Congonhinhas - A cafeicultura, que já foi a maior geradora de empregos no campo, está passando por um processo de mecanização da colheita e contará cada vez menos com a mão de obra humana. Para o presidente da Cooperativa dos Produtores de Cafés Certificados e Especiais do Norte Pioneiro (Cocenp), Luiz Fernando de Andrade Leite, a mecanização é um processo irreversível, independente do tamanho da propriedade. "Não tem mais condições de se pensar a cafeicultura sem a mecanização; acabou a cafeicultura tradicional do jeito que a gente conhece", afirma.
Ele explica que embora seja evidente a falta de mão de obra para fazer a colheita de café, a mecanização tem uma série de vantagens em relação à colheita manual porque, além da rapidez, ainda representa uma economia de cerca de 60% no custo de produção. O presidente da Cocenp estima que atualmente cerca de 15% do café produzido na região já é colhido com máquinas e calcula que nos próximos anos este percentual será bem maior.
Uma colheitadeira faz o trabalho de 60 a 70 trabalhadores. Cada máquina custa pelo menos R$ 500 mil. Os pequenos produtores podem tanto alugar uma máquina para fazer a colheita ou comprar uma máquina em conjunto com outros produtores. Os maiores, por sua vez, podem comprar as máquinas de acordo com suas necessidades.

Falta operador
Mas a mecanização da colheita, mesmo sendo considerada como irreversível, também tem seus problemas. O principal deles é conseguir mão de obra especializada para operar as máquinas. A pessoa que vai fazer este trabalho precisa passar por um treinamento específico. Leite afirma que há dificuldade em encontrar operadores capacitados para as máquinas, apesar da boa remuneração oferecida pelo setor.
A atual safra de café no Estado do Paraná está em fase inicial de colheita. Até o momento, foram colhidas menos de 20% das 1,7 milhão de sacas previstas. O Norte Pioneiro responde por quase 70% da produção de café no Estado.
O café produzido no Norte Pioneiro é reconhecido internacionalmente e considerado um dos melhores cafés do mundo.
O presidente da Cocenp lembra que, embora já houve época em que o Paraná chegou a produzir 20 milhões de sacas por safra, o foco hoje está na qualidade do produto. "O mercado hoje exige um café rastreado e a certificação de qualidade passou a ser uma questão de sobrevivência para o produtor", afirma.
Segundo ele, a qualidade só é conseguida com a atenção do produtor em todas as etapas, a começar pelo plantio, passando pelos cuidados com o tratamento das lavouras, a colheita na hora certa e a secagem correta.

Cuidados na propriedade
O administrador Josuel Procópio de Oliveira cuida de uma propriedade de café com 20 hectares no município de Congonhinhas, onde a mecanização da colheita foi implantada há seis anos.
Oliveira atribui a falta de mão de obra à uma série de fatores, em especial pelas vantagens que as pessoas encontram em trabalhar na cidade. Entre algumas, ele cita que a colheita acontece sempre no inverno, que os trabalhadores se alimentam com a comida fria e que a colheita tradicional machuca as mãos.
O administrador diz que a atual safra de café foi um pouco prejudicada pelo excesso de calor no mês de novembro do ano passado e pelo excesso de chuva em junho, quando estava chegando a hora da colheita.
A máquina colhe entre 500 e 600 sacas de café em grão por dia. A previsão, segundo ele, é que sejam colhidas 900 sacas de café limpo.
Na propriedade administrada por Oliveira são tomados todos os cuidados para a produção de um café especial, inclusive na secagem que acontece em um "terreirão". Outra etapa do trabalho é a produção de sementes que vão gerar novas lavouras de café. Este trabalho consiste em separar grão por grão e é feito por várias pessoas. Oliveira diz que este trabalho não tem como ser mecanizado.