Ourinhos (SP) – Uma pergunta que não quer calar: 'o que teria provocado o primeiro grande acidente aéreo no Norte Pioneiro no final da década de 40?' Há anos, o piloto aposentado Fabiano Gracioli, de 67 anos, de Ourinhos (SP), tenta desvendar a misteriosa queda de avião DC-3, da Real Aerovias, que ocorreu em 1º de dezembro de 1949, entre Ribeirão Claro e Carlópolis. O incidente deixou 19 mortos e dois sobreviventes.
Passados 64 anos, as causas do acidente ainda não são conclusivas. Na ânsia de tentar esclarecer o caso, Gracioli visitou várias vezes a área em que a aeronave caiu, nas proximidades do "Morro do Avião", local em que o avião se chocou antes de cair e se incendiar, mas apenas destroços conseguiu recolher. Hoje, o local virou referência para radioamadores e turistas (leia mais nesta página).
Além das buscas na área, o ex-piloto busca informações de parentes das vítimas nas redes sociais e pesquisa todas que encontra. Reportagens da época questionaram o desastre, tentando encontrar as causas do acidente. Após a tragédia, a Real informou apenas que o piloto procurava um aeroporto alternativo, quando colidiu com o solo.
De acordo com Gracioli, o relato da aeromoça Sílvia Arlete de Moura, que morreu cinco horas após o acidente, é considerado o mais próximo da realidade. Ela disse que um dos motores falhou e a bússola ficou desorientada. "Embora o piloto fosse jovem, ele dominava muito bem a aeronave, uma das mais modernas e equipadas daquela época. O tempo chuvoso e a neblina que atingiam a região e os dois problemas a bordo devem ter contribuído para a queda do avião, adquirido nos Estados Unidos. Estamos tentando encontrar um equipamento, que hoje se assemelha a caixa preta, para tentar decifrar os códigos que ele armazena. Como o acidente ocorreu durante um pouso forçado, várias partes do avião se espalharam em um raio de cerca de 150 metros, dificultando a localização do equipamento (caixa preta) que poderia confirmar as causas", conta o ex-piloto.

Acidente
Gracioli apurou que o avião saiu do aeroporto de Congonhas, em São Paulo, por volta das 8h com destino ao aeroporto de Jacarezinho, no Norte Pioneiro. Depois de quatro horas de voo, o tempo chuvoso obrigou o comandante do avião, Carlos Alberto Pires da Rocha, de 23 anos, a pousar em Itapetininga (SP), onde o aparelho foi reabastecido e ficou esperando o tempo melhorar.
Atendendo solicitação da Real, Rocha decolou com o DC-3, com prefixo PP-YPM de Itapetininga, rumo a Jacarezinho, no início da tarde do mesmo dia. Por causa do mau tempo e de problemas com a bússola, teria sobrevoado Carlópolis, no Paraná, pensando que estava sobre a cidade paulista de Itaí, próximo à divisa de Estado. Quando o avião começou a falhar, o piloto tria tentado sem sucesso pousar a aeronave em uma área próxima ao Morro do Avião e ao tocar no solo, o avião 'capotou' e foi tomado por um incêndio que começou na parte dianteira da aeronave.
As primeiras equipes de socorro só chegaram ao local do acidente três horas após a queda. Os voluntários, moradores da região, tiveram que abrir um caminho na mata fechada e transportar feridos e mortos por 6 quilômetros a pé até onde era possível chegar com os veículos. Após resgate, os feridos foram encaminhados ao hospital de Ribeirão Claro.
Além da aeromoça Sílvia, o empresário platinense Antônio Machado não suportou os ferimentos e morreu a caminho do hospital. Lina Machado e seu filho, Eriberto Machado, de 5 anos, foram os únicos sobreviventes da tragédia. Eles residiram em Santo Antônio da Platina por alguns anos, mas depois se mudaram para Curitiba. Há cerca de 10 anos, mãe e filho faleceram. Segundo parentes, eles contaram que foi tudo muito rápido. "Os passageiros não tinham visibilidade quando o aparelho tentou pousar", revela Gracioli. No avião, viajavam empresários de Londrina, Arapongas, Cornélio Procópio e Jacarezinho.
Faleceram no acidente, o piloto Carlos Alberto Pires da Rocha, o copiloto José Valério Caveti, o radiotelegrafista João Fonseca, a aeromoça Sílvia Arlete Moura e os passageiros Pedro Farias, Walter Marconi, Guaraci Franco, Irineu Gonçalves de Jesus, Carlos Teixeira, Geraldo Magela Lobo, Gabriel Franco, João Rominelli, Antônio Macedo, Henrique Massaro, Álvaro Mota, Iralva Merlini, Antônio Machado, Teodomiro Ramos e Antônio Junior, de 6 meses de idade.

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-Morro é referência para radioamadores