2014 o sonho começou a ficar mais distante após o governo federal anunciar a instalação da unidade em Toledo, no Oeste do Estado. O movimento perdeu força e a população se frustrou, Carmo, porém, não desanimou e disse que a decisão seria apenas a primeira etapa a superar na batalha pela conquista da universidade.

Para o professor, a estadualização do HRNP reabre as portas para a criação do curso de Medicina e, consequentemente, para o desenvolvimento socioeconômico no Norte Pioneiro. "Quando discutimos a criação da faculdade na região a visão é muito mais ampla, o foco é a qualidade de vida dos moradores. Temos um dos piores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) do Estado, e uma faculdade de Medicina em Santo Antônio da Platina pode transformar radicalmente essa realidade, seja essa instituição de ensino superior da esfera federal, estadual ou até mesmo uma instituição privada", pondera.

Aguinaldo do Carmo avalia que o momento é de unir forças novamente na luta pelo curso, entretanto, entende que a decisão é estritamente política. "Quando surgiu a confirmação da possibilidade real de Santo Antônio da Platina ganhar uma faculdade de medicina, a região toda se mobilizou e demonstrou a sua força. Uma comissão da UFPR visitou a cidade, e o parecer ao projeto foi favorável. No entanto, o que prevaleceu foi a decisão política e acabamos ficando fora da disputa. Por isso é que devemos cobrar dos nossos representantes: prefeito, vereadores, deputados estadual e federal e até mesmo do governador Beto Richa, pois mais uma vez será deles (a classe política) a decisão", adverte.

APOIO
O presidente da Associação dos Municípios do Norte Pioneiro (Amunorpi) Mario Augusto Pereira, prefeito de Ribeirão Claro, disse à FOLHA que a entidade sempre apoiou a iniciativa do professor Aguinaldo Roberto do Carmo, e que a discussão por uma faculdade de Medicina no Norte Pioneiro com a estadualização do Hospital Regional não deve se resumir tão somente aos interesses da UFPR (Universidade Federal do Paraná). "O professor Aguinaldo sempre terá o apoio da Amunorpi. Uma faculdade de Medicina na região é sinônimo de transformação na vida dos moradores e, com a estadualização do HRNP, Santo Antônio da Platina passa a ter todos os requisitos para pleitear uma universidade. Se a proposta com a UFPR não prosperou, devemos correr atrás de outros parceiros", defende Pereira.

ESTRUTURA
O Hospital Regional do Norte Pioneiro possui uma Unidade de Terapia Neonatal, um Centro de Hemodinâmica e concluiu recentemente as obras de uma UTI adulta que deve entrar em funcionamento nos próximos meses. Além do HRNP, o município conta ainda com a estrutura do Hospital Nossa Senhora da Saúde, uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) recém-construída pelo governo federal e oito Unidade Básicas de Saúde (UBS).

O que muda com a estadualização do HRNP
Santo Antônio da Platina - Com a estadualização do Hospital Regional do Norte Pioneiro, os municípios que integram a 19ª Regional de Saúde deixarão de desembolsar algo em torno de R$ 110 mil mensais para a manutenção da casa de saúde, recursos que poderão ser revertidos na Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) aos moradores, por exemplo.

A unidade administrada pelo Cisnorpi (Consórcio Intermunicipal de Saúde do Norte Pioneiro) passa a ser gerida pela Funeas (Fundação Estatal de Atenção em Saúde do Estado do Paraná) e receberá mais investimentos. O processo de transição já foi iniciado e a previsão para a conclusão é de 270 dias, segundo o secretário estadual de Saúde Michele Caputo Neto.

O Hospital Regional do Norte Pioneiro é o único administrado por um Consórcio Intermunicipal de Saúde em todo o Estado. A unidade possui 73 leitos, sendo 10 de UTI neonatal, 38 leitos obstétricos, 17 clínico-cirúrgicos e oito de pediatria para atendimento aos recém-nascidos.

Conforme o Cisnorpi, as negociações para o governo estadual assumir a gestão do HRNP tiveram início há cinco anos. No entanto, o acordo só foi possível em razão do equilíbrio nas finanças da entidade e o aumento na taxa de ocupação da estrutura em mais de 80%.

Em 2015, médicos, enfermeiros e servidores do HRNP cruzaram os braços em protesto pelo atraso no recebimento de salários, e, os prefeitos da Amunorpi (Associação dos Municípios do Norte Pioneiro) cogitaram a possibilidade real de o Hospital Regional fechar definitivamente suas portas. Além do atraso nos salários dos funcionários, havia dívidas com fornecedores e o rombo nas contas da entidade girava em torno de R$ 2 milhões.

Entretanto, nos últimos dois anos, o Cisnorpi conseguiu colocar as finanças em dia. A manutenção mensal é de aproximadamente R$ 1 milhão, sendo 90% do montante custeado pelo Estado.

'Estamos abertos a ouvir e dialogar sobre as demandas', diz diretor da UFPR

Londrina - Procurado pela FOLHA, o professor Helton José Alves, diretor de Apoio aos Campi Avançado da UFPR (Universidade Federal do Paraná), disse que no final do ano passado a universidade passou por uma consulta pública junto à comunidade da instituição para a definição da nova reitoria, que tomou posse em dezembro de 2016. Nesse processo, a nova administração não possui o histórico das demandas ocorridas nos anos anteriores, e destacou que a UFPR está aberta a ouvir os interesses das comunidades, solicitando que se manifestem para a instituição.

Ele ressaltou que não integrava o grupo administrativo anterior, mas lembrou que em 2015 a UFPR instalou curso de Medicina em Toledo, no oeste do Estado, a partir de discussões que foram realizadas entre 2013 e 2014. Alves citou ainda que em quatro dos cinco campi que a instituição possui fora de Curitiba foram implantados novos cursos e, devido à falta de repasses por parte do MEC (Ministério da Educação), não estão conseguindo atender às demandas para a contratação de professores, servidores e de recursos. Essas necessidades estão sendo levadas ao governo federal, mas não estão sendo atendidas. "No atual momento ainda não se fala em novas expansões da universidade. Precisamos garantir os compromissos que já foram assumidos", destacou.

Alves também disse ter conhecimento sobre a demanda do campi no Norte Pioneiro, porém, "eu não participava da gestão e não sei os motivos da discussão não ter ido adiante. Apesar do atual momento não ser propício, estamos abertos a ouvir essas demandas e dialogar sobre elas", reforçou.

Em reportagem publicada pela Folha Norte Pioneiro em 2014 (19/03/2014), os prefeitos das três, cidades que disputavam o novo campi da UFPR - Cornélio Procópio, Bandeirantes e Santo Antônio da Platina - cobravam respostas por parte do governo federal. Na época, a direção da Universidade Federal do Paraná (UFPR) disse, por meio de nota enviada por sua assessoria de imprensa, que o relatório sobre o projeto tinha sido encaminhado ao Ministério da Educação, a quem caberia a palavra final sobre o assunto. "Não há nada definido porque tudo depende de uma resposta do MEC, uma vez que envolve recursos desse ministério", dizia a nota. (Célia Guerra/Reportagem Local)