O ex-presidente Jorge Videla, que governou a Argentina durante a última ditadura militar no país, recusou-se ontem a prestar declarações perante um juiz que investiga sua suposta participação no Plano Condor, uma operação montada pelos governos militares do Cone Sul para exterminar seus opositores, disseram fontes judiciais.
Videla, que cumpre pena de prisão domiciliar por outro processo relacionado com o roubo de bebês durante a ditadura (1976-1983), é suspeito de ter formado parte de uma associação ilícita que cometeu delitos de tortura, homicídio e desaparição forçada de pessoas.
O ex-general foi conduzido à presença do juiz federal Adolfo Canicoba Corral e, após negar-se a depor, voltou à sua residência. Por ter mais de 70 anos, Videla tem direito à prisão domiciliar.
Em 1985, Videla foi condenado à prisão perpétua por crimes de lesa humanidade cometidos durante seu regime. Mas em 1990 foi libertado por um indulto do então presidente Carlos Menem.
Como outros ex-repressores, Videla foi processado – e condenado em 1998 – por participação no roubo de bebês que nasceram em cativeiro enquanto suas mães permaneciam detidas em centros clandestinos do regime militar. Durante a ditadura dos militares, desapareceram na Argentina cerca de 9 mil pessoas, segundo um informe oficial.
O magistrado Canicoba Corral havia ordenado há dois meses o interrogatório de Videla, junto com uma ordem de detenção e um pedido de extradição do ex-ditador paraguaio Alfredo Stroessner e do ex-chefe da polícia secreta da ditadura chilena, general Manuel Contreras, acusados de envolvimento nos mesmos delitos relacionados com a Operação Condor.
Stroessner está no Brasil e seu advogado, Julio Villareal, apresentou-se perante o tribunal argentino para colocar-se à disposição do juiz. Contreras, por sua vez, cumpre pena de prisão domiciliar em seu país pelo sequestro e suposto homicídio de um gerente comunista de uma jazida de cobre. Em janeiro passado, deixou o cárcere depois de 7 anos por ter planejado em 1976 o assassinato do ex-chanceler chileno Orlando Letelier, em Washington.